Morre Papa Emérito Bento XVI, pontífice que renunciou
Morre Papa Emérito Bento XVI, pontífice que renunciou
Bento, que morreu aos 95 anos, em 2013 se tornou o primeiro papa em 600 anos a renunciar após escândalos financeiros da igreja, deixando um legado intelectual conservador.
Publicado pelo portal Vermelho
O Papa Emérito Bento XVI, nascido Joseph Alois Ratzinger, morreu aos 95 anos, anunciou o Vaticano. Sua morte neste sábado (31) ocorreu dias depois que o Papa Francisco pediu orações por seu antecessor, dizendo que estava “muito doente”. Seu curto pontificado foi marcado pela trajetória intelectual e conservadora, que embasou o pontificado de João Paulo II.
Embora a história julgue Bento XVI pelas oportunidades perdidas e as disputas internas dentro da Igreja Católica, especialistas afirmam que o legado intelectual, acadêmico e teológico que ele deixou agora é imenso.
A Assessoria de Imprensa da Santa Sé disse que Bento morreu no mosteiro Mater Ecclesiae, que ele escolheu como residência após renunciar em 2013. o conclave elegeu Ratzinger pontifex maximus, em 19 de abril de 2005
Nascido na Alemanha e criado na Baviera, passaria a ser conhecido como Bento XVI.
Verdade moral e omissão estrutural
Após a Segunda Guerra Mundial, ele primeiro estudou teologia e filosofia e lançou as bases para o que viria quando se tornou capelão em Munique em 1951.
Ratzinger então fez seu nome como acadêmico. Primeiro, ele obteve um doutorado, depois tornou-se professor na Universidade de Bonn com sua palestra inaugural sobre “o Deus da fé e o Deus da filosofia”.
Em 1981, o conservador Papa João Paulo II chamou Ratzinger a Roma, onde se tornou prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, a mais antiga entre os departamentos da Cúria Romana.
Ratzinger passou a ser o braço direito do Papa João Paulo II. O que o Papa proclamou, Ratzinger sustentou teologicamente, o que acabou tornando-o sucessor natural, após 35 anos como mão direito do pontificado.
Ratzinger foi considerado por muitos como um dos teólogos mais importantes desse tempo, que conheceu o Vaticano de dentro para fora, incluindo processos, instituições, pessoas e maquinações da Cúria. Ele possuía todos os pré-requisitos para um pontificado de sucesso.
Especialistas consideram que a maior contribuição de Bento XVI à Igreja Católica através de suas encíclicas tem sido sua insistência no ensinamento da Igreja sobre verdades morais – que as decisões éticas são baseadas em uma moralidade objetiva, e não à mercê de crenças subjetivas e quiméricas que ele rotulou de ‘a Ditadura do relativismo’.
Durante seu mandato, Bento XVI se estabeleceu como um papa que poderia e iria alcançar as pessoas fora dos dogmas e da natureza encastelada do Vaticano. Ele não tinha medo de ser impopular e se articulava para desmobilizar a cultura católica liberal-progressista, que ganhou evidência com o Papa Francisco, posteriormente.
Bento XVI também introduziu mudanças significativas durante seu papado. Ele iniciou o processo de abordar o abuso sexual generalizado e a pedofilia entre o clero, bem como iniciou um diálogo inter-religioso às vezes controverso com igrejas irmãs cristãs, e outras religiões importantes, como o judaísmo, o islamismo , budismo e hinduísmo.
Por outro lado, Bento XVI falhou em inaugurar uma mudança de paradigma muito necessária dentro da Igreja Católica e do papado. Ao contrário do Papa Francisco, ele não teve sucesso em reformular o papado para ser o porta-voz de uma Igreja Católica global pós-europeia e do diálogo inter-religioso.
Além disso, embora ele endurecesse as regras para lidar com casos de violência sexual em todo o mundo e na cúria, os críticos observaram que ele nunca abordou as causas mais profundas da violência, que podem ser encontradas nas estruturas da igreja.Em vez disso, ele continuou a ver o escândalo pelas lentes da guerra cultural pós-1968.
Outros pontos de crítica são sua ingenuidade e fragilidade ao lidar com problemas financeiros e estruturais dentro da Cúria Romana. Foi superficial ao atacar as irregularidades e abusos financeiros, como no caso do escândalo Vati-Leaks em 2012, que envolveu o vazamento de documentos por seu mordomo, Paolo Gabriele, e expôs lutas de poder e lutas de facções em Vaticano. Este teria sido um dos motivos para a renúncia em 2013.