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Mundo político e jurídico repudia ataque a bomba à Praça dos Três Poderes Ex-candidato bolsonarista publica postagem com tom político, detona explosivos em frente

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Mundo político e jurídico repudia ataque a bomba à Praça dos Três Poderes

 

Ex-candidato bolsonarista publica postagem com tom político, detona explosivos em frente ao STF e Câmara e acaba praticando autoextermínio. STF enterra anistia aos golpistas

 

Foto: Bruno Peres/ Agência Brasil

A radicalização da extrema direita resultou em um novo ataque aos Poderes constituídos da República. Um bolsonarista morreu nesta quarta (13) ao se explodir em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em série de detonações em dois locais da praça dos Três Poderes, em Brasília.

A Polícia Federal (PF) abriu um inquérito para investigar as explosões que o governo classifica como novo atentado contra a democracia. Mundo político e jurídico reage com veemência e mencionam “enterro da anistia”.

O bolsonarista, identificado pela polícia como sendo Francisco Wanderley Luiz, tinha 59 anos e disputou a eleição de 2020 como candidato a vereador pelo Partido Liberal (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro, com o nome de urna Tiü França, em Rio do Sul (SC). Wanderley Luiz obteve 98 votos e não chegou perto de ser eleito na cidade catarinense.

Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Civil do Distrito Federal (DF), duas explosões atingiram a praça dos Três Poderes, por volta das 19h30. Uma perto do STF e outra em um veículo Kia Shuma 1999/2000, encontrado próximo a um dos anexos da Câmara dos Deputados, também nas proximidades da sede do Judiciário.

Segundo o documento, um explosivo que estava na mochila de Wanderley Luz foi detonado junto ao seu corpo. “A segunda explosão, segundo informações do momento, ocorreu no local onde um veículo estava estacionado, em uma via auxiliar, desconhecida”, diz o boletim. “Outros dados a respeito da vítima foram obtidos, tendo sido possível identificar uma possível motivação, tendo em vista o conteúdo político de postagens no perfil de Francisco em suas redes sociais”.

Wanderley Luz usava roupas com possível alusão à fantasia do personagem Coringa, vilão de histórias de quadrinhos. Ele vestia uma calça e um terno de mesma estampa com os naipes de cartas de baralho, com o fundo de cor verde-escuro e, ao lado do corpo, foi encontrado um chapéu branco.

Antes das detonações, o bolsonarista chegou a fazer publicações em tom de ameaça e despedida nas redes sociais.

“Em mensagens aparentemente compartilhadas por meio do aplicativo de mensageria WhatsApp, é possível notar que algumas delas tem conteúdo que antecipavam o ocorrido no dia de hoje, manifestando previamente a intenção do autor em praticar o autoextermínio e o atentado a bomba contra pessoas e instituições”, aponta o boletim.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva  (PT) se reuniu com ministros do STF durante a noite, no Palácio da Alvorada. Estiveram com Lula os ministros do Supremo Gilmar Mendes, Cristiano Zanin e Alexandre de Moraes. O diretor-geral da PF, Andrei Augusto Passos Rodrigue, também estava presente.

O presidente já tinha conversa marcada com integrantes do Judiciário antes do episódio, para uma reunião de “avaliação de cenário”, que, segundo relatos, vem acontecendo com frequência. O clima era de “estupefação”.

A explosão levou apreensão na capital federal um ano e dez meses após os ataques golpistas de 8 de janeiro contra as sedes de STF, Congresso Nacional e Palácio do Planalto. A Polícia Militar (PM-DF) foi acionada, e o Batalhão de Operações Especiais, o Bope, iniciou uma varredura na região. Na manhã desta quinta (14), a OM realiza outra inspeção na Praça dos Três Poderes.

Por conta disso, as atividades no Supremo e na Câmara foram suspensas até o meio-dia. Já o Senado decidiu cancelar o expediente. O Planalto ainda não informou se agenda de Lula será mantida.

Os agentes ainda apuram se Wanderley Luz agiu sozinho ou se havia comparsas, qual foi a motivação para detonar os explosivos e quais eram os alvos do atentado e por quê.

Momento das explosões

O documento diz que a equipe da polícia civil apurou que Francisco se aproximou da sede do STF, abriu a jaqueta e mostrou a um segurança que carregava explosivos.

Em seguida, lançou alguns deles em direção ao prédio, que não atingiram devido à distância. Depois, “deitou-se e posicionou o último por debaixo de sua cabeça, até que houve a explosão fatal”.

Em depoimento, o segurança disse que “o indivíduo trazia consigo uma mochila e estava em atitude suspeita em frente à estátua, colocou a mochila no chão, tirou um extintor, tirou uma blusa de dentro da mochila e a lançou contra a estátua”.

“O indivíduo retirou da mochila alguns artefatos e com a aproximação dos seguranças do STF, o indivíduo abriu a camisa os advertiu para não se aproximarem”, afirmou o segurança à polícia.

O segurança, então, viu um objeto “semelhante a um relógio digital”. Francisco “saiu com os artefatos para a lateral e lançou dois ou três artefatos, que estouraram”. Depois disso, o segurança solicitou apoio imediato.

Por fim, segundo o relato, Francisco “deitou no chão acendeu o ultimo artefato, colocou na cabeça com um travesseiro e aguardou a explosão”.

Repercussão

Assim que pormenores da ação terrorista contra o Supremo e a Câmara dos Deputados  começaram a ser publicados, uma série de reações do mundo político e jurídico deram o tom de como as autoridades brasileiras estão digerindo às explosões.

Ministros da corte fizeram chegar aos principais nomes do Congresso a seguinte mensagem: “não vamos permitir que ousem debater anistia depois disso”. Foram disparados telefonemas para os líderes mais importantes da Câmara com o mesmo recado. E o sinal emitido aos parlamentares foi de tolerância zero.

Em Baku, no Azerbaijão, onde participa da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), o vice-presidente Geraldo Alckimin disse que as explosões na Praça dos Três Poderes são graves e devem ser apuradas com extremo rigor.

“Triste e grave. Triste pela perda de vida e grave por ser um atentado a uma instituição da República, a um poder da República, que deve ser apurado com extrema rapidez e extremo rigor. E é isso que acredito que os órgãos de segurança o farão”, afirmou.

Para Alckmin, as explosões foram uma manifestação isolada e não representam ameaça de novos ataques como os que ocorreram no dia 8 de janeiro de 2023. ”É permanente o trabalho no sentido de reduzir essa violência, esses atos absurdos. que comprometem a paz, a democracia, comprometem a segurança. Mas nós temos instituições sólidas e a apuração será rigorosa”, reforçou.

Ministros do governo Lula também classificaram como ataques às instituições as duas explosões que ocorreram na noite desta quarta.  O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, chamou as explosões de “ataques à democracia e ao povo brasileiro”.

“Nós vamos seguir trabalhando pela reconstrução do nosso país e pela união do povo brasileiro, [e] todos aqueles que forem contra isso, serão derrotados mais uma vez”, disse em publicação na rede social X.

O advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, também classificou as explosões como ataques e falou sobre a necessidade de mais investigações. “Precisamos saber a motivação dos ataques, bem como reestabelecer a paz e a segurança o mais rapidamente possível”, declarou, também via X.

Paulo Teixeira, do ministério do Desenvolvimento Agrária, classificou o caso como “gravíssimo”. “Não podemos nos esquecer do político que promoveu a campanha de ódio contra o STF”, afirmou, sem citar nominalmente a quem se referia.

Os dois ministros ligados ao Centrão também fizeram declarações repudiando o atentado. O ministro dos Esportes, André Fufuca, pediu celeridade nas investigações enquanto o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, repudiou “com veemência o ocorrido”.

O ataque interrompeu o funcionamento da nos Poderes da República. A Câmara suspendeu a sessão de votações em plenário em razão das explosões. A sessão era comandada pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) – que chegou a manter os trabalhos, mas cedeu à pressão de deputados do PSOL.

Em nota, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) disse que “a explosão de um carro em um estacionamento público próximo ao Anexo IV da Câmara dos Deputados deve ser apurada com a urgência necessária para esclarecimento de todas as suas causas e circunstâncias”.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) alertou que a democracia “ainda corre riscos”, classificando o ataque como extremista.

“Mais uma vez o extremismo atingiu a Praça dos Três Poderes, ameaçando a vida das pessoas e mostrando que a democracia ainda corre risco. É preciso investigação rigorosa sobre as explosões e também sobre o processo de radicalização do ex-candidato do PL, que deixou mensagens terroristas em suas redes sociais e circulou livremente pela Câmara dos Deputados horas antes do ataque”, afirmou Jandira, nas redes sociais.

A deputada exigiu investigações e disse que a democracia brasileira não se intimidará. “Apenas o rigor no cumprimento das leis intimidará aqueles que atentam contra o Estado Democrático de Direito e o povo brasileiro”, concluiu.

O deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) afirmou que o discurso de ódio e fator determinante para os seguidos ataques às instituições brasileiras. “Ataques permanentes às instituições e o discurso de ódio estimulam ações como a de ontem com explosão de bombas em frente ao STF. Bolsonarismo concretamente estimula atitudes terroristas como a de ontem é do 8 de janeiro de 2023”, afirmou no Instagram.

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