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Kamala vence primeiro debate nos EUA diante de um Trump lunático

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Kamala vence primeiro debate nos EUA diante de um Trump lunático

 

Trump chegou a dizer que imigrantes estão comendo cachorros de americanos, fala seguida de uma risada de Kamala Harris e correção imediata dos apresentadores

 

Kamala Harris vence o primeiro debate presidencial com Donald Trump Foto: ABC News/ Reprodução

A democrata Kamala Harris saiu como vencedora do primeiro debate para a Presidência dos Estados Unidos, realizado nesta terça (10), pela emissora ABC News. Diante de um “lunático” Donald Trump, a vice-presidente do país usou a audiência recorde para sublinhar as diferenças entre a sua “economia da oportunidade” e a “politica do caos” do republicano e seu modo de governar em benefício dos ricos.

“Então, para todos que lembram como foi o dia 6 de janeiro: não vamos regredir, é hora de virar a página. Há um lugar para você [eleitor] em nossa campanha. Para defender a nossa democracia, para defender o Estado de direito e para acabar com o caos”, disse

“Fui criada como uma garota  de classe média e sou a única pessoa neste palco que tem um plano para a classe média e o povo trabalhador. Acredito na ambição, nas aspirações e nos sonhos do povo americano. E é por isso que imagino e tenho um plano para construir o que chamo de economia de oportunidades”, argumentou Kamala.

O embate foi marcado pelo novo formato de debate presidencial, que impediu a tradicional trocação direta entre os candidatos. Para esta terça, as campanhas e a emissora elaboraram regras que incluíam o desligamento do microfone adversário durante a fala do outro participante.

A regra foi imposta pela campanha do republicano que condicionou sua participação a ela, com receio que Trump perdesse a compostura em um embate mais aberto. Seus assessores tentam convencê-lo a amenizar o discurso para atrair o voto dos eleitores indecisos, que segundo levantamento do New York Times/ Siena College representam cerca de 20% da população.

A tentativa do staff do ex-presidente em blindá-lo, no entanto, não funcionou. Em acordo com o comportamento padrão da extrema direita mundial, Trump teve como um argumento central usado como justificativa para todos os problemas dos Estados Unidos: imigração ilegal.

“Em Springfield, eles [imigrantes] estão comendo os cachorros. Eles estão comendo os gatos. Comendo os pets das pessoas que moram lá”, afirmou Trump.

“Você sabia que a taxa de crimes na Venezuela e  em países de todo o mundo estão diminuindo? Você sabe por quê? Porque tiraram os seus criminosos das ruas e entregaram-nos a ela para os colocar no nosso país”, mentiu Donald Trump.

Em certo momento, o bilionário foi interpelado por um dos repórteres da emissora ao contornar perguntas sobre o seu apoio ao 6 de janeiro para tergiversar sobre a imigração ilegal.

“Já debatemos sobre imigração aqui esta noite. Quero me concentrar nesta próxima pauta”, esbravejou David Muir.

Por sua vez, Kamala disse que quer construir uma “economia de oportunidade”, incluindo propostas para tornar a habitação mais acessível e expandir o crédito fiscal infantil. A candidata também atacou as propostas do ex-presidente Donald Trump, como a concessão de cortes fiscais às grandes empresas e argumentou que esta renúncia fiscal prejudicaria as famílias da classe média americana.

“Sabemos que há uma escassez de casas e moradias, e que o custo da habitação é muito caro para muitas pessoas. Sabemos que jovens famílias precisam de apoio para criar seus filhos. Pretendo fazer um corte de impostos para essas famílias de 6 mil dólares, o maior crédito tributário infantil que oferecemos em muito tempo. Para que essas jovens famílias possam comprar um berço, um assento de carro, roupas para seus filhos”, disse Kamala.

“Minha paixão, uma delas, são os pequenos negócios. Na verdade, minha mãe criou minha irmã e eu, mas havia uma mulher que nos ajudou a nos criar. Nós a chamamos de nossa segunda mãe. Ela era dona de um pequeno negócio. Eu amo nossos pequenos negócios. Meu plano é dar uma dedução fiscal de R$50.000 para startups de pequenos negócios, sabendo que eles são parte essencial da economia americana”, afirmou a vice-presidente em defesa da classe média americana.

“Meu oponente, por outro lado, seu plano é fazer o que já fez antes, que é oferecer um corte de impostos para bilionários e grandes corporações, o que resultará em um déficit de 5 trilhões de dólares para os EUA. O plano dele inclui algo que eu chamo de “imposto de vendas do Trump”, que seria um imposto de 20% sobre bens de uso diário, dos quais você depende para sobreviver no mês. Economistas disseram que o imposto de vendas de Trump resultaria em cerca de 4 mil dólares a mais por ano para famílias de classe média, devido às suas políticas e ideias de que a classe média deve pagar por cortes de impostos para bilionários”, emparedou Kamala.

Em resposta, Trump negou cobrar um “imposto de venda” e ameaçou taxar os países como forma do “mundo retribuir-nos por tudo o que fizemos por eles”.

“Estamos cobrando tarifas sobre outros países. Outros países irão finalmente, após 75 anos, retribuir-nos por tudo o que fizemos pelo mundo. E a tarifa será substancial em alguns casos. Recebi bilhões e bilhões de dólares, como vocês sabem, da China”, contornou Trump.

Aborto e Obamacare

A questão sobre o aborto foi um dos pontos altos da primeira parte do debate entre os candidatos a presidência dos Estados Unidos na noite desta terça. Kamala foi especialmente enfática e cresceu no debate ao ser questionada sobre o tema e disse que seu adversário vai liderar um “plano nacional para banir o direito ao aborto”.

“Agora, em mais de 20 Estados, há proibições de aborto promovidas por Trump. Essas proibições tornam criminoso um médico ou enfermeiro que forneça cuidados de saúde para as mulheres”, afirmou a vice-presidente. “Em um Estado, se prevê prisão perpétua. Proibições de aborto de Trump não fazem exceção, mesmo para estupro e incesto, que — entenda o que isso significa — um sobrevivente de um crime de estupro não tem o direito de tomar uma decisão sobre o que acontece com seu corpo”, continuou.

“Além disso, é imoral, e não é preciso abandonar a fé ou crenças profundas para concordar que o governo e Donald Trump certamente não deveriam dizer a uma mulher o que fazer com seu corpo”, afirmou, dizendo que assinaria “orgulhosamente” um projeto de lei restabelecendo as proteções de Roe v. Wade se for eleita presidente.

Trump é criticado devido à revogação da Roe v. Wade, uma decisão da Suprema Corte dos EUA que garantia o direito ao aborto legal em todo o país.

“Quando o Congresso aprovar uma lei para restaurar as proteções da Roe v. Wade, como presidente dos Estados Unidos, eu irei sancioná-la”, comentou a vice-presidente

Após sair derrotado da pauta sobre o aborto, outro tema deixou Trump visivelmente desconcertado. O candidato republicano admitiu que ainda não tem um plano para saúde pública, mas sim “conceitos de um plano”.

Donaldo Trump é fotografado suando durante pergunta sobre seus planos para a saúde pública. Foto: Reprodução/ ABC News

“Estamos analisando diferentes planos”, disse Trump durante seu debate com Harris, sem oferecer detalhes específicos. “Eu tenho conceitos de um plano. Eu só proporia algo que fosse melhor… há conceitos e opções que temos para isso. E vocês ouvirão sobre isso num futuro não muito distante.”

Donald Trump começou esta parte do debate criticando o Obama Care, um programa criado durante o governo de Barack Obama. Questionado se ele tem planos para substituir o programa, o republicano comentou que possui “esboços de um plano”.

Obamacare é o nome pelo qual ficou conhecido o Affordable Care Act (ACA), algo como “lei de atendimento médico financeiramente acessível”, uma medida adotada durante o governo Obama, em março de 2010. O Obamacare é composto de regras federais que pretendem tornar os planos de saúde mais baratos e prestando uma gama maior de atendimento. Nos EUA não há um sistema universal de saúde, aos moldes do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil. O atendimento particular é caro e, em geral, os planos de saúde públicos e privados também.

Apoio a Israel e a solução de dois Estados

Kamala Harris reforçou que Israel tem o direito de se defender, mas destacou que “palestinos demais” foram mortos, incluindo crianças. “Essa guerra deve acabar. Deve acabar imediatamente. E a maneira com a qual ela vai acabar é que precisamos de um cessar-fogo e precisamos dos reféns soltos”, ponderou.

A vice-presidente também destacou apoio à Solução de Dois Estados, uma proposta na qual há a existência pacífica de um Estado palestino e um Estado israelense. Ainda assim, a democrata ressaltou que providenciará todo o apoio para que Israel se defenda, principalmente em relação ao Irã.

Trump e Kamala se cumprimentam antes do início do debate presidencial. Foto: ABC News/ Reprodução

“Precisamos de uma Solução de Dois Estados na qual podemos reconstruir Gaza, na qual os palestinos tenham segurança, autodeterminação e a dignidade que eles merecem”, concluiu.

Trump, por sua vez, afirmou que, se ele fosse presidente, as guerras de Israel e da Ucrânia não teriam começado.

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