Luciana Santos: Não há país soberano sem uma política para a ciência
Luciana Santos: Não há país soberano sem uma política para a ciência
Após ter sido anunciada como a nova ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação do governo Lula, Luciana Santos falou à imprensa sobre os desafios nessa área pós-Bolsonaro
Publicado pelo Portal vermelho
Desde que seu nome foi anunciado, nesta quinta-feira (22), como futura ministra de Ciência, Tecnologia e Inovações do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, a vice-governadora de Pernambuco e presidenta do PCdoB, Luciana Santos, concedeu uma série de entrevistas.
Nelas, ela falou sobre os desafios colocados para a área, dado o desmonte promovido pelo governo de Jair Bolsonaro, e algumas das medidas iniciais que pretende implantar para começar o processo de reconstrução do setor.
Ao UOL, Luciana salientou: “Esta é uma pasta muito estratégica. Não há nenhum país autônomo, soberano, que não tenha uma pujante política da economia do conhecimento”. Ela defendeu que a área é fundamental “para que a gente diminua a nossa dependência de produtos, de insumos, de processos, da cadeia global”.
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Como exemplo mais recente dos reflexos da atual dependência, Luciana lembrou algumas das dificuldades enfrentadas durante a pandemia. “Basta ver o sufoco que várias nações tiveram, não foi só um problema brasileiro, mas no mundo todo, para ilustrar para as pessoas a questão da Covid. Tivemos uma dificuldade enorme para ter respiradores e houve uma verdadeira saga para a compra. Na época, no Consórcio do Nordeste, acompanhei de perto essa situação. E olhe que respirador é mecânico, não é um equipamento de alta tecnologia, mas isso revela o alto grau de dependência que muitas nações têm”.
O grande desafio, disse, “é garantir que a gente seja um país mais autônomo, afinal, a grande disputa da geopolítica no mundo é pelo domínio tecnológico. E o mais chocante é que o diagnóstico que o próprio grupo de transição fez é o de que tivemos um verdadeiro apagão nesses quatro anos de governo Bolsonaro, um período em que o negacionismo prevaleceu. Agora, queremos que a ciência volte a ser prioridade em nosso país”.
À Globo News, Luciana destacou, entre outros pontos que “o desafio de colocar a inovação, a ciência e a tecnologia num patamar elevado para retomar o crescimento e para retomar a industrialização brasileira é estratégico”.
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Ela salientou que “não pode continuar acontecendo o que aconteceu nos últimos tempos. O Brasil reduziu (os recursos), somente no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, de R$ 5,5 bilhões em 2010 para R$ 0,5 bi em 2021, que é o que continua até hoje. Para completar, como se não bastasse, o governo Bolsonaro mandou a Medida Provisória 1136, agora em 2022, contingenciando recursos do Fundo” para “poder resolver o problema do superávit primário. Isso não cabe a um projeto nacional de soberania”.
A nova ministra apontou que o foco agora, conforme inclusive indicado pelo grupo de transição da área, são dois. “Primeiro, pedir a revogação dessa MP no Congresso e segundo, negociar. Na medida em que nós retiramos o Bolsa Família do teto de gastos, foram liberadas janelas no orçamento. Então, uma primeira tarefa da transição, e em particular, agora, minha, na medida em que fui anunciada, é negociar, fazer articulação no Congresso Nacional para recompor as bolsas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)— a Capes não é da alçada direta do Ministério de C&T, é da Educação, mas ainda assim diz respeito à formação do que a gente chama de capital humano”.
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Nesse sentido, Luciana defendeu, em entrevista ao O Globo, o reajuste no valor das bolsas de mestrado e doutorado da Capes e do CNPq. “O percentual a ser aplicado será discutido entre as áreas envolvidas, mas deve ser equivalente à inflação do período em que os recursos pagos aos estudantes estão congelados, ou seja, desde 2013”, informou o jornal. De acordo com técnicos que se dedicaram ao assunto na transição, a correção precisaria ser de, ao menos, 40%.
Luciana também apresentou como medida a reativação da Ceitec, única empresa de semicondutores da América Latina que foi colocada em liquidação pelo governo Bolsonaro.
Confirma abaixo algumas das principais entrevistas concedidas por Luciana Santos, após sua indicação para o ministério.