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O petróleo é deles: como os acionistas tragam os lucros da Petrobras

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O petróleo é deles: como os acionistas tragam os lucros da Petrobras

 

Maior empresa brasileira virou “uma máquina de gerar dividendos para os acionistas, sem compromisso com o desenvolvimento nacional e a soberania do País”, conforme denuncia a FUP

 

A Petrobras anunciou ter alcançado um lucro líquido recorde de R$ 188,3 bilhões em 2022, sendo R$ 43,3 bilhões apenas no quarto trimestre. A notícia, divulgada nesta quarta-feira (1/3), representa uma alta de 77% em relação ao lucro de R$ 106,6 bilhões registrado em 2021. Nem por isso, porém, o resultado será favorável ao conjunto dos brasileiros.

Tudo porque os dividendos da Petrobras referentes a 2022 também serão recordes e vão superar os ganhos ao longo do ano. Nascida há 70 anos nos marcos da campanha “O Petróleo é Nosso”, a maior empresa brasileira virou “uma máquina de gerar dividendos para os acionistas, sem compromisso com o desenvolvimento nacional e a soberania do País”, conforme denuncia a FUP (Federação Única dos Petroleiros). Ao tragarem avidamente um lucro histórico, os acionistas mostram que, na prática, o petróleo é deles.

“Somente em 2022, já foram adiantados aos investidores R$ 180 bilhões em dividendos referentes aos três primeiros trimestres. Ou seja, os acionistas já receberam praticamente todo o lucro que a estatal registrou em 2022”, detalha a entidade. “Com a distribuição dos dividendos do quarto trimestre, esse montante pode chegar a R$ 215,8 bilhões – mais do que o dobro dos já absurdos R$ 101,4 bilhões que foram pagos em 2021.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também criticou a megapartilha do lucro da empresa. “A Petrobras entregou de dividendos mais de R$ 215 bilhões, quando ela deveria ter investido metade no crescimento desse país, na indústria brasileira”, disparou Lula, nesta quarta-feira (2), durante a solenidade de relançamento do Bolsa Família, em Brasília.

“Houve um lucro de R$ 195 bilhões – e quanto foi o investimento da Petrobras? Quase nada!”, acrescentou o presidente. “No nosso tempo, era uma empresa de desenvolvimento desse país. Agora, é uma empresa exportadora de óleo cru. Não foi para isso que descobrimos o pré-sal.”

O montante dos dividendos se torna ainda mais escandaloso diante do permanente risco inflacionário que ronda os combustíveis no Brasil desde a implantação, em 2016, da chamada “política de preços” da Petrobras. No mercado nacional, os preços da gasolina e do etanol estão atrelados tanto às variações cambiais quanto à cotação internacional do petróleo.

O nome técnico dessa política, imposta no governo Michel Temer, é “preço de paridade de importação” (PPI). Ao adotá-la, o Brasil abriu mão de controlar os preços no setor e se sujeitou ao mercado.

Como o governo Lula decidiu encerrar a desoneração dos combustíveis, em vigor desde 2022, haverá alta no valor dos combustíveis vendidos “na ponta”. Assim, enquanto os acionistas se refastelam com os lucros gigantescos da Petrobras, o consumidor pagará o custo da festa.

“Os megadividendos que a Petrobrás paga aos acionistas têm superado, em muito, os investimentos da empresa nos últimos anos”, reforça a FUP. “Em 2022, mais uma vez, a estatal realizou uma tímida política de investimentos, com encolhimento de patrimônio e perda de capacidade produtiva. Foram investidos menos de US$ 10 bilhões, o que equivale a cerca de 52 bilhões de reais, pelo câmbio atual. Ou seja, um quarto dos valores pagos em dividendos.”

Em resposta a esse descalabro, o novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou nesta quarta que a “abstração” da política de preços da empresa pode estar com os dias contados. “Se (a Petrobras) julgar necessário, haverá mais de uma referência para ter o melhor preço para o consumidor”, resumiu Prates a jornalistas. “Quando fala em PPI, parece que virou um dogma esse negócio – criaram esse nome e isso parece que dominou tudo. Não é necessariamente assim.” É o que esperam não apenas os eleitores de Lula – mas a imensa maioria dos brasileiros.

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