PIB da China cresce 5,2% em 2023, superando meta, anuncia premiê em Davos
PIB da China cresce 5,2% em 2023, superando meta, anuncia premiê em Davos
Meta oficial foi cumprida sem “estímulo massivo”, embora tenha havido cortes nas taxas de juros e ajuda fiscal. Investidores expressam cautela
Publicado pelo Portal Vermelho
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, revelou durante sua participação no Fórum Econômico Mundial em Davos que a economia da China cresceu aproximadamente 5,2% em 2023, ultrapassando a meta oficial de 5% estabelecida no início do ano. Essa notícia, divulgada um dia antes da divulgação oficial dos dados econômicos de dezembro e do ano passado, destaca os esforços do país para impulsionar a confiança na economia.
Li Qiang afirmou que, mesmo diante dos desafios, a China atingiu esse crescimento sem recorrer a um “estímulo massivo” e sem buscar ganhos de curto prazo que acumulassem riscos de longo prazo. Ele destacou os esforços contínuos para inspirar confiança na economia e no governo chinês.
As declarações do primeiro-ministro confirmaram as expectativas de muitos economistas de que a China superaria sua meta conservadora, considerando as pressões deflacionárias persistentes e a prolongada queda no setor imobiliário ao longo de 2023. O crescimento econômico da China em 2023 é visto como uma conquista significativa, diante deste cenário.
Embora Li tenha negado o uso de um “estímulo massivo”, autoridades chinesas implementaram medidas de suporte, como cortes nas taxas de juros e ajuda fiscal, para enfrentar os desafios econômicos. Essas iniciativas fazem parte dos esforços do presidente Xi Jinping de transferir a responsabilidade pelo aumento de gastos para estimular a economia para o governo central.
A atenção agora se volta para o ano de 2024, com a China considerando emitir 1 trilhão de yuan (US$ 139 bilhões) em novos títulos sob um plano especial de títulos soberanos para fortalecer a economia. A preocupação com a erosão da confiança é evidente nos dados oficiais que mostraram um investimento estrangeiro negativo no terceiro trimestre de 2023 pela primeira vez desde 1998.
O primeiro-ministro reiterou o compromisso de melhorar o ambiente para empresas estrangeiras na China, destacando a redução da “lista negativa” para investimentos estrangeiros, a remoção de restrições no setor manufatureiro e a garantia de tratamento justo para empresas estrangeiras. As preocupações de multinacionais sobre fluxo transfronteiriço de dados e participação em compras governamentais estão sendo abordadas através da formulação de políticas relevantes.
As ações de Li e o discurso enfatizam a busca da China por estabilidade econômica e laços comerciais mais sólidos, especialmente após um ano de atritos com os Estados Unidos. A recente eleição em Taiwan, que pode fortalecer os laços com Washington, adiciona uma camada extra de complexidade às relações sino-americanas.
Embora a China tenha superado sua meta oficial de crescimento, os mercados reagiram com preocupação. As ações de Hong Kong caíram mais de 4%, atingindo o ponto mais baixo em mais de um ano. A incerteza sobre as perspectivas econômicas do país continua a influenciar negativamente os mercados, enquanto a necessidade de medidas políticas adicionais para fortalecer a economia é destacada.
O ano de 2024 é visto como crucial para a China, com desafios significativos pela frente. A desaceleração do crescimento, a queda no setor imobiliário e a ameaça de uma espiral de deflação da dívida exigirão decisões políticas e medidas econômicas determinantes para evitar uma armadilha de deflação e reavivar o crescimento sustentável. Analistas concordam que o cenário econômico chinês permanece dinâmico, e a resposta eficaz às atuais complexidades será fundamental para moldar o futuro econômico do país.
Cautela do mercado
Uma faceta notável foi a retomada da divulgação da taxa de desemprego juvenil, que atingiu um recorde de 21,3% em junho. Ao final de dezembro, a taxa de desemprego juvenil foi de 14,9%, excluindo os recém-formados em busca de trabalho. A taxa de desemprego nacional permaneceu estável em 5,2%.
Tianchen Xu, economista sênior para a China na Economist Intelligence Unit, comentou que o desempenho econômico de 2023 merece uma “aprovação”, mas ressaltou a importância de uma resposta mais robusta ao colapso imobiliário e um maior comprometimento com o setor privado. Kang Yi, diretor do departamento de estatísticas, afirmou que o governo continuará trabalhando para expandir a demanda interna e aprofundar as reformas do lado da oferta, apesar das “dificuldades e desafios” globais.
O investimento em projetos de recuperação de desastres e medidas para revitalizar o setor imobiliário foram destacados como parte dos esforços para sustentar o crescimento econômico.
O Banco Mundial prevê que o crescimento chinês abrandará para 4,5% em 2024, refletindo desafios como a demanda interna mais fraca e tensões geopolíticas crescentes. O desempenho econômico de 2023 é caracterizado como um ano marcado por desafios e recuperação desigual em toda a economia.
Robin Xing, economista-chefe da China no Morgan Stanley, destaca que a possibilidade de entrar em um ciclo vicioso de deflação requer esforços políticos significativos. Empresas começaram a reduzir a dívida, e o mercado de trabalho enfrenta desafios, com expectativas salariais em deterioração. A reunião anual do Congresso Nacional do Povo, em março, provavelmente estabelecerá uma meta de crescimento econômico em torno de 5%, mas os analistas enfatizam a necessidade de um estímulo fiscal direcionado ao consumo para reaquecer a economia.
Uma preocupação adicional é o setor imobiliário, onde recentes iniciativas, incluindo um “empréstimo suplementar garantido” de 350 bilhões de yuans, buscam estabilizar a construção civil. Chris Beddor, diretor-adjunto de pesquisa da China na Gavekal, sugere que o esforço atual pode ser suficiente para estabilizar a atividade de construção, mas a incerteza persiste nas vendas de imóveis. Uma possível crise imobiliária mais profunda poderia exigir um pacote de estímulo mais substancial.
Alicia García-Herrero, economista-chefe para a Ásia-Pacífico na Natixis, destaca a gravidade da deflação para um país com rápido acúmulo de dívida pública, apontando para a necessidade de reformas e um pacote fiscal que direcione o consumo. Diante desse cenário, analistas concordam que 2024 é um ano crucial para a China, onde decisões políticas e medidas econômicas serão determinantes para evitar uma armadilha de deflação da dívida e reavivar o crescimento sustentável.