Centrais sindicais cobram de Lula salário mínimo de R$ 1.343
Centrais sindicais cobram de Lula salário mínimo de R$ 1.343
Lula criou grupo de trabalho, com representantes do governo, do empresariado e dos trabalhadores para elaborar uma proposta consensual de valorização do salário mínimo
Publicado pelo Portal Vermelho
As dez centrais sindicais brasileira entregaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta quarta-feira (18), o documento “Prioridades da Pauta da Classe Trabalhadora para 2023”, que lista reivindicações ao novo governo. Em encontro no Palácio do Planalto, as entidades cobraram de Lula pontos como a volta da política de valorização do salário mínimo, o fortalecimento da negociação coletiva e dos sindicatos, além da regulamentação do trabalho por aplicativos.
“Há aqueles que tentam impor um debate ‘responsabilidade fiscal contra responsabilidade social’”, criticou Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). “A responsabilidade fiscal não pode ser o custo dos maus-tratos ao povo pobre, ao povo indigente, ao povo que padece de insegurança alimentar, ao povo que não tem um prato de comida. O custo fiscal precisa ser um esforço combinado.”
Em nome dos sindicalistas, Adilson defendeu que o salário mínimo chegue, ainda em 2023, a R$ 1.343. No primeiro dia do ano, o piso salarial dos brasileiros passou de R$ 1.212 para R$ 1.302 – um reajuste nominal de 7,42%. Mas, como a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) foi de 5,93% no ano passado, o aumento real (acima da inflação) se limitou a 1,41%.
Na visão das centrais, é preciso retomar imediatamente a política de valorização permanente do salário mínimo, que foi adotada por Lula em seu primeiro mandato na Presidência da República (2003-2006). Além de repor a inflação do ano anterior, o reajuste levava em conta o crescimento do PIB ao longo de dois anos.
Como essa fórmula foi abandonada nos governos de Michel Temer (2016-2018) e Jair Bolsonaro (2019-2022), o salário mínimo viveu, na prática, um processo de desvalorização, acumulando uma grande defasagem. Por isso, os sindicalistas defendem que, excepcionalmente em 2023, a gestão Lula já anuncie um significativo aumento real. O valor de R$ 1.343 proposto pelas centrais corresponde a um reajuste de 10,53%, sendo 5,93% relativos à inflação de 2022 e outros 4,60% equivalentes ao crescimento do PIB em 2021.
“O salário mínimo de R$ 1.342 importa muito para a vida de 60 milhões de brasileiros”, afirmou Adilson, da CTB, referindo-se ao número aproximado de trabalhadores, aposentados e pensionistas que têm renda atrelada ao piso nacional. “O debate do salário mínimo não pode ser pautado pelo ‘deus’ mercado. Quem depende do salário mínimo é quem já não consegue fazer mais o supermercado.”
O líder cetebista propôs que Lula, à semelhança do ex-presidente Getúlio Vargas, aproveitasse a celebração do 1º de Maio, o Dia Internacional do Trabalhador, para elevar o salário mínimo. Como o presidente é corintiano, Adilson brincou que o ato deveria ocorrer na Arena Corinthians, em Itaquera, na zona leste de São Paulo. “Queremos você no Itaquerão anunciando o salário mínimo das centrais sindicais.”
Outras pautas
As centrais também reivindicaram mudanças na legislação do trabalho, com o fim dos retrocessos impostos pela reforma trabalhista de 2017. Para o presidente da Força Sindical, Miguel Torres, é necessário “atualizar a estrutura sindical brasileira”, para “ampliar sua representatividade”.
Segundo Miguel, o movimento sindical lutará por um novo modelo de financiamento de suas atividades, já que a reforma extinguiu arbitrariamente o imposto sindical. “Nós queremos que a negociação seja valorizada, que os trabalhadores decidam o que pagar e como pagar ao seu sindicato”, sintetizou. Essa contribuição, conforme o documento das centrais, deve ser “aprovada em assembleias representativas e democráticas” de cada base.
Já Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), defendeu a regulação das relações de trabalho mediadas por plataformas e aplicativos, como Uber, Rappi e iFood. A seu ver, os trabalhadores por aplicativos representam hoje o que eram os personagens do romance Os Miseráveis (1862), do francês Victor Hugo. “Que busquemos alternativas para a vida desse trabalhador”, conclamou Patah.
Na cerimônia, Lula assinou um decreto que instala um grupo de trabalho, composto por representantes do governo (como os ministérios de Trabalho, da Fazenda e da Previdência Social), do empresariado e dos trabalhadores. O grupo terá 45 dias para elaborar uma proposta consensual de valorização do salário mínimo. “Vocês estão com sede de democracia e participação”, afirmou Lula.
Falando em “construir um novo tempo”, o presidente acusou seus antecessores, Temer e Bolsonaro, de “desmontarem um conjunto de direitos que a classe trabalhadora construiu”. Conforme Lula, “a melhor forma de fazer distribuição de renda” é garantir reajustes reais para o salário mínimo. “Não adianta o PIB crescer se ele não for distribuído com o trabalhador brasileiro. O salário mínimo tem que crescer de acordo com o crescimento da economia.”