Antidemocráticas e repressoras, escolas cívico-militares são suspensas pela Justiça
Antidemocráticas e repressoras, escolas cívico-militares são suspensas pela Justiça
Decisão final sobre constitucionalidade caberá ao STF. Por ora, conforme Tribunal de Justiça, escolas nesse formato estão suspensas no estado de São Paulo
Publicado pelo Portal Vermelho
A lei que institui as escolas-cívico militares no estado de São Paulo foi suspensa pelo Tribunal de Justiça de SP, nesta quarta-feira (7), até decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade ou não do programa.
A decisão foi tomada a partir de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) ajuizada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
Entre outros apontamentos contrários à lei, o desembargador Figueiredo Gonçalves destaca que “ao dispor sobre organização escolar, estabelecendo programa que impõe modelo pedagógico de Escola Cívico-Militar, a Lei Estadual 1.398/2024 parece legislar sobre diretrizes da educação escolar. Isso poderia invadir competência da União, a quem compete, privativamente, nos termos do artigo 22, inciso XXIV da Constituição Federal, legislar sobre ‘diretrizes e bases da educação nacional’”.
Além disso, o magistrado argumenta que a lei estadual impõe que, nessas instituições, os monitores sejam policiais militares da reserva escolhidos via processo seletivo. A decisão aponta que, conforme a Constituição, profissionais da educação devem estar sujeitos a planos de carreira “com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos”.
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Salienta, ainda, que “atribuir essa função de monitor escolar, aos policiais militares da reserva, extrapolaria o artigo 144, § 5º da Carta Política Federal que, ao dispor sobre as polícias militares, como órgãos da segurança pública, estabelece caber como funções próprias destes, unicamente, o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública, sem possibilidade de se atribuir outras, mormente de monitoração escolar em escolas públicas civis”.
A decisão ainda salienta que o monitoramento do ensino por policiais militares “possivelmente não seria adequado” aos princípios constitucionais da liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber e do pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.
Embora não determine a inconstitucionalidade da lei, o juiz conclui que “inegavelmente, há controvérsias sobre o bom direito, que justifica a cautela neste instante”.
No final de junho, a Advocacia Geral da União (AGU) emitiu parecer favorável à inconstitucionalidade desse tipo de instituição educacional, encaminhada para apreciação do STF.
Na mesma linha de argumentação usada pelo TJ-SP, a AGU sustentou que os estados não podem instituir modelo educacional que não está previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Além disso, o órgão acrescentou que a Constituição também não prevê que militares possam exercer funções de ensino ou de apoio escolar.
Escolas antidemocráticas e repressoras
A Apeoesp classificou a decisão como uma “grande vitória”, mas destacou que continuará a campanha contra as escolas cívico-militares “para garantir que não haja nenhum retrocesso nesta decisão e para conquistarmos cada vez mais corações e mentes em defesa de uma escola pública que garanta formação básica de qualidade para todos e todas, em ambiente de liberdade, diálogo e construção dos sonhos da nossa juventude”.
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A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), também comemorou a decisão, salientando que a promessa de melhoria na educação contida na proposta “resulta, na verdade, em escolas antidemocráticas e repressoras, comandadas por profissionais sem qualquer experiência pedagógica”.
Para a entidade, “a militarização das escolas não é a solução. Estados como Paraná e Goiás, que já implementaram programas similares, são prova disso, com relatos crescentes de violência e abuso sexual contra estudantes em escolas militarizadas”.
Bandeira central para o projeto da extrema direita brasileira, a proposta de escola cívico-militar foi apresentada pelo governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (REP) e aprovada no dia 21 de junho. Estudantes e professores foram agredidos e detidos após ocuparem as galerias da Assembleia Legislativa para protestar contra a matéria durante as sessões de votação.