Cid confirma delação premiada e deixa Bolsonaro mais encalacrado com a Justiça
Cid confirma delação premiada e deixa Bolsonaro mais encalacrado com a Justiça
Polícia Federal aceitou a proposta de delação de Mauro Cid, que deu vários depoimentos nos últimos 20 dias. Rogério Correia defende nova convocação do ex-auxiliar de Bolsonaro à CPMI do Golpe
Publicado pelo Site do PT
O tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro investigado por fraude de cartões de vacinas, desvio das joias sauditas e tentativa de golpe de Estado, esteve no final da tarde de quarta-feira (6) no STF e confirmou que fará delação premiada, segundo o Blog da Andréa Sadi, do portal G1. “Ele foi de livre e espontânea vontade”, escreveu a jornalista. A Polícia Federal aceitou a proposta de delação de Mauro Cid, que deu vários depoimentos nos últimos 20 dias.
“Mauro Cid vai fazer delação premiada e com isso a necessidade de voltar à CPMI do golpe aumenta. Requerimento de minha autoria já está aprovado. Relembre as acusações contra ele”, postou no Twitter o deputado Rogério Correia (PT-MG) ao compartilhar link do blog.
As condições para firmar o acordo de delação premiada ainda precisam ser definidas pelo Ministério Público Federal (MPF) e ela só passa a valer após homologação (aval) do STF, conforme divulgou a jornalista.
“O juiz Marco Antônio realizou uma audiência com Mauro Cid e seu advogado para verificar se o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro realmente quis fazer delação à Polícia Federal. Agora, o ministro do STF Alexandre de Moraes vai analisar se homologa ou não a delação”, detalhou Andrea Sadi, ao informar também que ainda não há informações sobre o foco da delação, pois Cid é investigado em mais de um caso.
“Feriado de 7 de setembro tem a marca azeda para o bolsonarismo: em paz e sem ameaças de golpe, com Mauro Cid decidido a contar tudo e TCU questionando a viagem da fuga no fim de mandato”, comentou Rogério Correia no Twitter ao postar matéria do site Metrópoles com o título “O ‘campo minado’ que Cid deixou para Bolsonaro”.
“Mauro Cid está no centro de investigações que cercam Bolsonaro (…) Hoje ele é visto como o maior trunfo dos investigadores para se descobrir tudo o que se passava no entorno do então chefe do Executivo (…) Tudo pode sair da boca de Cid, cuja função oficial era a de, exatamente, assessorar o ex-presidente e lidar com interlocutores (…) Cid centralizava tudo”, diz a matéria do Metrópoles.
O site apurou também que, devido à grande proximidade com o ex-presidente e à sua boa formação acadêmica, Cid tem condições de “explorar eventos com profundidade e apresentar provas com detalhamento”. A matéria segue dizendo que Cid era uma espécie de “faz tudo” que servia de anteparo do então presidente.
“Todo tipo de informação e apelo chegava ao ex-ajudante de ordens. Inclusive, eventualmente, contatos de empresários interessados em participar do governo e até militares com ambições golpistas (…) O ex-ajudante de ordens pode desmentir versões e implicar o ex-chefe”, escreveram os repórteres do Metrópoles que assinam a matéria, Maria Eduarda portela e Arthur Guimarães.
Trajetória de cumplicidade com o chefe na prática de crimes
Escolhido para integrar a equipe de Bolsonaro antes da posse de 2019, Mauro Cid tinha como tarefas ajudar nas lives, filmar o “cercadinho” e intermediar encontros entre o ex-presidente e autoridades estrangeiras. Ele recepcionava visitantes no Palácio da Alvorada, tinha acesso privilegiado ao celular do ex-presidente e tinha acesso às contas bancárias.
Preso dia 3 de maio na Operação Venire, que investiga falsificação de cartões de vacina, e tratado pela PF como membro da quadrilha formada, entre outros, por Bolsonaro, sua esposa Michelle, o general Mauro Lourena Cid, que é seu pai, Mauro Cid passou mais de 10 horas depondo na sede da PF, em Brasília, dia 28 de agosto. A PF apurava a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pelo hacker Walter Delgatti Neto. Desde então, Mauro Cid já vinha negociando o acordo de delação, segundo Andrea Sadi.
Dia 31 de agosto, quando a PF realizou oitivas simultâneas para evitar a combinação de versões na investigação do desvio e venda das joias dadas de presente por autoridades estrangeiras ao Estado brasileiro, Mauro Cid e seu pai decidiram falar, ao contrário de Bolsonaro e Michelle. Mauro Cid levou as joias em sua mala no avião da Presidência, dia 30 de dezembro de 2022, quando Bolsonaro foi para Orlando nos Estados Unidos e não passou a faixa ao presidente Lula.
Ajuda do pai general “camelô de luxo”
A PF já tem provas de que os valores obtidos por Mauro Cid e seu pai, antigo companheiro de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), com as vendas das joias foram convertidos em dinheiro vivo e entregue a Bolsonaro. Mauro Cid levou as joias para os Estados Unidos e seu pai teria atuado tanto para vendê-las como para ajudar a recomprá-las quando o TCU ordenou que Bolsonaro as devolvesse. O general Lourena Cid ficou conhecido como “camelô luxo” porque era o responsável por negociar as joias e os demais bens nos Estados Unidos, segundo a PF, e recebia os valores em sua conta bancária.
Apreendido pela PF, o celular de Mauro Cid foi a fonte de várias evidências de crimes. Uma das mensagens mostra que ele e um ex-assessor de Bolsonaro, coronel Marcelo Câmara, discutiram sobre a legalidade da venda de joias.
O relatório da PF mostrou que Mauro Cid teria intermediado a venda de uma caixa de joias dada ao ex-presidente pelo governo saudita a uma loja de luxo de Nova York. As peças foram colocadas em destaque num catálogo da Fortuna Auction, com preços de US$ 120 mil a US$ 140 mil e o leilão para compra das joias foi em fevereiro. Segundo o TCU, os presentes deveriam ficar no acervo da União.
A PF encontrou também no celular de Cid uma minuta para a decretação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) com previsão de estado de sítio “dentro das quatro linhas” da Constituição, termo muito usado por Bolsonaro.
Dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostrou que Mauro Cid movimentou R$ 3,7 milhões entre julho de 2022 e maio de 2023, valores incompatíveis com o patrimônio do tenente-coronel, que tinha salário bruto de R$ 26,2 mil.
Da Redação