“Não é revanchismo, mas aplicação da lei”, diz Jerry sobre julgamento de Bolsonaro
“Não é revanchismo, mas aplicação da lei”, diz Jerry sobre julgamento de Bolsonaro
Deputado defende que a responsabilização de Jair Bolsonaro é “reparo histórico” e reforça que ex-presidente teve papel central na tentativa de golpe de Estado.
Publicado pelo Portal Vermelho
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O deputado federal Márcio Jerry (PCdoB-MA) afirmou que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por incitar atos golpistas após derrota presidencial não se trata de uma questão de revanchismo, mas de um “reparo histórico mediante a aplicação da lei”. A declaração foi feita durante entrevista ao portal Brasil 247 em meio ao avanço das investigações sobre os atos de 8 de janeiro e outras ações ligadas ao bolsonarismo.
“Nós vamos ter nos próximos dias cenas de muito enfrentamento, de debates, das chamadas disputas de narrativas tão comuns atualmente. Então, eu acho que não dá para o nosso campo político, e não só o campo da esquerda, veja, não é uma questão do campo da esquerda, é uma questão de todos os que têm uma atuação estruturada em torno da democracia”, afirmou Jerry.
O parlamentar reforçou que Bolsonaro teve papel central nos eventos que levaram à tentativa de golpe de Estado e citou episódios anteriores ao 8 de janeiro. “O Bolsonaro, quando foi militar, desonrou a farda do Exército, lembremos todos. E, como presidente da República, desonrou a Presidência, que é uma instituição que devemos sempre respeitar. O Bolsonaro sequer ficou para cumprir o ritual de passagem do cargo. Ele foi para os Estados Unidos antes de cumprir o mandato, enquanto os seus seguidores levavam a cabo essa tentativa de golpe”, disse.
Márcio Jerry destacou ainda que os eventos do dia da destruição da Praça dos Três Poderes foram parte de um processo contínuo. “Os eventos do dia 8, não é que ali havia em si a prática de um golpe, era um capítulo a mais de uma tentativa de golpe, que era um processo. Vamos lembrar do que houve no Natal de 22, no aeroporto de Brasília: tentaram tocar fogo num caminhão de combustível, que teria provocado uma mortandade ali, uma coisa absurda. Vamos lembrar que quando foi a diplomação do presidente Lula, houve tentativa de invasão da sede da Polícia Federal. Teve, no estado de São Paulo, interdição de rodovias, os bolsonaristas continuavam acampados na porta dos quartéis”, pontuou.
O deputado também mencionou o envolvimento de autoridades nos atos antidemocráticos. “Como já vimos hoje, robustamente demonstrado nos inquéritos, o envolvimento de muita gente graúda da República com essa tentativa de golpe. Então ali era uma cena dentro desse enredo maior, de tentar um golpe. Precisava que aquele pessoal cometesse aqueles atos absurdos de depredação dos prédios dos Três Poderes do país. Então não dá realmente para relativizar, não dá para tirar a responsabilidade do Bolsonaro. Bolsonaro foi o maestro de uma tentativa de golpe. Ele tem que ser encarado assim, e vai ser julgado assim, e tenho a convicção de que será punido por esse crime também”, declarou.
Jerry também criticou a influência de fake news no bolsonarismo e sua imprevisibilidade. “O bolsonarismo é uma anormalidade, porque é movido por uma irracionalidade, mobilizada por fake news. Não é demais lembrar, até me faz rir, que muitos bolsonaristas são até hoje terraplanistas. Então o pessoal é muito movido, mobilizado por fake news, por um fundamentalismo sabe-se lá proveniente de quê. Então não dá para prever qual será o comportamento”, afirmou.
O parlamentar também comentou as movimentações de Bolsonaro para obter apoio à anistia dos envolvidos no 8 de janeiro. “Bolsonaro agora tenta intensificar articulações para conseguir apoio à anistia daqueles que participaram da tentativa de golpe. Isso mostra a estratégia do bolsonarismo de tentar apagar a gravidade do que ocorreu e minimizar a responsabilidade de seus aliados. Mas não há como apagar os fatos, os inquéritos mostram a responsabilidade direta do ex-presidente e de sua base política nesses atos”, ressaltou Jerry.
Na mesma entrevista, o parlamentar reforçou que a responsabilização de Bolsonaro é essencial para a credibilidade do sistema de justiça. “A caracterização geral do que houve no 8 de janeiro, acho que há uma ampla convergência para o entendimento de que não é um ato isolado. Ali é mais um fato de outros tantos que ensaiavam, criavam o ambiente para que houvesse um golpe de Estado no Brasil, para ter uma ditadura em nosso país. Vejam que nos autos já constam que tentavam assassinar o presidente Lula, assassinar o ministro Alexandre de Moraes. É algo tão absurdo, que às vezes a gente pensa que é ficcional, e não é. Está lá, tem depoimentos que mostram isso”, concluiu.