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Às vésperas de greve geral na Argentina, tensão cresce com ameaças de Milei

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Às vésperas de greve geral na Argentina, tensão cresce com ameaças de Milei

 

Embora Centrais Sindicais convoquem manifestação expontânea, governo abre linha de denúncias de coação para participar da greve, ameaça corte nos salários e repressão.

 

Manifestantes em frente ao Palácio do Governo, durante o primeiro protesto contra o novo governo de Javier Milei

Em um cenário político cada vez mais tenso, a Argentina se prepara para uma greve nacional em 24 de janeiro, como resposta às primeiras medidas do presidente Javier Milei, que assumiu o cargo há pouco mais de um mês. No contexto de uma inflação que atingiu 211% no ano anterior, superando a da Venezuela, o país enfrenta um impasse entre o governo e os sindicatos. A greve foi convocada pela Confederação Geral de Trabalhadores (CGT), pela Confederação Sindical de Trabalhadores das Américas (CTA autônoma) e pela Central de Trabalhadores e Trabalhadoras da Argentina (CTA dos Trabalhadores).

O protesto está programado para iniciar ao meio-dia e se estender até a meia-noite, na véspera da votação das novas medidas econômicas no Congresso, agendada para 25 de janeiro.

O presidente Milei, conhecido por suas posições ultraliberais de extrema-direita, anunciou no início de seu mandato a demissão de 45 mil servidores federais, uma medida que foi posteriormente bloqueada pela Justiça. Em resposta à convocação da greve, o porta-voz presidencial, Manuel Adorni, declarou que os salários dos servidores que aderirem ao movimento serão cortados, argumentando que é razoável não remunerar quem não está trabalhando.

Adorni também enfatizou a falta de compreensão do governo em relação às demandas sindicais, chegando a criar uma linha telefônica para que trabalhadores forçados a participarem da greve denunciem os responsáveis. “Não há motivo para a greve, as razões são quase infantis, não entendemos”, afirmou.

Já o secretário-geral da Associação de Trabalhadores do Estado, Rodolfo Aguiar, declarou que a paralisação é de responsabilidade exclusiva do governo por conta das políticas que em pouco tempo empobreceram rapidamente a maioria da população.

A CGT, por sua vez, convocou a greve geral não apenas em resposta às demissões e à inflação descontrolada, mas também contra uma proposta de reforma trabalhista que, segundo a entidade, precariza as condições de trabalho, facilita demissões, elimina indenizações e restringe o direito à greve.

O cenário político se intensifica com a decisão da Justiça do Trabalho argentina de submeter a reforma trabalhista ao Supremo Tribunal de Justiça, evidenciando as controvérsias em torno das mudanças propostas. A União Industrial Argentina expressou seu apoio à reforma, argumentando que ela se adapta às novas necessidades trabalhistas e facilita a recuperação econômica.

Enquanto o governo busca desencorajar a participação na greve, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, ameaçou reprimir manifestações no centro de Buenos Aires durante o protesto. O ambiente se torna ainda mais complexo com a criação de um número de telefone para denúncias de empresários, comerciantes e trabalhadores que se sintam coagidos a participar da greve.

O ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona, anunciou a intenção de iniciar ações judiciais se a greve não for fundamentada legalmente, destacando a determinação do governo em não ceder à “extorsão”. Enquanto isso, a CGT nega qualquer pressão sobre os trabalhadores e destaca a mobilização popular como um meio legítimo de expressar descontentamento.

Manifestação legítima

Héctor Daer, líder da Confederação Geral de Trabalhadores (CGT), rebateu as acusações de pressão sobre trabalhadores em meio à crescente tensão política na Argentina, que se prepara para uma greve geral em 24 de janeiro. Daer afirmou que a central sindical “não pressiona ninguém” e que as pessoas “vão chegar por sua conta” à manifestação.

Além da greve geral, os sindicalistas estão organizando uma grande mobilização no Congresso para apoiar legisladores que votarão contra o mega-projeto de lei proposto pelo presidente Javier Milei. O projeto, intitulado “Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos” ou “Lei Ómnibus”, declara estado de emergência em diversas áreas até dezembro de 2025, com a possibilidade de prorrogação por mais dois anos.

A iniciativa do governo de Milei, que também ratifica um decreto de desregulamentação econômica, gerou protestos em todo o país desde o anúncio em 20 de dezembro. Em resposta a esses protestos, o governo implementou medidas como ameaças de perda de auxílios sociais, buscando evitar a participação popular em manifestações.

Solidariedada internacional

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) expressou total apoio à greve geral, considerando que, após a posse de Javier Milei, o governo adotou uma combinação de autoritarismo político radical e política ultraliberal que prejudica trabalhadores e a população vulnerável. A CTB destaca a importância do movimento como um dique de contenção contra as medidas consideradas draconianas enviadas por Milei ao parlamento.

A Federação Sindical Mundial (FSM), representando mais de 105 milhões de trabalhadores em 133 países, emitiu uma nota oficial expressando seu firme apoio à greve e mobilização. As medidas do novo governo são vistas pela entidade como atentados diretos aos direitos dos trabalhadores, dos sindicatos, das empresas públicas e dos recursos nacionais argentinos.

A FSM também denuncia as recentes cartas-documento enviadas a diversas organizações sindicais e sociais, relacionadas às mobilizações ocorridas em 22 e 27 de dezembro. Estas cartas instam as organizações a arcarem com os custos das operações das forças de segurança federais, gerando uma atmosfera de intimidação e restrição dos direitos fundamentais de manifestação.

A entidade sindical internacional convoca seus membros e trabalhadores em todo o mundo a se unirem aos argentinos no dia 24 de janeiro, sob o lema “Solidariedade com os trabalhadores argentinos”. O objetivo é enviar uma mensagem clara de repúdio às políticas regressivas e autoritárias que estão sendo implementadas na Argentina.

Enquanto o governo e os sindicatos se preparam para o embate, a sociedade argentina aguarda ansiosamente os desdobramentos desse cenário político conturbado que pode moldar o futuro do país. A greve geral, marcada para 24 de janeiro, se torna um marco crucial na luta entre o governo de Milei e os movimentos sindicais, com possíveis repercussões significativas para os rumos do governo Milei.

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