Frente a frente com Moraes, Mauro Cid faz novas revelações e se salva da prisão
Frente a frente com Moraes, Mauro Cid faz novas revelações e se salva da prisão
Durante depoimento de quase três horas ao ministro do STF, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro voltou atrás e disse ter tido conhecimento do plano de golpe que previa as mortes do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do próprio magistrado
Publicado pelo site do PT
Nesta quinta-feira (21), mesmo dia em que Jair Bolsonaro e outros 36 golpistas foram indiciados pela Polícia Federal, o ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid ficou frente a frente com o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no segundo depoimento prestado nesta semana.
O depoimento do tenente-coronel dividiu as atenções do país com o anúncio do indiciamento de Bolsonaro, do general Braga Netto e outros criminosos, enquadrados nos crimes de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de Direito e organização criminosa. A lista completa dos indiciados foi divulgada pela PF. As penas podem chegar a 28 anos de prisão
Após quase três horas de depoimento, Moraes considerou que o militar esclareceu omissões e contradições apontadas pelos investigadores em relação ao depoimento prestado na terça-feira (19). “As informações do colaborador seguem sob apuração das autoridades competentes”, informou a nota do gabinete de Moraes.
Plano assassino
Cid foi questionado sobre os motivos de, no depoimento anterior, não ter falado com os investigadores da PF sobre o plano intitulado ‘Punhal Verde e Amarelo’, elaborado pelo general da reserva Mário Fernandes, preso na operação Contragolpe, terça-feira (19). Impresso no Palácio do Planalto e levado a Bolsonaro no Palácio da Alvorada, o plano previa o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do próprio Alexandre de Moraes no dia 15 de dezembro de 2022. Além do general, foram presos outros três militares do Exército e um policial federal. No depoimento, cid mudou a versão e disse que conhecia a trama golpista.
Em razão das contradições do depoimento anterior, Cid correu o risco de perder os benefícios da delação premiada e até de voltar para a cadeia, já que para PF ele descumpriu os termos do acordo e dificultou as investigações. O depoimento de hoje foi acompanhado, por videoconferência, pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.
A Operação Contragolpe foi deflagrada após a PF recuperar novos dados e informações em dispositivos eletrônicos de Cid que haviam sido deletados pelo militar. O conteúdo inclui conversas sobre as estratégias para a execução dos assassinatos e posterior golpe de Estado. Os investigadores descobriram que houve uma reunião para discutir o plano golpista na casa do general Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice de Bolsonaro nas eleições de 2022.
Leia mais: Senadores do PT pedem punição exemplar após PF indiciar Bolsonaro e outros golpistas
Pressão para uso das Forças Armadas
Entre as mensagens que os investigadores da PF conseguiram recuperar nos equipamentos eletrônicos de Mauro Cid, numa delas ele aparece falando que Bolsonaro estaria sendo pressionado por deputados e parte do agronegócio para “tomar uma medida mais pesada utilizando as Forças Armadas”, publicou o site CNN.
A oitiva desta terça-feira foi a terceira de Mauro Cid desde que ele foi preso em maio de 2023 em uma operação da PF sobre a fraude em cartões de vacina dele e de Bolsonaro.
Em março de 2024 Cid foi convocado por Moraes para explicar sobre áudios vazados em que ele critica o ministro e a PF. Ao final ele teve a prisão preventiva decretada por descumprimento de medidas cautelares e obstrução de justiça, e foi solto no começo de maio.
O acordo de delação de Cid foi validada por Alexandre de Moraes, em negociação com a PF em setembro de 2023, quando também foi concedida liberdade provisória ao tenente-coronel, com a aplicação e restrições como uso de tornozeleira eletrônica, obrigação de se apresentar à Justiça, não sair de casa aos fins de semana e à noite; suspensão do porte de arma, proibição de falar com outros investigados e de uso redes sociais, afastamento das funções no Exército, cancelamento do passaporte e proibição de viagens ao exterior.
Segundo o blog da Natuza Nery, do G1 investigadores da PF consideram que os conteúdos encontrados no celular de Cid são mais relevantes do que as declarações dele. “A delação até serviu para preencher alguns buracos, mas não mudou o rumo das investigações, O material mais importante foi o celular de Cid, que a PF conseguiu sozinha”, diz a coluna.
R$ 100 mil para assassinatos e golpe
Os planos dos golpistas aliados de Bolsonaro e do general Braga Netto, que abriu as portas de sua casa para reuniões preparatórias para o planejamento do golpe e atentados, incluiu a estimativa de R$ 100 mil para os custos com hotel e alimentação, entre outros.
A informação consta na decisão que autorizou as medidas cautelares da Operação Contragolpe e a oferta foi feita por Cid em conversa com o major Rafael Martins de Oliveira, um dos cinco presos pela PF.
Leia mais: Gleisi e Odair pedem arquivamento do PL da anistia aos golpistas
“No diálogo, obtido pela PF, Cid cobra o aliado por uma estimativa de gastos em conversa no dia 14 de novembro de 2022. Em seguida, afirma: “Só uma estimativa de gastos relacionados a hotel, alimentação, material”. Em seguida, sugere o valor de R$ 100 mil”, diz a matéria publicada pela jornalista Juliana Dal Piva, no site ICL Notícias, com o título “Mauro Cid ofereceu R$ 100 mil para plano de assassinato de Lula e Moraes”.
O major encaminhou a Cid, conforme as investigações, um documento chamado “Copa 2022”, codinome usado para operação golpista. “Tô aqui com as necessidades iniciais”, escreveu Oliveira. Cid pergunta o valor. Então, Oliveira responde: “Aquele valor de 100 se encaixa nessa estimativa”, conclui a matéria.