Sem categoria

Pobre JK!

Spread the love

Pobre JK
Angelo Cavalcante

Juscelino era atento, observador e político de diálogo; longe, bem longe, de ser extremista tinha posições claras.

Sem nunca perder a potência e a capacidade de fazer política tinha teses e crenças sobre o horizonte e as imensas possibilidades do Brasil e isso, é claro, incomodava.

Não por menos, o senhor Juscelino dialogava, sabia dialogar com comunistas profundos ao estilo de Luís Carlos Prestes, com trabalhistas sinceros como Vargas, Goulart ou Brizola ou com liberais sanguíneos como Carlos Lacerda ou Jânio Quadros.

Essa era justamente a força de Juscelino.

Pois sim…

…De tanto conversar, inclusive com esquerdistas, aliás, atributo e expediente dos mais notáveis políticos brasileiros, fora reiteradamente acusado por fração golpista de militares e ligada ao udenismo de estar se alinhando, se ajuntando, reparem bem, ao comunismo internacional.

Acusação estapafúrdia, absurda, mentirosa e que não encontrava suporte em qualquer episódio, evento ou ocasião.

Dessa desconfiança e que virou militância, um grupo de milicos criminosos ( aliás, estamos a ver que criminosos fardados perseguem o Brasil até aos nossos tristes dias ) e devidamente lotados na força da aeronáutica se insurgiram contra o combinado PSD/PTB e encabeçado pelo mesmo Juscelino Kubitschek e João Goulart.

Pois sim…

Para evitar a posse de JK/Goulart apartir das eleições de 1955 e com a clara e aberta intenção de criar focos orgânicos de oposição ao novo governo, além de tentar barrar represálias pela participação no ensaio de “intentona” de 11 de novembro de 1955, os golpistas, major Haroldo Veloso e o capitão José Chaves Lameirão, de maneira descabida e intempestiva, rebelaram-se contra o governo.

Não por menos… Em vôo saído do Campo dos Afonsos, (RJ), em 10 de fevereiro de 1956, os ditos usurparam a rota do vôo e rumaram para o aeroporto ou base aérea de Jacareacanga, no sul do Pará, onde, de forma teatral e bonapartista, desembarcaram e deram forma para espécie de quartel-general.

Pois bem, estava dada e conformada a assim descrita Revolta de Jacareacanga e que durou, demorou por precisos e exatos 19 dias.

Neste miúdo lapso de tempo, os “libertarios” oficiais revoltosos dominaram cidades como Santarém, Aragarças, Itaituba e Belterra e que se achavam relativamente próximas à base aérea.

O apoio popular recebido, não por menos, fortaleceu, animou e motivou a posição extremista dos milicos.

O governo até tentou conter a tentativa do golpe, mas algumas situações, de fato, impediram o avanço da necessária e imprescindível repressão.

A primeira e contraditória situação foi o envio do major Paulo Victor da Silva , lotado em Belém, para aplastar o levante. No entanto, no diálogo com os “irmãos de farda”, o major Paulo, reparem bem, fora convencido da necessidade do golpe, juntando-se, por conseguinte, a eles.

Não é impressionante?

E a segunda e espantosa situação foi a aberta recusa de vários oficiais em aderir à repressão por se tratar de militares e companheiros de farda.

O alto ou altíssimo corporativismo dos aeronautas só foi, digamos assim, “superado” em 29 de fevereiro de 1956, quando tropas e que se posicionavam a favor da legalidade e que possibilitou e consolidou a eleição de JK, conseguiram com energia e detenções, suprimir o movimento.

Bom…

Como equivocado e fatal gesto de boa intenção e de concórdia para com a política, as forças armadas e o Brasil, o senhor Juscelino anistia todos os golpistas e revoltosos e que, por bem pouco e, de novo, não afundaram o país em uma ditadura.

Resultado do “anistizaço” de Juscelino: todos, absolutamente todos, os envolvidos no criminoso levante de Jacareacanga, estavam, anos depois, alinhados, perfilados e armados no golpe de 1964; mais… esses indivíduos estavam diretamente envolvidos com a morte, a tortura, a prisão e o degredo de milhares e milhares de cidadãos brasileiros.

Foi assim!
E é isso que dá!

O senhor Juscelino foi preso, desnudado, humilhado e, em seguida, morto em muito, muitíssimo suspeito “acidente de trânsito”.

Pobre JK!

Angelo Cavalcante – Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.

Governo Juscelino Kubitschek (1956 – 1960) - Mundo Educação