FIFA DÁ VEXAME GLOBAL, MAS SHOW DEVE CONTINUAR
No que é possível fazer, a Fifa tem tentado tirar a graça do futebol jogado dentro das quatro linhas dos gramados da Copa do Mundo. Os juízes não tem sido orientados a coibir as jogadas violentas, mostraram-se incompetentes para marcar pênaltis flagrantes e conseguiram, com isso, até mesmo alterar resultados normais de partidas. A maior vítima da violência é, até agora, o craque brasileiro Neymar, que levou uma joelhada impune pelas costas que nem sequer mereceu a marcação de falta e, muito menos, uma advertência. Mas agora a entidade máxima do futebol pode ter-se enredado num dos maiores escândalos de sua história de escândalos.
O delegado que comanda as investigações pela Polícia no Rio de Janeiro informou ter recebido telefonema de responsável da Scotland Yard, a polícia da Inglaterra, com cumprimentos pelos resultados da Operação Jules Rimet. O porta-voz disse que a agência policial inglesa tinha pistas antigas sobre a ação da quadrilha, mas jamais conseguira reunir provas suficientes para efetuar prisões.
Com a prisão do sócio da Match Services Raymond Whelan, nesta segunda-feira 7, em pleno Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, subiu para 12 o número de presos pela polícia brasileira sob acusação de formarem uma quadrilha internacional para a venda ilegal de camarotes e ingressos vips. Até ali, o preso mais graúdo que caíra na rede das autoridades, por meio da Operação Jules Rimet, era o argelino Fofana Lamine, amigo de ex-jogadores como o ex-técnica da Seleção Brasileira Dunga. Ele foi preso na semana passada e, na ocasião, o promotor de investigações Marco Kac prometeu apresentar um “tubarão” que iria “abalar a estrutura da Fifa”. Ele adiantou que a entidade não está colaborando com as investigações.
Mesmo com o presidente da entidade, Joseph Blatter, procurando manter-se alheio ao fatos, a entidade sofreu um duro golpe com a prisão de Whelan, o tubarão prometido pelo xerife brasileiro. Na Match, credenciada e parceira da Fifa para a comercialização de camarotes nos estádios, distribuição de ingressos vips, realização de eventos e festas da entidade, Whelan é sócio de Phillipe Blatter, que vem ser sobrinho do chefão da entidade máxima do futebol. Antes dele, o filho do atual vice-presidente da Fifa, Julio Grondona, teve ingressos com seu nome gravado apreendidos nas mãos de cambistas da gang. Humberto Grondona teve de admitir que os repassara para um amigo, mas que não sabia qual o destino que seria dado a eles. As investigações prosseguem, e a versão pode não se sustentar. A Fifa, por seu lado, avisou que não abrirá qualquer procedimento para investigar o filho do homem que manda e desmanda no futebol argentino.
Agora, com a prisão do ‘tubarão’ da Match, o próprio Blatter vê um membro de sua família perto do epicentro do escândalo global. A suspeita das autoridades é de que a Match, como todo o acesso facilitado à cúpula da Fifa, vendia ingressos que não poderiam ser comercializados, lucrando alto com a burla. Em funcionamento, segundo as investigações, nas últimas quatro copas, o esquema renderia cerca de R$ 1 milhão por jogo – e mais de R$ 200 milhões, no todo, a cada Mundial. Todos os principais envolvidos têm estilo de vida nababesco.
A reeleição de Blatter está ameaçada pela capilaridade do escândalo. A Fifa tinha intenção de anunciar, ainda no Brasil, que a Copa de 2022 não se realizaria mais no Catar, exatamente em razão de denúncia de compra de votos de representantes da entidade a favor do país árabe. Mas, com a Operação Jules Rimet em pleno curso, não houve, digamos, clima para fazer a faxina em público. Somados, os dois escândalos mostram que a administração Blatter é um queijo suíço, tantas as perfurações de problemas graves.
Como dizem os americanos, porém, ‘o show tem de continuar’. Nesta terça-feira 8, em meio a uma Copa do Mundo, que encanta o planeta e, especialmente, aos turistas que vieram ao Brasil, a Seleção Brasileia entra em campo para enfrentar a da Alemanha. Será épico. Com a vitória, a equipe nacional terá passagem para ir ao Maracanã buscar o hexacampeonato no mítico estádio. Uma final, ainda por cima, que poderá se dar contra a Argentina, no que seria o maior tira-teima da história do esporte. De ponta a ponta, como já foi demonstrado, o Brasil estará em transe, ligado nos movimentos dos jogadores em campo.
Seja quem for o vitorioso e, mais tarde, o campeão do mundo, já se sabe quem é a grande derrotada da Copa do Mundo no Brasil: a Fifa com sua obscuridade administrativa, ligações perigosas e vexames de corrupção de dimensões globais.
Brasil 247