Covid-19: Brasil registra 1 morte de criança menor de 5 anos por dia
Covid-19: Brasil registra 1 morte de criança menor de 5 anos por dia
Bebês e crianças entre seis meses a 5 anos são um dos principais grupos de risco de morte hoje por Covid no Brasil. Por dia, pelo menos uma criança nesta faixa etária morre no país. Por omissão do governo Bolsonaro, vacinação segue ritmo lento, falta cobertura vacinal para bebês.
Publicado 15/12/2022 16:27 | Editado 15/12/2022 16:28
Mesmo nas faixas etárias para as quais há vacinas disponíveis, o cronograma de imunização infantil contra a Covid-19 está em ritmo lento. O Ministério da Saúde da gestão Bolsonaro disponibilizou até hoje somente vacinas para bebês com comorbidades. Essa falha na cobertura vacinal contra o coronavírus, é responsável pelo morte de uma criança menor de 5 anos a cada 24 horas.
Os dados estão disponíveis no Sistema de Informações sobre Mortalidade levantados pela equipe Observa Infância (Fiocruz/Unifase) que alerta sobre o aumento do número de crianças que estão morrendo por dia no país. Durante este ano, de 1º de janeiro a 11 de outubro de 2022, foram 314 vítimas fatais.
Até o dia 28 de novembro, apenas 7 de cada 100 crianças de 3 e 4 anos tinham recebido as duas doses da vacina, apontam dados do Vacinômetro Covid-19 do Ministério da Saúde analisados pelo Observa Infância.
Além das mortes, o aumento de casos também está sendo seguido por uma crescente internação de crianças dessa faixa etária. O Ministério da Saúde registrou, entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro, ou seja, em uma semana, 193 crianças menores de 1 ano hospitalizadas pela doença. Na semana anterior, foram registradas 26 internações, o que representa um crescimento de mais de sete vezes.
Houve crescimento dos casos positivos por Sars-CoV-2 em todas as faixas etárias, mas o aumento de hospitalizações, casos graves e mortes foram registrados com maior elevação em crianças menores, apontando assim que a causa é mesmo a falta de vacinação, dizem especialistas.
Mesmo assim, o presidente Jair Bolsonaro nega, reiteradas vezes, que exista mortes de crianças por Covid-19 no Brasil, apesar desses óbitos serem registrados por hospitais, cartórios e pelo próprio Ministério da Saúde.
Especialistas dizem que a principal causa do falecimento destas crianças é a falta de cobertura vacinal, provocada pela ausência de políticas e campanhas oficiais de vacinação.
No auge da pandemia, dados oficiais analisados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostram que o Brasil registrou 1.544 mortes de crianças de 0 a 11 anos por Covid-19 desde o início da doença. Do total, 324 delas tinham de 5 a 11. Entre 0 e 4, o número de óbitos alcançou 1.220, o que representa quase quatro vezes mais ocorrências do que na faixa acima de 5 anos. Apesar disso, não foi essa faixa etária que entrou no plano nacional de vacinação do governo Bolsonaro com prioridade.
Em 2021, à época da pesquisa, o coordenador do estudo, Cristiano Boccolini, do Laboratório de Informação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), afirmou que as conclusões foram significativas no sentido de dar orientações para implementação de políticas públicas para o enfrentamento à pandemia. Dessa forma, fica claro que não houve aproveitamento do estudo, no planejamento vacinal do governo.
Lentidão injustificada
São doze meses desde que se deu início à aplicação de vacinas em crianças menores de 11 anos no país. Em alguns estados, a vacinação começou em 17 de janeiro. Mas até hoje, milhares de crianças não tiveram o cronograma vacinal completado. Sem campanha, sem mobilização, sem apelo, chegou-se a esse quadro deplorável de mortes por descaso do governo.
A coordenadora do Observa Infância, Patricia Boccolini, diz que é necessária uma campanha de mobilização para que mais vacinas sejam disponibilizadas para esse público. “Com vacinas disponíveis, podemos considerar a Covid-19 uma doença imunoprevenível. Isso significa que essas mortes podem ser evitadas com uma política pública de vacinação em massa”.
Já o infectologista da Fiocruz, Julio Croda, enfatiza que a situação do Brasil é pior do que o resto do mundo. “Comparado a outros países, o impacto da Covid-19 no Brasil foi enorme nessa faixa etária. É muito importante a mobilização para que haja mais vacinas disponíveis para esse público, pois estão em falta. Não é justo que as crianças fiquem sem acesso às vacinas”.
Esquema vacinal em crianças
Segundo o jornal O Globo, a vacina pediátrica da Pfizer, comprada pelo governo brasileiro, está sendo aplicada apenas em crianças de 5 a 11 anos no esquema de duas doses. De 3 a 5 anos com o imunizante CoronaVac, também em duas aplicações.
Para menores de 3 anos, a cobertura é apenas para bebês com comorbidades. Não há pedido do governo Bolsonaro para ampliar o esquema vacinal de crianças nesta faixa etária.
A Anvisa autorizou no início do mês de dezembro, a inclusão na bula de uma dose de reforço, que seria a terceira, para aqueles entre 5 a 11 anos. Em novembro, a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunizações (CTAI) já havia indicado a aplicação. Porém, o ministério ainda não recomendou a dose, e o tema deve passar antes pela análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).
Quase 70% das crianças de 3 a 11 anos ainda não finalizaram o esquema vacinal no Brasil.
Aumento de casos
A mortalidade pela doença em todas as faixas etárias está alcançando 700 milhões de pessoas no país. O número de hoje é 691.499 milhões de pessoas. A média móvel diária de óbitos é 127. Nas últimas 24 horas, o país registrou 261 mortes provocadas pela Covid-19. Alta de 79% em relação ao verificado há 14 dias.
As crianças de famílias pobres e das regiões menos desenvolvidas do país são também as mais afetadas. A região do Nordeste tem os maiores casos de mortes registradas.
Três anos passados após a descoberta do “novo” coronavírus, que se espalhou rapidamente pelo mundo, vivenciamos ainda no país ondas elevadas e consecutivas da doença, que levam à morte, principalmente às não imunizadas (de 75 a 82% dos casos, dependendo da faixa etária). Ou deixam sequelas nos organismos das pessoas infectadas. O que sabemos é que a pandemia não acabou, o que exige dos governos estratégias contínuas de combate ao vírus.
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva já anunciou, reiteradas vezes, que tomará medidas quanto ao reforço à vacinação logo nos primeiros dias do seu governo. Destacou que a recuperação do Programa Nacional de Imunizações (PNI) será primordial nos primeiros cem dias de gestão.
Também havia dito que o governo precisa convencer a população sobre a eficácia das vacinas e disse que irá cobrar das igrejas e das lideranças religiosas que ajudem nessa tarefa.
Com agências