Pesquisa estima que 17 milhões de brasileiras já foram ameaçadas de morte por parceiros
Pesquisa estima que 17 milhões de brasileiras já foram ameaçadas de morte por parceiros
Estudo também aponta que 44% das mulheres sentiram muito medo de serem mortas quando sofreram ameaça; o mesmo percentual vê o machismo como principal razão para o feminicídio
Publicado pelo Portal Vermelho
Duas a cada dez mulheres já foram ameaçadas de morte por seus companheiros ou ex no Brasil. Projetando essa relação para a população, é possível estimar que o número corresponda a 17 milhões de brasileiras. A situação é ainda pior para as negras: se 21% do total disseram ter sofrido esse tipo de violência, entre elas o índice vai a 26%.
As informações compõem a pesquisa “Medo, ameaça e risco: percepções e vivências das mulheres sobre violência doméstica e feminicídio”, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Consulting do Brasil, com o apoio do Ministério das Mulheres. A pesquisa foi feita por meio de questionário online com 1.353 mulheres entre os dias 23 e 30 de outubro de 2024.
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A data escolhida para a divulgação, 25 de novembro, é dedicada ao Dia Internacional Pela Eliminação da Violência Contra a Mulher. De acordo com o levantamento, 18% afirmaram que já foram ameaçadas de morte por algum/ex-parceiro ou namorado; e 3% já sofreram ameaças de mais de um parceiro/namorado. Considerando o recorte por raça/cor, enquanto a incidência em mulheres brancas foi de 16%, no grupo de mulheres negras foi de 26%.
Além disso, 44% das mulheres disseram ter sentido muito medo de serem mortas quando passaram por essa situação, sendo que 37% denunciaram à polícia. Outro ponto revelado é que quase o dobro das mulheres pretas terminaram mais o relacionamento (19%) em relação às mulheres brancas (10%).
Também é grande a diferença entre as que denunciam ou não à polícia, quando feito o recorte racial: 6% das mulheres brancas, quando ameaçadas, levam o fato às autoridades, ao passo que 13% das mulheres pretas fazem o mesmo. Tal correlação se mantém quando o foco são os pedidos de medidas protetivas, de maneira que o dobro das mulheres pretas (6%) solicitam esse direito, na comparação com as brancas (3%).
A situação retratada se confirma entre as entrevistadas que admitem conhecer ao menos uma mulher que já foi ameaçada de morte pelo atual ou antigo parceiro ou namorado — elas somam 61% do total.
Conforme os dados levantados, 64% das entrevistadas procuraram a polícia quando ficaram sabendo sobre a situação de ameaça de uma mulher por seu parceiro atual ou ex. Em média, apenas 6% delas disseram não se envolver.
Dependência e medo
A pesquisa também aferiu o motivo que leva mulheres a permanecerem em relações violentas. A maioria, 64%, alegaram dependência econômica em relação ao agressor e 61% sinalizaram acreditar que ele se arrependeu e vai mudar. O medo de ser morta caso a relação termine corresponde a 58%.
Considerando o medo de maneira geral, o sentimento está presente em média em 46% das respostas relativas à razão que as levam a manter o relacionamento.
Ao se debruçar sobre o feminicídio, a pesquisa aponta outro dado grave: cerca de nove em cada 10 mulheres (89%) acreditam que os casos de feminicídio íntimo acontecem por motivo de ciúmes e possessividade dos parceiros/namorados que se acham donos das mulheres. E a cultura machista é apontada por 44% como motivo para o feminicídio íntimo.
Pouco menos da metade das mulheres (44,5%) acredita que, em qualquer momento, seja quando ela conta para família/amigos que está sendo ameaçada; quando ela decide terminar a relação ou quando ela denuncia para a polícia e pede a medida protetiva, a mulher corre maior risco de ser morta pelo atual/ex-parceiro.
Outro dado levantado é que sete em cada 10 entrevistadas concordam que as mulheres ameaçadas não acreditam que podem ser assassinadas e, para 85% das entrevistadas, terminar a relação é a melhor forma de acabar com o ciclo da violência doméstica e evitar o feminicídio.
A pesquisa também mostrou que é alta a sensação de impunidade e descrédito sobre a efetividade das leis e políticas públicas: duas em cada três mulheres acham que nada acontece com homens que cometem violência doméstica. Apenas 20% das mulheres acreditam que homens que cometem violência são presos.