GT Comunicações defende regulação da internet já no início do governo Lula
GT Comunicações defende regulação da internet já no início do governo Lula
Para Orlando Silva, internet precisa não apenas de um marco regulatório – mas também de um ou mais órgãos reguladores
Publicado pelo portal Vermelho
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem de aproveitar início de seu governo para pôr em pauta a regulação da internet. A opinião é de membros do Grupo Temático (GT) Comunicações da Transição, como o ex-ministro Paulo Bernardo e o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP). Eles defendem que o debate seja travado nos primeiros cem dias da gestão.
Na sexta-feira (25), logo após uma das reuniões do GT na sede do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, Bernardo declarou a jornalistas que, ao tratar da internet, o futuro governo deve levar em conta três desafios:
- Regulação do conteúdo, para combater as fake news (notícias falsas), que voltaram a dominar as eleições 2022;
- Regulação tributária, para definir quais impostos e taxas devem – ou não devem – ser cobrados por serviços digitais;
- Regulação econômica, para coibir as práticas abusivas anticoncorrenciais das gigantes do setor – Apple, Amazon, Alphabet (Google), Microsoft e Meta (Facebook).
Ao sair da mesma reunião, Orlando lembrou que a internet precisa não apenas de um marco regulatório – mas também de um ou mais órgãos reguladores. “Pode ser uma atividade cooperada”, disse o parlamentar à imprensa. Hoje, à falta do marco e do órgão de regulação, sobressai o improviso.
Fake news
Orlando foi o relator, na Câmara, do Projeto de Lei Nº 2.630/2020, conhecido como “PL das Fake News”. O objetivo da proposta é criar a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, com a qual é possível, entre outras ações, combater e punir notícias falsas. O deputado do PCdoB afirma que um marco regulatório pode incluir o “PL das Fake News”, mas precisa ser mais abrangente.
“Aquele projeto (o ‘PL das Fake News’) versa de um assunto, da desinformação. Só que a regulação de internet tem aspectos tributários, aspectos relativos ao streaming, a produção de conteúdo”, explica Orlando. Por isso, segundo ele, a discussão sobre um assunto tão “complexo” para o governo Lula quanto o marco regulatório ainda está em estágio “preliminar”. Uma das propostas é criar a Secretaria de Serviços Digitais, a ser vinculada ao Ministério das Comunicações.
Sociedade civil
O GT já iniciou o diálogo com a sociedade civil. Membros do grupo receberam, na sexta-feira, o documento “Comunicação Democrática É Vital para a Democracia – Uma Agenda para o Novo Governo Lula”, com proposta de entidades, lideranças e pesquisadores ligados à Comunicação e ao Direito. Ao defender a “regulação das plataformas digitais”, o texto cobra, acima de tudo, “o estabelecimento de regras que impeçam os gigantes tecnológicos de estabelecer oligopólios”.
As propostas também incluem pontos como mais “transparência e devido processo na moderação de conteúdos”, além de combate a “abusos no discurso online (como campanhas de desinformação, discurso de ódio, violência política e atentados ao Estado Democrático de Direito)”. De acordo com o documento, essa agenda pressupõe “uma estrutura regulatória moderna e convergente, a exemplo do modelo adotado em democracias consolidadas”.
Estados Unidos
A regulação da internet é uma demanda que tem ganhado urgência não apenas no Brasil. Em setembro, um comunicado do governo Joe Biden indicou que os Estados Unidos tomarão medidas para enfrentar o oligopólio das gigantes de tecnologia – as “big techs”. A nova legislação, conforme o documento, vai “abordar o poder das plataformas de tecnologia por meio da legislação antitruste”.
O comunicado não poupou críticas aos impactos negativos provocados pelas empresas que dominam o setor: “A ascensão das plataformas de tecnologia introduziu novos e difíceis desafios, desde os trágicos atos de violência ligados a culturas tóxicas online, à deterioração da saúde mental e do bem-estar, aos direitos básicos de americanos e comunidades em todo o mundo”.