A Farsa do “Liberal”, Por CÍntia Dias
A farsa do “liberal”
Cíntia Dias*
O princípio do liberalismo é a noção de liberdade do indivíduo. De acordo com o dicionário, Liberalismo é uma corrente política e moral baseada na liberdade e igualdade perante a lei. Portanto, o liberal, racionalmente, preza pela liberdade de escolha do indivíduo (moral) e do mercado (sistema).
Mas, o sujeito social é complexo, sem o desenvolvimento cognitivo critico, tende a agir irracionalmente com bandeiras das quais ele próprio não assume.
Crianças uniformizadas nas ruas acompanhando uma manifestação sobre opressão dos corpos relatam que estão lá porque vale ponto na nota final. Essa condição é a máxima da doutrinação violenta de jovens e crianças. Mas, a hipocrisia não se revela só na compra de números para manifestação, ela se reforça no discurso. Ora, deputados eleitos com a pauta da moral e do bom costume acompanham a manifestação “pela vida”, em suas redes sociais, como em qualquer outro lugar defende a morte de jovens pobres e principalmente pretos.
Goiás lidera o ranking de mortes violentas de pessoas trans, isso quer dizer que pessoas não têm liberdade de escolhas sobre seu corpo. Disputa ranking também com morte de jovens pretos, ou seja, mais uma vez a periferia e a negritude não têm escolha de ser livre, são suspeitos assim que nascem. Este Estado, que assume a postura da bala, tira diariamente a vida de mulheres, como se elas não fossem gente, ou a vida não fosse um direito das mulheres, da negritude e dos LGBTs.
Uma sociedade que não importa com as pessoas vivas ou mortas é uma sociedade doente. Que defende o direito à vida, matando pessoas, é uma sociedade hipócrita. E sujeitos que veneram a violência e opressão dos corpos de outros não são liberais. Estão muito mais próximos a assassinos cruéis e sem moral para caminhar entre crianças e adolescentes.
Ninguém é livre no liberalismo, porque as condições materiais, nesta sociedade mercantilista, definem o limite da liberdade de cada um. Ninguém é livre se não tem oportunidades. E, privado de conhecimento, o sujeito não é capaz de ser livre para escolher. Falácias que até aglutinam e elegem farsantes, mas que são desmontados pelas estatísticas oficiais dos próprios “governos” liberais.
A única forma de mudar essa vida miserável é reapropriação da riqueza social. O sujeito histórico tem acesso à riqueza do seu trabalho, da produção das mercadorias que ele produz. Trabalho comunitário, cooperativo, educação humana são princípios de garantir liberdade e direito de recuperação do poder de decisão sobre suas vidas e histórias. Sem mordaças e, com conhecimento, dias melhores virão.
*Cíntia Dias é socióloga, feminista e presidente do Psol Goiás
Foto: redes sociais