EUA fornecem à Ucrânia armas que criam campos minados para civis
EUA fornecem à Ucrânia armas que criam campos minados para civis
Bombas cluster são proibidas no mundo e podem ser consideradas crime de guerra por explodir posteriormente ao serem pegas ou pisadas.
Publicado pelo Portal Vermelho
Os Estados Unidos anunciaram que estão atendendo a um pedido ucraniano de fornecer as controversas munições cluster, de fragmentação, por considerar que a Ucrânia está ficando sem munição para se defender.
A medida foi criticada por grupos de direitos humanos, já que a arma é proibida por mais de 100 países. Grupos de direitos humanos descrevem as munições cluster como “abomináveis” e até mesmo as consideraram um crime de guerra.
No início da guerra, quando a Casa Branca foi questionada sobre as alegações de que a Rússia estava usando bombas de fragmentação e a vácuo, o então secretário de imprensa disse que seria um potencial “crime de guerra” se fosse verdade. Agora, os EUA se encontram neste terreno imoral que gera divisão entre os aliados.
Um porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia descreveu a ação como um “ato de desespero” e “evidência de impotência diante do fracasso da tão divulgada ‘contra-ofensiva’ ucraniana”. Na semana passada, o comandante-em-chefe militar da Ucrânia, Valery Zaluzhny, disse que a campanha recente foi prejudicada pela falta de poder de fogo e expressou frustração com as entregas de armas prometidas pelo Ocidente.
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As munições cluster são um método de fragmentação de um grande número de pequenas bombas de um foguete, míssil ou projétil de artilharia que as espalha em pleno voo sobre uma ampla área. Elas têm uma taxa de falha e podem permanecer no solo prestes a serem detonadas, o que cria um campo minado para civis.
Ao explodir posteriormente ao serem pegas ou pisadas, matam ou mutilam a vítima. No sul do Líbano, as munições cluster disparadas por Israel durante a guerra de 2006 continuam a colocar civis em perigo até hoje.
Tratado cluster
Mais de 100 países, incluindo Reino Unido, França e Alemanha (e a maioria dos outros países da OTAN), assinaram um tratado internacional – a Convenção sobre Munições Cluster – que proíbe o uso ou armazenamento dessas armas.
No entanto, nem Rússia, Ucrânia ou EUA assinaram a Convenção. Mas os Estados Unidos já criticaram muito o uso excessivo da arma pela Rússia, enquanto faz vista grossa para o uso ucraniano.
O presidente americano Joe Biden disse que demorou “um tempo para ser convencido a fazer isso”, mas agiu porque “os ucranianos estão ficando sem munição”.
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O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, agradeceu ao presidente dos EUA por um pacote de ajuda militar “oportuno, amplo e muito necessário” no valor de US$ 800 milhões (R$ 3,9 bilhões).
O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, sugeriu que o país “desencoraje” o uso de bombas de fragmentação, enquanto a ministra da Defesa da Espanha, Margarita Robles, disse que seu país tem um “compromisso firme” de que certas armas e bombas não podem ser enviadas para a Ucrânia.
Mas a Alemanha, que é signatária do tratado, disse que, embora não forneça essas armas à Ucrânia, entende a posição americana. “Temos certeza de que nossos amigos americanos não tomaram a decisão de fornecer tal munição levianamente”, disse o porta-voz do governo alemão Steffen Hebestreit.
O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, sugeriu que a aliança não se posicione sobre o assunto, deixando para os estados individuais fazerem suas próprias políticas.
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O Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, disse no briefing diário da Casa Branca de sexta-feira que as autoridades “reconhecem que as munições de fragmentação criam um risco de danos civis” devido às bombas não detonadas. Mas ele admite também que a produção desse tipo de armas pode cobrir um intervalo entre a produção de outros armamentos. “Não deixaremos a Ucrânia indefesa em nenhum momento deste período de conflito”, disse ele.
Houve uma reação mista entre o Partido Democrata do presidente dos EUA. Mais de uma dúzia de parlamentares se manifestou contra o plano.
A Coalizão de Munições Cluster dos EUA, que faz parte de uma campanha internacional da sociedade civil que trabalha para erradicar as armas, disse que elas causariam “maior sofrimento, hoje e nas próximas décadas”.
Sarah Yager, diretora da Human Rights Watch em Washington, chamou a ação dos EUA de “devastadora”. “Elas são absolutamente horríveis para os civis.” Yager disse em uma entrevista na televisão. “Acho que quando os legisladores e formuladores de políticas aqui nos Estados Unidos virem as fotos de crianças com membros amputados, pais feridos, mortos por nossas próprias munições cluster americanas, haverá um verdadeiro despertar para o desastre humanitário que isso é.”
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O escritório de direitos humanos da ONU também criticou, com um representante dizendo que “o uso de tais munições deve parar imediatamente e não deve ser usado em nenhum lugar”.