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Quem Pensa Escreve! O Discurso, Por Ângelo Cavalcante

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O discurso
Por: Ângelo Cavalcante

O anticomunismo no Brasil serve, dentre outras coisas, para se imiscuir, se homiziar e se esconder nos meios e entremeios de uma massa ignara, desamparada e desprovida das categorias básicas da ciência política; sem condições elementares de sequer se defender para, em pleitos eleitorais, tascar, enfiar votos nessa e que se situa dentre as piores e mais degeneradas direitas do hemisfério sul.

Nada pode ser mais dinâmico, eficaz, efetivo e potente do que um discurso inflamado, agitado e empolvoroso a envolver o comunismo.

Isso, reparem bem, gera medo e no medo, um assalariado ou sub-assalariado passa a defender apaixonadamente seu algoz, um patrão estúpido, autoritário e ladrão do salário alheio; sob esse pesado e espesso manto ideológico do anticomunismo, o trabalhador infeliz se lança a encegueradamente proteger pautas e bandeiras de ricos e grandes ricos. Dos mesmos e mesmissimos e que o despreza.

É impressionante!

O anticomunismo é das piores armas políticas dos poderosos brasileiros; demove o camponês de lutar por seu naco de terra; faz a dona-de-casa silenciar ante ao galope desenfreado da carestia; enreda o caminhoneiro operoso a defender pedágios, taxas e emolumentos sobre o seu fatigante e arriscado trabalho; desarticula a associação de moradores e que deixa de reivindicar a diária e pontual coleta de lixo, a poda das árvores ou a melhoria do asfalto; nesse transe estúpido e hipnótico do anticomunismo, professores desvalorizados e desrespeitados se afastam de seu sindicato, enfraquecem a luta, passam, eles próprios, a se verem como “baderneiros” e o pior, começam a crer piamente no velho e velhaco governo liberal e que, por óbvio, avança desfazendo todas as poucas políticas públicas e a ferro e fogo, adquiridas.

É um titã e poucos os discursos e narrativas são tão fortes e poderosos como o do anticomunismo.

Sob essa catarse discursiva, nos rendemos mansamente aos horrores do capital, normalizamos e passamos a aceitar a já assumida e irrefreavel devastação ecológica e ambiental e que nossa pele e nossas narinas tem de engolir; cremos por fim, que tal prática é moderna, sincera e inovadora.

Nesse contexto somos empurrados mansa e docilmente aos restritos e ordinarios da vida doméstica onde rotinas viram prisões, cárceres e detenções subrepticias.

Não para…

Nas disputas eleitorais, a população, sempre faminta e sedenta por direitos, passa, em série, a eleger fascistas, neoprotestantes, ortodoxos de ultradireita e discrepâncias políticas dessa mesma ordem.

Na grita escabrosa do anticomunismo a irracionalidade se impõe, se afirma e rege milhares e milhões de juízos arreados, alquebrados e submetidos.

Esse quadro é, por fim, replicado por todo o tecido social, se enfronha e se imiscui nas mais profundas delicadezas e intimidades da vida pessoal e privada.

Em tal paranóia, o próprio amor conjugal é afetado; sob a doença gritante e escandalosa do anticomunismo, sempre em evidente cópula e parelha com o mais exacerbado e histriônico fanatismo religioso, corpos se retratem, são capados de desejos e intenções, a libido e o tesão são comprometidos, maculados, tolhidos e amiudados em seus movimentos, expressões e espontaneidades.

São corpos não-corpos; é a orgânica humana desorganizada, intimidada por um discurso torpe e perverso; nessa aura demoníaca, os corpos são simbolicamente amarrados, domados e dominados por uma narrativa reacionária, desumana e desumanizante.

Isso é o anticomunismo em sua dimensão fenomenológica! É um ventre, um bucho flácido e que pare medos, fobias, neuroses e extremismos de toda sorte.

Como dito, é a principal arma política de nossa direita escravagista, neocolonial e que, com todas as suas forças existenciais, nos detesta porque somos os pretos, os mestiços, os indígenas. Estamos na caatinga, no cerrado, nas veredas da Amazônia, nas periferias de cada cidade ou cidadela desse país e somos, ao fim, a maioria.

O anticomunismo ora, é o medo dessa maioria se levantar e dizer BASTA !

Chegará!

Ângelo Cavalcante – Economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.

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imagem Ilustrativa – “O Discuro do Rei”