Operação da PF sepulta mais uma candidatura bolsonarista no RJ
Operação da PF sepulta mais uma candidatura bolsonarista no RJ
Todas as potenciais candidaturas vislumbradas por Bolsonaro estão morrendo nas praias cariocas. A última foi a de Alexandre Ramagem. Sob seu comando, a “Abin paralela” espionou mais de 1.800 pessoas, como políticos, jornalistas e ministros do STF
Publicado 26/01/2024 18:37 | Editado 27/01/2024 12:25
Jair Bolsonaro (PL) está com a “síndrome do dedo podre” – e esta é uma boa notícia especialmente para os moradores do Rio de Janeiro. Em outubro, haverá eleições municipais. O ex-presidente quer usar a disputa no Rio para fazer uma demonstração de força política e eleger o sucessor do prefeito Eduardo Paes (PSD).
Só que todas as potenciais candidaturas vislumbradas por ele estão morrendo nas praias cariocas, a começar pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Pesquisas já mostravam que o sobrenome Bolsonaro garantia um punhado de eleitores fiéis – mas também uma rejeição que inviabiliza a vitória. A memória dos eleitores talvez evoque que o filho 01 do ex-presidente pagou mico ao disputar a prefeitura em 2016 e passar mal durante um debate na Band. Mas isso não é o pior.
Afora o escândalo das “rachadinhas” – seu feito mais lembrado do período em que foi deputado estadual no Rio de Janeiro –, Flávio agora é acusado de ter usado um esquema paralelo e ilegal da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em proveito próprio. A Operação Vigilância Aproximada, deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (25), deve não só atingi-lo – mas talvez até levar o senador para a cadeia.
Outro político que figurou na lista de apostas foi o general Eduardo Pazuello, eleito eleger deputado federal pelo PL-RJ em 2022 com 205.324 votos. Pior ministro da Saúde na história do Brasil, mas bolsonarista de carteirinha, Pazuello tentou construir uma pré-candidatura.
Segundo o jornal O Globo, Bolsonaro jamais levou essa hipótese a sério e chegou a deixar claro que se tratava de uma opção “ruim”. Foi mais longe: a seu ver, Pazuello não tinha “traquejo para encarar” o pleito majoritário. Era um eufemismo para evitar chamar publicamente um correligionário de “fraco”.
Alguns aliados começaram, então, a correr por fora – caso do pastor e deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), do ex-secretário estadual de Saúde e também deputado federal Doutor Luizinho (PP-RJ) e do senador Carlos Portinho (PL-RJ). Nenhum se consolidou.
O general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa no governo Bolsonaro e candidato a vice-presidente em 2022, virou o preferido e estava destinado a ser ungido à missão. Ciente do desafio, o militar começou a fazer o bê-á-bá da pré-campanha: contratou equipe, começou a elaborar uma plataforma eleitoral e fez umas poucas agendas.
Mas em outubro de 2023, por cinco votos a dois, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) condenou Braga Netto a oito anos de inelegibilidade por abuso de poder nos atos de 7 de setembro de 2022, feriado da Independência. Mais um caporegime da máfia bolsonarista estava fora do páreo.
Foi nesse ponto que emergiu a saída Alexandre Ramagem, delegado da Polícia Federal, comandante da Abin na gestão Bolsonaro e agora deputado federal pelo PL-RJ. Mesmo com credenciais controversas, o escolhido da vez foi bem aceito pelo eleitorado carioca mais conservador. Pesquisa AtlasIntel divulgada em 31 de dezembro o apontava na segunda colocação, com 19,1%, atrás apenas de Eduardo Paes (36,2%) e em empate técnico com o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL, 17,8%).
Ramagem, porém, foi o principal alvo da Operação Vigilância Aproximada, que contou com operações de busca e apreensão em diversos endereções relacionados ao parlamentar. Pesa contra ele a acusação de ter liderado a organização criminosa que agia à margem da lei na Abin para monitorar adversários e proteger a família Bolsonaro, sobretudo o filho 04, Renan Bolsonaro.
Entre 2019 e 2021, sob o comando de Ramagem, a “Abin paralela” espionou mais de 1.800 pessoas, como políticos, jornalistas e ministros do STF (Supremo Tribunal Federal. A vigilância criminosa foi facilitada com a aquisição do sistema First Mile, pelo qual o órgão fez mais de 66 mil acessos em dois anos.
Houve aliados – do PL, de Bolsonaro e do próprio Ramagem – que tentaram (ao menos em público) relativizar o impacto da operação e falar em “perseguição”. Nos bastidores, a conclusão é outra: a operação da PF sepultou mais uma candidatura bolsonarista no Rio de Janeiro. A extrema-direita está novamente carente de opções na cidade que é o berço político do ex-presidente.
Defender o indefensável leva o ser humano a se contradizer. O presidente do PL-RJ, deputado federal Altineu Côrtes, procurou assegurar que a candidatura de Ramagem é “irreversível”, mas, minutos depois, admitiu as complicações: “Aí faz esse espetáculo todo e, depois, os assuntos não avançam, mas acabam prejudicando a imagem e a pré-candidatura. Isso não deixa de confundir o processo eleitoral”.
Antes que o cadáver eleitoral de Ramagem esfriasse, os mais afoitos se entusiasmaram. Um deles, o ainda desconhecido Carlos Portinho – que era suplente de senador e herdou o cargo em 2020, com a morte do titular, Arolde de Oliveira – correu para as redes sociais e lembrou que está à disposição do PL para concorrer a prefeito. Pegou mal, mas o fato é a corrida pelo “Plano B” (ou “C”, ou “D”) do bolsonarismo recomeçou.
Todas as potenciais candidaturas vislumbradas por Bolsonaro estão morrendo nas praias cariocas. A última foi a de Alexandre Ramagem. Sob seu comando, a “Abin paralela” espionou mais de 1.800 pessoas, como políticos, jornalistas e ministros do STF
Publicado pelo Portal Vermelho
Jair Bolsonaro (PL) está com a “síndrome do dedo podre” – e esta é uma boa notícia especialmente para os moradores do Rio de Janeiro. Em outubro, haverá eleições municipais. O ex-presidente quer usar a disputa no Rio para fazer uma demonstração de força política e eleger o sucessor do prefeito Eduardo Paes (PSD).
Só que todas as potenciais candidaturas vislumbradas por ele estão morrendo nas praias cariocas, a começar pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Pesquisas já mostravam que o sobrenome Bolsonaro garantia um punhado de eleitores fiéis – mas também uma rejeição que inviabiliza a vitória. A memória dos eleitores talvez evoque que o filho 01 do ex-presidente pagou mico ao disputar a prefeitura em 2016 e passar mal durante um debate na Band. Mas isso não é o pior.
Afora o escândalo das “rachadinhas” – seu feito mais lembrado do período em que foi deputado estadual no Rio de Janeiro –, Flávio agora é acusado de ter usado um esquema paralelo e ilegal da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em proveito próprio. A Operação Vigilância Aproximada, deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (25), deve não só atingi-lo – mas talvez até levar o senador para a cadeia.
Outro político que figurou na lista de apostas foi o general Eduardo Pazuello, eleito eleger deputado federal pelo PL-RJ em 2022 com 205.324 votos. Pior ministro da Saúde na história do Brasil, mas bolsonarista de carteirinha, Pazuello tentou construir uma pré-candidatura.
Segundo o jornal O Globo, Bolsonaro jamais levou essa hipótese a sério e chegou a deixar claro que se tratava de uma opção “ruim”. Foi mais longe: a seu ver, Pazuello não tinha “traquejo para encarar” o pleito majoritário. Era um eufemismo para evitar chamar publicamente um correligionário de “fraco”.
Alguns aliados começaram, então, a correr por fora – caso do pastor e deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), do ex-secretário estadual de Saúde e também deputado federal Doutor Luizinho (PP-RJ) e do senador Carlos Portinho (PL-RJ). Nenhum se consolidou.
O general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa no governo Bolsonaro e candidato a vice-presidente em 2022, virou o preferido e estava destinado a ser ungido à missão. Ciente do desafio, o militar começou a fazer o bê-á-bá da pré-campanha: contratou equipe, começou a elaborar uma plataforma eleitoral e fez umas poucas agendas.
Mas em outubro de 2023, por cinco votos a dois, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) condenou Braga Netto a oito anos de inelegibilidade por abuso de poder nos atos de 7 de setembro de 2022, feriado da Independência. Mais um caporegime da máfia bolsonarista estava fora do páreo.
Foi nesse ponto que emergiu a saída Alexandre Ramagem, delegado da Polícia Federal, comandante da Abin na gestão Bolsonaro e agora deputado federal pelo PL-RJ. Mesmo com credenciais controversas, o escolhido da vez foi bem aceito pelo eleitorado carioca mais conservador. Pesquisa AtlasIntel divulgada em 31 de dezembro o apontava na segunda colocação, com 19,1%, atrás apenas de Eduardo Paes (36,2%) e em empate técnico com o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL, 17,8%).
Ramagem, porém, foi o principal alvo da Operação Vigilância Aproximada, que contou com operações de busca e apreensão em diversos endereções relacionados ao parlamentar. Pesa contra ele a acusação de ter liderado a organização criminosa que agia à margem da lei na Abin para monitorar adversários e proteger a família Bolsonaro, sobretudo o filho 04, Renan Bolsonaro.
Entre 2019 e 2021, sob o comando de Ramagem, a “Abin paralela” espionou mais de 1.800 pessoas, como políticos, jornalistas e ministros do STF (Supremo Tribunal Federal. A vigilância criminosa foi facilitada com a aquisição do sistema First Mile, pelo qual o órgão fez mais de 66 mil acessos em dois anos.
Houve aliados – do PL, de Bolsonaro e do próprio Ramagem – que tentaram (ao menos em público) relativizar o impacto da operação e falar em “perseguição”. Nos bastidores, a conclusão é outra: a operação da PF sepultou mais uma candidatura bolsonarista no Rio de Janeiro. A extrema-direita está novamente carente de opções na cidade que é o berço político do ex-presidente.
Defender o indefensável leva o ser humano a se contradizer. O presidente do PL-RJ, deputado federal Altineu Côrtes, procurou assegurar que a candidatura de Ramagem é “irreversível”, mas, minutos depois, admitiu as complicações: “Aí faz esse espetáculo todo e, depois, os assuntos não avançam, mas acabam prejudicando a imagem e a pré-candidatura. Isso não deixa de confundir o processo eleitoral”.
Antes que o cadáver eleitoral de Ramagem esfriasse, os mais afoitos se entusiasmaram. Um deles, o ainda desconhecido Carlos Portinho – que era suplente de senador e herdou o cargo em 2020, com a morte do titular, Arolde de Oliveira – correu para as redes sociais e lembrou que está à disposição do PL para concorrer a prefeito. Pegou mal, mas o fato é a corrida pelo “Plano B” (ou “C”, ou “D”) do bolsonarismo recomeçou.