Trabalhadores reivindicam nas redes e nas ruas qualidade de vida e fim da escala 6×1
Trabalhadores reivindicam nas redes e nas ruas qualidade de vida e fim da escala 6×1
A deputada Alice Portugal e o sindicalista Márcio Ayer debatem a atualização mobilizada nas redes sociais em torno da pauta da redução da jornada de trabalho
Publicado pelo Portal Vermelho
O debate sobre a redução da jornada de trabalho no Brasil ganhou novo fôlego com o fortalecimento do movimento contra a escala 6×1, que mobilizou trabalhadores em atos realizados em diversas cidades do país no último dia 15 de novembro. O movimento, impulsionado por redes sociais e liderado por sindicatos e organizações trabalhistas, busca a redução da carga semanal de 44 para 36 horas, sem redução salarial, por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) em tramitação na Câmara dos Deputados.
O programa Entrelinhas Vermelhas recebeu, para debater o tema, o presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Márcio Ayer, e a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), coautora da PEC, que atualizaram os avanços e desafios dessa luta.
Assista a íntegra das entrevistas:
A realidade da escala 6×1
A escala 6×1, comum em setores como comércio e serviços, obriga o trabalhador a cumprir seis dias consecutivos de trabalho para apenas um de descanso. Para muitas categorias, essa prática tem levado a jornadas que ultrapassam 60 horas semanais, somando horas extras e bancos de horas.
“Essa escala compromete a saúde física e mental dos trabalhadores. Muitos passam semanas sem um dia de folga efetiva, o que é um atentado contra a dignidade humana”, declarou Márcio Ayer, presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, em entrevista ao programa Entrelinhas Vermelhas. Ele destacou que a prática é ilegal em diversos casos e incompatível com uma vida equilibrada.
Um movimento com raízes históricas e força contemporânea
Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), coautora da PEC que propõe a redução da jornada, o movimento resgata bandeiras históricas dos trabalhadores. “Desde os movimentos operários do século XX, a luta por menos horas de trabalho sempre esteve no centro das reivindicações. Agora, com a força das redes sociais, esse clamor ganhou uma nova roupagem e está mobilizando uma nova geração”, afirmou.
Ela também apontou experiências internacionais bem-sucedidas em países como Alemanha, Islândia e Bélgica, onde a redução da jornada resultou em maior produtividade e qualidade de vida.
Desafios no Congresso e resistência empresarial
Apesar do apoio popular, a proposta enfrenta resistência de setores empresariais. Entidades como a Confederação Nacional do Comércio (CNC) argumentam que a redução da jornada pode aumentar os custos operacionais e comprometer a competitividade das empresas.
Para Márcio Ayer, esse discurso é antiquado. “Os empresários sempre alegam que garantir direitos vai destruir a economia. Disseram isso quando o descanso semanal remunerado foi instituído e quando o 13º salário foi aprovado. Hoje, esses direitos são fundamentais. Reduzir a jornada não é custo, é investimento no trabalhador e no futuro do país”, rebateu.
Alice Portugal reforçou a importância de pressionar o Parlamento: “A mobilização social será decisiva. Precisamos desmistificar os argumentos falaciosos que tentam frear essa conquista.”
Mobilizações e próximos passos
Além da tramitação da PEC, lideranças sindicais e trabalhistas preparam uma grande audiência pública em Brasília, na próxima semana, para debater o tema com parlamentares e especialistas.
“Nossa luta não é só pela redução da jornada, mas por uma mudança cultural que valorize o trabalhador e seu direito ao lazer, à família e ao descanso. É uma batalha histórica que só será vencida com a união da sociedade”, concluiu Márcio Ayer.
Com as mobilizações nas ruas e a crescente pressão popular, o movimento pelo fim da escala 6×1 tem potencial para se tornar um marco na luta por direitos trabalhistas no Brasil. O desafio agora é transformar a força das redes sociais e dos atos em conquistas concretas no Congresso Nacional.