Exército abre inquérito contra coronéis envolvidos em carta golpista contra Lula
Exército abre inquérito contra coronéis envolvidos em carta golpista contra Lula
Uma sindicância apurou que 37 militares tiveram algum envolvimento com o documento. Todos os envolvidos já enfrentaram processos disciplinares
Publicado pelo Portal Vermelho
Nesta terça-feira (27), o Exército Brasileiro deu início a um inquérito policial militar para investigar quatro coronéis acusados de redigir uma carta que pressionava o Comando do Exército a apoiar um golpe de Estado contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A investigação é consequência de uma sindicância aberta pelo comandante Tomás Paiva, que tinha como objetivo identificar os oficiais responsáveis pela elaboração e assinatura do documento, divulgado em novembro de 2022.
A sindicância apurou que 37 militares tiveram algum envolvimento com o documento. Desses, quatro foram identificados como autores do texto, enquanto outros 33 assinaram a carta. Todos os envolvidos enfrentaram processos disciplinares, com 11 fornecendo explicações consideradas satisfatórias e 26 sendo punidos, com penalidades que variaram de advertências a detenções, dependendo da gravidade atribuída pelo comandante da região militar responsável.
Os principais alvos do inquérito são dois coronéis da ativa — Alexandre Castilho Bitencourt da Silva e Anderson Lima de Moura — e dois da reserva — Carlos Giovani Delevati Pasini e José Otávio Machado Rezo Cardoso. Esses quatro estão sob investigação formal porque a sindicância apontou indícios de possível crime militar na redação e divulgação da carta, enquanto os demais signatários foram considerados culpados por transgressão disciplinar.
Em fevereiro, foi revelada a participação de Pasini e Alexandre, com base em um relatório da Polícia Federal. Segundo o relatório, Pasini foi o autor original da carta, enquanto Alexandre atuou como editor, sugerindo alterações no texto.
Entre os 26 militares punidos, estão 12 coronéis, nove tenentes-coronéis, um major, três tenentes e um sargento. As informações foram inicialmente divulgadas pelo jornal O Estado de S. Paulo.
De acordo com as leis e regulamentos militares, é proibido que os militares se manifestem coletivamente, especialmente sobre atos de superiores ou com caráter reivindicatório ou político. Quando a carta começou a circular entre os oficiais, o Alto Comando do Exército emitiu um alerta, informando que haveria consequências para aqueles que aderissem ao manifesto.
“Senhores, bom dia. Alertem seus subordinados que a adesão a esse tipo de iniciativa é inconcebível. Eventuais adesões de militares da ativa serão tratadas, no âmbito do CMS (Comando Militar do Sul), na forma da lei, sem contemporizações”, escreveu o general Fernando Soares para chefes de organizações militares.
A carta, de tom golpista, foi divulgada na internet em 29 de novembro de 2022, com o título “Carta dos oficiais da ativa ao Comando do Exército”. O documento buscava pressionar o então comandante, Marco Antonio Freire Gomes, a apoiar um golpe militar, alegando que os militares da ativa prezavam pela “legalidade, liberdade e transparência” e insinuando que o Poder Judiciário estava se colocando “acima da lei e da ordem democrática”.
A carta também apelava para que os comandantes apoiassem ações que visassem o “imediato restabelecimento da lei e da ordem”, preservando a liberdade de expressão dos cidadãos.
O texto foi redigido em um momento em que apoiadores radicais de Jair Bolsonaro (PL) estavam acampados em frente a quartéis do Exército, pedindo uma intervenção militar contra a eleição de Lula. A investigação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Bolsonaro identificou que o documento foi enviado ao então tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do presidente, antes de sua publicação.
A busca por assinaturas para a carta coincidiu com um período em que Bolsonaro e seus aliados discutiam abertamente a possibilidade de um golpe de Estado, incitando o Comando do Exército a adotar uma postura golpista e promovendo ataques nas redes sociais contra generais contrários à ruptura democrática.
“Consideramos importante, portanto, que os Poderes e Instituições da União assumam seus papéis constitucionais previstos em lei e em prol da pacificação política, econômica e social, especialmente para a manutenção da Garantia da Lei e da Ordem e da preservação dos poderes constitucionais, respeitando o pacto federativo previsto na regra basilar de fundação da República”, concluía a carta dos oficiais.