Governo lamenta massacre em assentamento e aciona PF para investigar ataque
Governo lamenta massacre em assentamento e aciona PF para investigar ataque
Com dois mortos, ataque em Tremembé levanta debate sobre o papel de milícias armadas em disputas fundiárias. Liderança do MST morreu “com muitos tiros na cabeça”
Publicado pelo Portal Vermelho
Duas pessoas morreram e seis ficaram feridas após cerca de 10 homens armados abrirem fogo, na noite desta sexta (10), contra um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em Tremembé, no Vale do Paraíba (São Paulo).
O MST afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ligou neste sábado (11) para expressar solidariedade pelos mortos no ataque.
De acordo com o MST, o assentamento Olga Benário enfrenta uma intensa disputa com a especulação imobiliária voltada para o turismo de lazer, devido à sua localização estratégica na região do Vale do Paraíba. Há anos, as famílias assentadas vêm sofrendo ameaças e constantes coerções.
O crime aconteceu por volta das 23h na Estrada Kanegae, segundo o boletim de ocorrência. Testemunhas relataram que cinco carros e três motos invadiram o local e os ocupantes efetuaram diversos disparos contra os moradores.
As vítimas fatais foram identificadas como Valdir do Nascimento de Jesus, de 52 anos, conhecido como Valdirzão, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos. Apesar de uma nota inicial do MST anunciar a morte de Denis Carvalho, fontes do movimento confirmaram que ele está em coma induzido, com fragmentos de bala no crânio, e em estado gravíssimo.
Os demais feridos passaram por cirurgias e não correm risco de vida, segundo essas fontes. Uma mulher permanece internada em estado grave, conforme o delegado Daniel Lourenço Von Gal, da Seccional da Polícia Civil de Taubaté.
O dirigente nacional dos sem terra, Gilmar Mauro, afirmou que o atentado foi feito por uma “milícia com arsenal armamentista muito forte”.
“As famílias estavam lá para impedir a entrada dessa milicia, mas foram abordadas com um arsenal armamentista muito grande, por sorte não morreu mais gente”, afirmou Mauro em vídeo postado nas redes sociais do MST.
“Essa é uma região de muitos assentamentos próximos às zonas urbanas e, portanto, motivo de sanha do capital imobiliário local, com objetivo de transformar os assentamentos em áreas de condomínios e de especulação imobiliária. Obviamente, há utilização de forças das milícias para fazer a execução e o massacre que fizeram ontem no assentamento”, disse ainda o dirigente.
MST perde militante histórico e movimento denuncia insegurança na região
Gilmar Mauro afirmou que Valdirzão, como era conhecido Valdir Nascimento, foi morto “com muitos tiros na cabeça”. “O que prova que esse grupo foi lá para aniquilá-lo”.
“Valdir era uma referência no combate à venda de lotes”, diz Mauro. Ele se refere aos casos em que terras do MST, com ocupação autorizada pelo governo para cidadãos específicos, são vendidas ilegalmente a terceiros.
“Ele era um militante histórico do MST”, diz Sabrina Diniz, superintendente do Incra e amiga de Valdirzão.
“Aceitei o cargo na Incra porque ele me convenceu ser necessário. Havia muitas invasões nos assentamentos, especialmente desde 2021 por grupos de milicianos, com apoio de vereadores e conivência de policiais.”
Valdirzão participou das primeiras ocupações de terra do Vale do Paraíba e da conquista dos seis assentamentos da região.
Em nota, o MST criticou a falta de políticas públicas para garantir a segurança dos assentados.
“Essa é mais uma face dos conflitos de terras no estado de São Paulo. A ausência de políticas públicas efetivas por parte do governo paulista deixa os territórios de Reforma Agrária vulneráveis e as famílias assentadas desprotegidas, reforçando um cenário de insegurança e violência”, denuncia o MST.
O movimento exigiu que as autoridades concluam o processo de regularização fundiária do assentamento.
“Os assentamentos de Reforma Agrária não podem ser abandonados à própria sorte. É imprescindível que a política de regularização fundiária atenda aos verdadeiros herdeiros da terra e aos trabalhadores camponeses, garantindo seus direitos e evitando que oportunistas se aproveitem desses territórios para promover ameaças e colocar em risco a segurança das famílias assentadas”, conclui a nota.
Lula destaca equipe da PF para acompanhar caso e Civil (SP) prende primeiro suspeito
O perfil oficial do MST no X (antigo Twitter) informou que Lula declarou que a “Presidência da República acompanhará o caso”. O chefe do Executivo teria afirmado que, “assim que puder viajar de avião”, irá ao local, que fica a cerca de 150 km da capital paulista.
Pouco tempo depois da publicação, o ministério da Justiça informou que determinou a instauração de um inquérito para investigar o ataque ao assentamento.
A pasta afirmou que uma equipe da PF, composta por agentes, perito e papiloscopista, se deslocou ao local do ataque para iniciar as investigações.
Enquanto isso, a Polícia Civil de São Paulo afirma que prendeu o primeiro suspeito, tido como o mentor intelectual do crime.
O detido é conhecido como “Nero do Piseiro” e já tinha passagem por porte ilegal de arma de fogo. Segundo a polícia, ele foi reconhecido por testemunhas que viram os criminosos chegando ao local em carros e motos e momentos depois atiraram.