Milhares de argentinos protestam no Congresso contra projetos de Milei
Milhares de argentinos protestam no Congresso contra projetos de Milei
Apesar do protocolo repressivo que cerca Buenos Aires, a manifestação ocorre de forma pacífica e cuidando para evitar confrontos.
Publicado pelo Portal Vermelho
Milhares de trabalhadores e ativistas de organizações sindicais da Argentina se reuniram na Praça dos Dois Congressos nesta quarta-feira (24) em uma mobilização marcada pela greve geral de 12 horas, entre o meio-dia desta quarta-feira e a meia-noite de quinta-feira. Convocada em oposição ao projeto de lei “Bases” e ao Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) 70/2023, ambos do novo governo liderado por Javier Milei, a manifestação já começou com momentos de tensão.
O dirigente do Sindicato dos Caminhoneiros, Pablo Moyano, foi o primeiro a falar na coluna da CGT e mirou os deputados: “Peronistas de quê? As empresas estatais não podem ser privatizadas ”, afirmou o dirigente caminhoneiro. Entretanto, iniciou o seu discurso pedindo que a Unión por la Patria rejeitasse o DNU e a lei geral. “Estamos aqui para exigir dos deputados que fazem campanha cantando a marcha peronista, e quando têm que rejeitar uma lei que vai contra os trabalhadores, eles se escondem e temos que ir procurá-los em seu gabinete”, afirmou.
“Vocês enfrentam nesta quinta-feira uma decisão histórica de dizer publicamente se votaram nos trabalhadores ou nas corporações monopolistas que estão executando este modelo econômico de Milei. Os deputados fazem blocos, sub-blocos, um peronista não pode votar neste DNU e na lei geral, que vão contra os trabalhadores e aposentados”, acrescentou. No palco da Praça do Congresso foi visto o secretário-geral da CGT, Héctor Daer; os líderes caminhoneiros Hugo e Pablo Moyano; e o chefe do Grêmio Judiciário, Julio Piumato, entre outros.
O líder sindical Luis D’Elía publicou um vídeo em suas redes sociais enquanto marchava com outros manifestantes em pleno dia de mobilização. “Na rua acompanhando o povo argentino, gritando, para quem quiser ouvir, que o país não está à venda ”, afirmou o dirigente da Federação de Terra, Habitação e Habitat. Ao mesmo tempo, chamou a atenção do presidente Javier Milei: “Aí está você, Milei. Centenas de milhares de trabalhadores nas ruas dizendo não.”
A ex-presidenta da empresa de saneamento Malena Galmarini lidera a coluna da Frente Renovador. Cercada por militantes do espaço político criado pelo marido, Sergio Massa, ela carrega uma bandeira com o lema: “O país não está à venda”.
A ex-chefe de Aysa Malena Galmarini lidera a coluna da Frente Renovador na Plaza de los dos Congresos. Cercada por militantes do espaço político criado pelo marido, Sergio Massa, ela carrega uma bandeira com o lema: “O país não está à venda”.
O governador de Buenos Aires, Axel Kicillof, desembarcou esta tarde na greve geral. No meio da multidão, o líder da Unión por la Patria desceu e foi ao encontro dos prefeitos da província de Buenos Aires que o esperavam, entre eles o prefeito de Avellaneda, Jorge Ferraresi; o de La Matanza, Fernando Espinoza; e a de Pehuajó, Pablo Zurro. Também estiveram presentes seus Ministros de Obras Públicas, Gabriel Katopodis, que viajou de trem anteriormente; e Desenvolvimento, Andrés Larroque e o jornalista dono do El Destape, Roberto Navarro.
Protocolos de repressão
O governo prometeu criar dificuldades para que a greve ocorresse, e tem começado esta operação bloqueando as entradas da cidade, onde buscas pela polícia em ônibus ocorrem. Precavidos, os sindicalistas e movimentos sociais se prepararam criando procedimentos para evitar confrontos e não bloquear as principais avenidas.
Enquanto os manifestantes se instalavam em frente ao Congresso, o governo nacional, em coordenação com o governo de Buenos Aires, implementou uma extensa operação de segurança. Caminhões hidrantes, veículos de assalto, vans com tropas e motocicletas foram posicionados nas esquinas das avenidas Callao e Corrientes, Belgrano e Entre Rios, Rivadavia e Ayacucho, entre outros locais.
Na zona sul, especificamente por volta das 9h30, a Prefeitura Naval, integrantes da Polícia Federal e de Buenos Aires impediram que uma grande concentração de manifestantes subisse a ponte Pueyrredón, desde Avellaneda (cidade da grande Buenos Aires), em direção à Avenida 9 de Julho. Isso resultou no fechamento do acesso à Avenida Maipú ao trânsito a partir das 13h, de acordo com informações da Prefeitura.
As colunas de pessoas, representando organizações como CGT (Confederação Geral do Trabalho), as duas CTA (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras da Argentina e Confederação Sindical de Trabalhadores das Américas) e a União dos Trabalhadores da Economia Popular (UTEP), avançaram ao Congresso Nacional seguindo a orientação de andar na calçada. Manifestantes carregando bandeiras e cartazes, incluindo filiados de sindicatos como o dos Caminhoneiros, da Construção Civil (Uocra) e do Pessoal Civil (UPCN), foram os primeiros a se posicionar em frente ao Congresso.
O evento contou com uma atmosfera de protesto, com manifestantes usando tambores, faixas, camisetas e até balões de ar quente. Grupos de diferentes províncias, incluindo La Rioja, Córdoba, Jujuy e Buenos Aires, se uniram à manifestação, reforçando a diversidade e amplitude da greve geral. Milei procurou enfatizar a narrativa de que os sindicalistas estariam forçando as pessoas a participar de piquetes e as lojas a fecharem de forma criminosa. Em vez disso, o movimento se agiganta de forma espontânea e pacífica.
Além disso, colunas de manifestantes deslocaram-se da província para a cidade de Buenos Aires pelos diversos acessos, enfrentando um protocolo antipiquetes implementado pelas forças federais e provinciais para evitar bloqueios nas ruas.
Em Avellaneda, um grupo significativo inscrito na CGT e em diversos movimentos sociais tentou escalar a Ponte Pueyrredón, na Avenida Mitre, em direção à Avenida 9 de Julho. No entanto, membros da Prefeitura Naval, Polícia Federal e Polícia de Buenos Aires formaram cordões para impedir o avanço, gerando momentos de tensão.
Diante dessa situação, a Comissão Provincial de Memória (CPM) anunciou a apresentação de um habeas corpus para o posto de controle das forças de segurança instalado em Puente Pueyrredón, que supostamente estava impedindo o avanço pacífico dos manifestantes em direção ao Congresso.
Em outra frente, na Panamericana, a Gendarmaria Nacional requisitou e apreendeu um ônibus que tentava entrar na cidade de Buenos Aires. O veículo, que se dirigia à manifestação, apresentava irregularidades, levando à sua apreensão e condução ao autódromo.
O cenário da greve geral reflete a polarização e a intensidade das questões em debate, enquanto as organizações sindicais e sociais buscam fazer ouvir suas vozes contra medidas governamentais que consideram prejudiciais aos trabalhadores e à sociedade em geral.
Com informações de Telam