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Extrema-direita lidera eleições e mergulha a França em incerteza política

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Extrema-direita lidera eleições e mergulha a França em incerteza política

 

Marine Le Pen e seu protegido, Jordan Bardella, podem ter garantido o primeiro lugar com 34% dos votos. A aliança de esquerda (NFP) ficou em segundo com 28%. A aliança de Macron ficou em terceiro, com 20%.

 

O primeiro-ministro Gabriel Attal anuncia a estratégia de retirar candidaturas para fortalecer a esquerda e impedir a hegemonia da extrema-direita na França.

Os eleitores franceses colocaram o Reagrupamento Nacional (RN), de extrema-direita, em uma forte liderança no primeiro turno das eleições legislativas deste domingo (30), gerando incerteza política significativa no país, de acordo com as projeções eleitorais. O presidente Emmanuel Macron, que convocou as eleições surpresa há apenas três semanas, pediu aos eleitores que se mobilizassem contra a direita radical.

As projeções das agências de pesquisa sugerem que o RN tem uma boa chance de obter a maioria na câmara baixa do Parlamento pela primeira vez, com cerca de um terço dos votos no primeiro turno, quase o dobro dos 18% obtidos no primeiro turno em 2022. O partido está capitalizando seu sucesso nas eleições europeias, que levaram Macron a dissolver o parlamento e convocar a votação surpresa.

Estratégia governista

Em uma manobra estratégica significativa, o primeiro-ministro Gabriel Attal anunciou que os candidatos do campo presidencial que ficaram em terceiro lugar nas eleições legislativas francesas irão se retirar para bloquear o avanço do partido de extrema direita, com algumas exceções. Com isso, os candidatos de esquerda têm mais chances de ir ao segundo turno contra candidatos do RN.

A estratégia de retirada de candidatos visa impedir a vitória do RN, que, com seu crescente apoio, representa um desafio considerável para os partidos tradicionais. Ao retirar candidatos que ficaram em terceiro lugar, o campo presidencial espera concentrar os votos nos candidatos da Nova Frente Popular (NFP), a frente de esquerda, aumentando suas chances de vitória contra o RN no segundo turno.

A decisão de Gabriel Attal reflete a urgência e a importância de formar uma frente unida contra o avanço da extrema direita. Esta estratégia de retirada não é nova na política francesa, sendo usada em eleições passadas para impedir vitórias da extrema direita. No entanto, a eficácia dessa abordagem dependerá da mobilização dos eleitores e da capacidade dos partidos de centro e esquerda de unificar suas bases.

Além disso, a elevada participação sugere que o eleitorado está mais engajado, possivelmente devido à polarização crescente e ao desejo de impedir uma maior influência do RN no parlamento. A presença de 165 triangulares e três quadrangulares indica uma competição acirrada e imprevisível, que pode resultar em um parlamento altamente fragmentado.

Desempenho dos partidos

As projeções mostraram o Reagrupamento Nacional, liderado por Marine Le Pen e seu protegido, Jordan Bardella, garantindo o primeiro lugar com 33,2% dos votos nacionais. A aliança de partidos de esquerda, a NFP, ficou em segundo lugar, com 28,1%. A aliança de Macron ficou em terceiro, com 21%. Até agora, entre os 737 candidatos qualificados para o segundo turno, 267 são do RN-LR, 215 da NFP, 158 do Ensemble e 39 dos Republicanos (LR).

Embora o RN não tenha conseguido a maioria dos assentos no parlamento por pouco, há uma possibilidade de ampliar sua liderança e conquistar a maioria no segundo turno das eleições em 7 de julho. Se isso ocorrer, Bardella, de 28 anos, pode se tornar o primeiro premiê de direita radical do país desde a Segunda Guerra Mundial, substituindo a agenda pró-Europa e pró-negócios de Macron por uma plataforma populista e anti-imigração.

O segundo turno será decisivo, levantando grandes questões sobre como Macron compartilhará o poder com um primeiro-ministro hostil à maioria de suas políticas. Essas eleições antecipadas, que terminam em 7 de julho, têm o potencial de afetar os mercados financeiros europeus, o apoio ocidental à Ucrânia e a administração do arsenal nuclear da França e de sua força militar global.

Motivação dos eleitores

Muitos eleitores franceses estão frustrados com a inflação e outros problemas econômicos, além da liderança de Macron, considerada arrogante e distante. O partido anti-imigração de Marine Le Pen aproveitou esse descontentamento, especialmente por meio de plataformas on-line como o TikTok, liderando as pesquisas de opinião pré-eleitorais.

A Nova Frente Popular também representa um desafio para Macron e sua aliança centrista. Incluindo socialistas, comunistas, verdes e a esquerda radical, a coalizão promete reverter a impopular reforma previdenciária que aumentou a idade de aposentadoria para 64 anos, entre outras reformas econômicas.

Participação eleitoral

Há 49,5 milhões de eleitores registrados que escolherão os 577 membros da Assembleia Nacional, a influente câmara baixa do parlamento francês. Até o momento, o Ministério do Interior francês divulgou resultados em 308 dos 577 círculos eleitorais. Desses, 26 candidatos foram eleitos no primeiro turno, sendo 21 do RN-Les Républicains (RN-LR), um do Ensemble e um da NFP.

O comparecimento às urnas foi de 65,8%, um índice excepcionalmente alto, representando 26 pontos percentuais a mais do que na última votação do primeiro turno em 2022. Alguns pesquisadores sugeriram que o alto comparecimento pode moderar o resultado para o RN, indicando que os eleitores fizeram um esforço extra para votar por medo de uma vitória da direita radical.

Macron votou em Le Touquet, um resort à beira-mar no norte da França. Le Pen também votou no norte, reduto de seu partido, na cidade de classe trabalhadora de Hennin-Beaumont. Os eleitores em Paris refletiram sobre questões como imigração e o aumento do custo de vida, com o país cada vez mais dividido entre os blocos de direita radical e esquerda radical, enquanto um presidente profundamente impopular e enfraquecido permanece no centro político. A campanha foi marcada pelo aumento do discurso de ódio.

Contexto internacional e político

Macron convocou as eleições antecipadas após a derrota de seu partido nas eleições para o Parlamento Europeu, superado pelo RN, que possui laços históricos com o racismo, antissemitismo e hostilidade à comunidade muçulmana da França. A convocação foi uma aposta de que os eleitores franceses seriam estimulados a apoiar forças moderadas para manter a direita radical fora do poder.

O apoio ao Reagrupamento Nacional se espalhou por toda parte. Bardella, que não tem experiência de governo, diz que usaria os poderes de primeiro-ministro para impedir que Macron continue fornecendo armas de longo alcance à Ucrânia. O RN também questiona o direito à cidadania das pessoas nascidas na França e quer restringir os direitos dos cidadãos franceses com dupla nacionalidade, levantando preocupações sobre os direitos humanos e os ideais democráticos da França.

As promessas de gastos públicos do RN e da coalizão de esquerda abalaram os mercados e acenderam preocupações sobre a dívida da França, criticada pela União Europeia. A eleição também impacta territórios ultramarinos, como a Nova Caledônia, onde a violência recente e as mudanças propostas na Constituição francesa geraram tensão.

Os eleitores de outros territórios ultramarinos, como Saint-Pierre-et-Miquelon, Saint-Barthélemy, Saint-Martin, Guadalupe, Martinica, Guiana e Polinésia Francesa, votaram no sábado, 29. Os resultados do primeiro turno darão uma ideia do sentimento dos eleitores, mas a composição final da Assembleia Nacional só será clara após o segundo turno.

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