Professores denunciam “desprezo histórico” pelos recursos do Fundeb, em SP
Professores denunciam “desprezo histórico” pelos recursos do Fundeb, em SP
Estado retém verbas do Fundeb para educação básica por cinco anos. Dirigente da Apeoesp denuncia prática e anuncia busca de apoio popular para PEC que barra propostas de corte
Publicado pelo Portal Vermelho
O estado de São Paulo enfrenta críticas e preocupações em relação à sua gestão dos recursos destinados à educação básica, conforme apontado em relatórios recentes do Ministério Público de Contas (MPC) de São Paulo. De acordo com os documentos, nos últimos cinco anos (2018-2022), o governo estadual não aplicou integralmente os recursos provenientes do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Os relatórios destacam que a legislação que rege o Fundeb estabelece a obrigatoriedade de utilização integral dos fundos no mesmo ano em que são disponibilizados. No entanto, essa regra não teria sido seguida.
Em meio a mais esta crise educacional que assola o estado de São Paulo, a secretária de Assuntos Educacionais e Culturais da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Francisca Pereira da Rocha Seixas, expressou preocupações sérias sobre o tratamento dispensado à educação pública paulista e descreveu a situação como “gravíssima” e com impactos significativos sobre os profissionais da educação e o desenvolvimento dos estudantes. Em uma entrevista ao Portal Vermelho, ela destacou a falta de investimento adequado, desvios de verbas e a proposta de cortes orçamentários do governo estadual.
“É sempre o desprezo pela educação pública, porque sem financiamento, não há o que se falar em educação pública de qualidade. E o governo de São Paulo faz isso tudo e não tem respeito pelo piso salarial profissional nacional. Em vez de investir os 70% do Fundeb na valorização dos profissionais de educação, fica desviando para tudo quanto é lugar. E tá demonstrado pelo Tribunal de Contas que ele não utiliza os recursos da educação, nem do Fundeb”, afirma Francisca.
A denúncia da Apeoesp ganha respaldo nos últimos relatórios do MPC, que revelam que o governo estadual aplicou, em média, apenas 89,4% do Fundeb nesse período, deixando de utilizar cerca de R$ 10,2 bilhões destinados à educação.
“Como sempre temos dito, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) de São Paulo comprova que os sucessivos governos do estado mais rico da nação sempre desprezaram a educação pública e, pior, nem a verba destinada pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), do qual 70% das verbas deveriam ser destinadas aos salários dos profissionais, tem sido aplicada desde 2018”, afirma Francisca.
Uma emenda constitucional de 2020 estabelece claramente a destinação dos recursos do Fundeb: 70% para remuneração dos profissionais da educação básica em efetivo exercício na rede pública e 30% para manutenção e desenvolvimento do ensino, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Essa última categoria abrange diversas áreas, como bolsas de estudos, manutenção de bens, pesquisas para melhoria da qualidade do ensino, aperfeiçoamento dos profissionais e compra de material didático.
O MPC apontou a ilegalidade dos repasses para pagamento de aposentados, contrariando a legislação que determina que 70% dos recursos do Fundeb devem remunerar os profissionais da educação básica em efetivo exercício na rede pública. O Supremo Tribunal Federal (STF), em análise de uma ação civil pública em 2020, reforçou a proibição de incluir o pagamento de proventos de inativos no conceito de gastos com manutenção e desenvolvimento do ensino. Apesar dos alertas e críticas, o Tribunal de Contas nunca rejeitou as contas do governo, e a Assembleia Legislativa sempre as aprovou.
Diante desse cenário, o atual governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), propõe um corte de verbas para educação em 2024, alegando a necessidade de reduzir o investimento mínimo anual em educação de 30% para 25% das receitas com impostos. A Secretaria Estadual de Educação nega irregularidade, mas a dirigente da Apeoesp e o MPC alertam para os impactos negativos dessas medidas na qualidade da educação pública.
O governador Tarcísio de Freitas, critica Francisca, tenta se eximir da responsabilidade do estado em investir na educação pública, propondo cortes na já escassa verba destinada ao setor. A dirigente sindical destaca que esse cenário é agravado pelo envolvimento dos governos com a iniciativa privada através de organizações sociais, canalizando recursos públicos para empresas sem compromisso efetivo com a qualidade educacional.
“Os salários dos profissionais da educação do estado de São Paulo estão tão irrisórios, tão distantes da realidade e da necessidade dos profissionais e da educação, assim como as escolas estão abandonadas, sem os recursos necessários para um bom desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem”, enfatiza Seixas. Ela acrescenta que a situação atual reflete décadas de descaso, resultando na estagnação do sistema educacional e aprofundamento das desigualdades.
A Apeoesp está mobilizando a população para apoiar um projeto de Emenda Constitucional (PEC) de iniciativa popular, buscando garantir que os recursos destinados à educação sejam aplicados de acordo com as normas legais e que os cortes propostos sejam revistos. “Estamos coletando assinaturas para um projeto de PEC de iniciativa popular, para fazer tramitar, e barrar essa tentativa de Tarcísio de reduzir as verbas de educação”, diz ela.
A educação pública, como destaca a secretária Seixas, precisa ser vista como um investimento necessário para o desenvolvimento autônomo do país e como uma das principais formas de combate às desigualdades, injustiças, discriminações e preconceitos. O momento pede uma ação coletiva para garantir um futuro mais promissor para a educação no estado mais populoso do Brasil. A Apeoesp convoca a sociedade a se unir na defesa desse direito fundamental.