Privatizadas, Enel e CEEE deixam população refém de apagões em SP e no RS
Privatizadas, Enel e CEEE deixam população refém de apagões em SP e no RS
Incompetência na prestação de serviço essencial aos moradores de São Paulo e Porto Alegre expõe falência de modelo privatista na gestão das companhias de energia. Minas e Energia determinou à Aneel apuração rigorosa dos fatos
Publicado pelo site do PT
Na contramão da tendência mundial de reestatização de serviços estratégicos, alguns estados brasileiros insistem em mantê-los nas mãos de empresas privadas que, ao visar lucro, se omitem em diversos itens essenciais à correta prestação dos serviços. No setor de energia o resultado são apagões sucessivos, deixando a população refém.
O que aconteceu no Rio Grande do Sul e São Paulo ao longo desta semana reflete a perversidade das privatizações do sistema de energia. Milhões de pessoas, principalmente das periferias das capitais, sofreram com a falta de respeito e de compromisso com a prestação desse serviço essencial por parte das empresas Enel, de SP, e CEEE Equatorial, do RS.
“Nossa cidade não era assim”, postou a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) em seu perfil na rede X, junto com vídeo mostrando sua casa a luz de velas e geladeira sem funcionar. Pela janela, mostrou as ruas escuras. “Fica tudo muito mais perigoso”, alertou.
“Paciência dos consumidores acabou e a irritação está evidente”, escreveu a colunista Taline Oppitz do Correio do Povo, de Porto Alegre, nesta quinta-feira (21), ao avaliar que ficará difícil para deputados estaduais que se opõem à instalação de uma CPI manterem suas posições.
“A Assembleia simplesmente não pode lavar as mãos”, destacou, ao observar que a situação das concessionárias de energia no RS está muito delicada. Taline informou ainda que uma CPI da CEEE foi instalada na Câmara Municipal de Porto Alegre, onde a falta de luz impediu a realização de sessão da própria CPI.
Mais uma vez, escreveu a colunista, as informações divulgadas pela concessionária foram pífias e previsões de retomada dos serviços inexistentes.
Falta de luz sem evento climático
Em seu Twitter, o deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) denuncia o descaso da companhia que, inclusive, cortou 36% dos seus funcionários desde 2019, conforme dados publicados pela CNN e UOL.
“A Enel alegava que o apagão de janeiro tinha sido um “evento extremo”. E agora? Aeroporto de Congonhas apagado, 25 de Março apagada e hoje o centro apagado. Cadê o evento extremo?”, cobrou ele, depois de apagão de mais de 48 horas que atingiu diversos bairros do centro de São Paulo no começo da semana. Novo apagão ocorreu na noite de quinta-feira (21).
“Não teve evento extremo nenhum. Está ficando claro que não é problema climático apenas, é um problema de gestão. Estamos vivendo uma nova crise da Enel”, assinalou Zarattini.
Em outra postagem, ele lembrou que o governador do estado foi passear em Israel, que o prefeito dorme em berço esplêndido enquanto a Enel deixa a população de São Paulo às escuras. “Chega de Enel!”, desabafou o deputado em vídeo.
Lucro X manutenção das redes
Uma vez privatizados, serviços de fornecimento de água, luz e outros se transformam num negócio que precisa dar lucros. Assim, vários itens importantes deixam de receber a atenção devida, como a manutenção das redes.
As empresas cortam funcionários e a checagem regular fica em segundo plano. E foi exatamente a falta de manutenção das redes uma das justificativas dadas pela concessionária ao jornal Folha de São Paulo em matéria desta quinta-feira (21).
“A Enel afirmou que o problema era pontual, causado pela manutenção na rede”, publicou o jornal. O que a empresa trata como “pontual” é algo que faz toda a diferença na vida das pessoas e traz milhões de reais de prejuízo para comércios, hospitais, escolas e empresas. A lentidão e a falta de respostas por parte das concessionárias são apenas dois fatores que se agregam a uma tragédia rotina das pessoas, que ficaram sem elevadores, sem bomba de captação de água, perdendo alimentos e remédios por descongelamento e pacientes sem atendimento.
“Ligamos para a Enel e cada um passa uma informação sobre a disponibilização de gerador. Informações desencontradas, nível de mentira mesmo”, disse um morador em entrevista à Folha.
Reestatizar a CEEE e fortalecer os serviços públicos é a solução, postou o site Brasil de Fato dia 23 de janeiro, época em que boa parte da população passou mais de 110 horas sem luz e água.
MME apura incapacidade das concessionárias
O Ministério de Minas e Energia determinou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) célere e rígida apuração dos fatos, “bem como responsabilização e punição rigorosa da concessionária, que tem de forma reiterada apresentado problemas na qualidade da prestação dos serviços. A interrupção se soma a diversas outras falhas na prestação dos serviços de energia elétrica pela concessionária Enel, que tem demonstrado incapacidade de prestação dos serviços de qualidade à população”, conclui a nota.
Racismo ambiental
No final de janeiro, o Rio Grande do Sul “enfrentou um momento caótico, com uma parcela significativa da população passando mais de 110 horas sem luz e água”, afirmou a deputada Reginete Bispo (PT-RS) em artigo publicado no jornal Brasil de Fato.
Ela denunciou o racismo ambiental por causa do impacto maior da falta de energia sobre as populações de regiões mais pobres.
Questão de soberania, diz especialista
“Energia é soberania, energia é segurança nacional”, defendeu a economista e diretora do Instituto Ilumina, Clarice Ferraz, em entrevista ao Jornal PT Brasil em 17 de novembro de 2023, quando explicou como as privatizações no setor elétrico estão prejudicando os serviços e ferindo o direito dos consumidores.
O setor de energia, disse ela, tem que trabalhar com novas tecnologias, investimento e inovação de infraestrutura, e o capital privado, que quer a remuneração de curto prazo, não tem como se interessar.
“Tem que pagar cientistas, físicos, matemáticos, químicos para gerar tecnologia. Tudo passa por investimento em universidades e por todos os trabalhadores, toda essa cadeia precisa se desenvolver, quem faz isso é setor privado? Não é! Então isso sai muito caro. Tudo se traduz em precarização da mão de obra e sobretudo na falta de mão de obra”, ressaltou.