Após semana tensa, Hamas e Israel mantêm trégua e trocam prisioneiros
Após semana tensa, Hamas e Israel mantêm trégua e trocam prisioneiros
Acordo evitou colapso da trégua, libertando 369 palestinos e 3 israelenses, mas Trump e setores da extrema direita pedem retomada da ofensiva.
Publicado pelo Portal Vermelho
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Após dias de incerteza e ameaças de rompimento da trégua, Israel e Hamas concluíram neste sábado (15) a sexta troca de prisioneiros desde o início do cessar-fogo em Gaza, no dia 19 de janeiro. O acordo, mediado por Catar e Egito, resultou na libertação de 369 palestinos detidos em prisões israelenses e três reféns israelenses que estavam sob custódia do Hamas.
A libertação dos prisioneiros palestinos foi realizada ao longo da manhã deste sábado, com ônibus transportando os detidos para diferentes localidades, incluindo a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.
Entre os libertados, estão pessoas que estavam presas sem julgamento ou condenação, além de militantes e ativistas políticos. Muitos chegaram debilitados, necessitando de atendimento médico imediato, o que gerou protestos contra as condições das prisões israelenses.
Na cidade de Ramallah, multidões se reuniram para receber os libertados, enquanto autoridades palestinas reiteraram a necessidade de um cessar-fogo permanente e o fim das detenções arbitrárias.
Por outro lado, os três reféns israelenses libertados pelo Hamas foram entregues à Cruz Vermelha em Khan Younis e transportados para Israel. Entre eles estavam Sagui Dekel-Chen, cidadão americano-israelense, Alexandre Sasha Troufanov, russo-israelense, e Iair Horn, israelense-argentino.
A libertação ocorre em meio a tensões crescentes dentro de Israel, onde setores da sociedade exigem o retorno dos mais de 70 reféns que ainda permanecem sob poder do Hamas.
Trump pressiona Netanyahu por retomada dos combates
Antes da libertação dos prisioneiros, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a pressionar Israel a retomar os ataques contra Gaza. Nesta sexta (14), ao dizer que não saberia se o acordo se manteria em pé no dia seguinte, o líder da extrema direita afirmou que no lugar de Israel, ele tomaria uma postura dura caso todos os israelenses não fossem libertados.
“Não sei o que vai acontecer amanhã às 12 horas. Se dependesse de mim, eu tomaria uma posição muito dura. Não posso dizer o que Israel vai fazer”, afirmou Trump a repórteres dentro do Salão Oval.
Durante a semana, Trump declarou que ele apoiaria a suspensão do acordo e permitiria que “o inferno se instalasse” sobre o território palestino. O Hamas respondeu afirmando que as ameaças do presidente americano não teriam impacto sobre suas decisões e reforçou que qualquer nova fase do acordo dependeria da retirada progressiva das tropas israelenses.
A postura de Trump tem alimentado divisões dentro do governo israelense. Enquanto o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu equilibra-se entre a continuidade da trégua e as pressões políticas internas, setores da extrema direita, como o ex-ministro Itamar Ben-Gvir, defendem o rompimento imediato do cessar-fogo e a retomada dos ataques.
Condições dos prisioneiros palestinos e a crise humanitária
Antes de serem libertados, os prisioneiros palestinos foram forçados pelas autoridades israelenses a vestir camisetas com a Estrela de Davi e a frase em árabe: “Não esqueceremos nem perdoaremos”. A medida, amplamente vista como um ato de humilhação pública, reforça o caráter punitivo e vingativo da ocupação israelense sobre os palestinos, mesmo em momentos de aparente concessão.
Fotos divulgadas mostraram os prisioneiros em posições degradantes, evidenciando o sadismo das autoridades penitenciárias israelenses. Muitos dos detidos já haviam relatado torturas, espancamentos e privação extrema dentro das prisões israelenses, e sua libertação foi acompanhada por mais um gesto simbólico de dominação e revanchismo.
A libertação dos 369 palestinos trouxe à tona denúncias sobre as condições de encarceramento nos presídios israelenses. Muitos dos detidos estavam presos sem acusação formal, em um sistema de “detenção administrativa” que permite a Israel manter palestinos encarcerados por tempo indeterminado sem julgamento. Relatos apontam para maus-tratos, desnutrição e falta de assistência médica adequada nas unidades prisionais.
Entre os libertados, destaca-se Ahmed Barghouti, ex-integrante da resistência palestina e aliado de Marwan Barghouti, considerado um dos líderes políticos mais influentes da Palestina. Organizações de direitos humanos alertam que a situação dos prisioneiros palestinos reflete um padrão sistemático de repressão e criminalização da luta palestina.
Extrema direita israelense pressiona por novas ofensivas
Enquanto a troca de prisioneiros avança, líderes da extrema direita israelense continuam a pressionar Netanyahu pelo fim da trégua. Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, atul ministro das Finanças de Israel, figuras-chave da coalizão governista, argumentam que a libertação de palestinos fortalece o Hamas e enfraquece Israel. O temor desses setores é que a trégua possa se estender e abrir caminho para negociações mais amplas, incluindo concessões territoriais.
Em Tel Aviv, grupos nacionalistas realizaram protestos exigindo uma resposta militar mais dura contra Gaza. Ao mesmo tempo, familiares dos reféns ainda mantidos em cativeiro pedem que Netanyahu priorize novas negociações para garantir a libertação total dos sequestrados.
A atual fase do cessar-fogo tem validade até 1º de março, e as partes já indicaram que novas rodadas de negociação serão necessárias para avançar no retorno de reféns e prisioneiros. No entanto, com a escalada de pressões políticas e a imprevisibilidade do governo de Israel, o futuro do acordo segue incerto.