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Moro vai a debate com Bolsonaro depois de chamá-lo de “ladrão da rachadinha”

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Moro vai a debate com Bolsonaro depois de chamá-lo de “ladrão da rachadinha”

 

Ao aparecer com o presidente, a quem acusou de interferência na PF para proteger a família, Moro deixa claro que aliança nada tem a ver com o combate à corrupção

 

Charge: Nando Motta

Um dos fatos que mais geraram comentários no debate presidencial deste domingo (16) aconteceu fora do embate entre os presidenciáveis: a presença do ex-ministro Sérgio Moro — que deixou o governo devido à interferência de Jair Bolsonaro (PL) na Polícia Federal — ao lado do seu ex-chefe e presidente. A subserviência de Moro a Bolsonaro e os possíveis interesses em jogo nessa aparição, após tantas acusações graves e trocas de farpas entre os dois, explicitam, mais uma vez, o caráter do homem que se notabilizou por, supostamente, ser o “grande justiceiro da nação”.

Logo após a definição do segundo turno, Moro, já na condição de senador eleito pelo Paraná, externou publicamente seu apoio ao atual mandatário. Mas quando saiu do governo afirmou que tinha uma biografia a zelar e num tweet chamou Bolsonaro de “ladrão da rachadinha”.

A aparição deste domingo, portanto, não é exatamente uma surpresa, mas evidencia até aonde o ex-juiz é capaz de ir em nome de seus interesses. Afinal, as acusações de corrupção relativas à gestão Bolsonaro e à família do presidente, o orçamento secreto, a negligência com a pandemia, entre tantas outras marcas vexatórias do atual governo, nunca foram, de fato, um problema para o ex-juiz.

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Há muito tempo, Moro mostrou a que veio. E há quem cogite que seu retorno seja uma manobra que tanto pode servir para Moro ser indicado por Bolsonaro para o STF, caso o presidente consiga se reeleger, quanto para se cacifar como herdeiro do bolsonarismo no futuro.

Briguinha?

Ao final do debate, Bolsonaro explicou assim os “desentendimentos” com Moro: “Você nunca brigou em casa com o marido? Uma briguinha. Acontece, divergências, mas nossas convergências são muito maiores”. É importante salientar que não se trata de mera “briguinha” o motivo que o então ministro usou para deixar o governo.

Pouco mais de um ano após ser nomeado ministro da Justiça, em abril de 2020 Sérgio Moro decidiu entregar o cargo após a exoneração, a mando de Bolsonaro, do então diretor-geral da Polícia Federal, Marcelo Valeixo, que fora escolhido por Moro. Na ocasião, ele disse não poder continuar à frente da pasta devido às interferências do presidente, que queria ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência da PF e aparelhar o órgão para proteger seus filhos das investigações. Além disso, chamou Bolsonaro de ladrão e afirmou que se deixarem investigar, “vão achar muita coisa no governo”.

Acusações deste naipe continuaram sendo feitas pelo ex-juiz com relação ao presidente. Já no ano passado, Bolsonaro chamou Moro de “palhaço” e “mentiroso”. E neste ano, durante uma entrevista, Bolsonaro disse que Moro havia “enganado o país” e que teria interesse em ocupar o Palácio do Planalto. Moro, por sua vez, se disse sabotado pelo presidente no que diz respeito ao combate à corrupção.

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Dois dias após o segundo turno, Moro — assim como o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol — declarou seu apoio a Bolsonaro. Na ocasião, a organização Transparência Internacional criticou o posicionamento no que diz respeito a associar a luta contra a corrupção ao apoio a Bolsonaro. Isso, apontou em nota, “é prestar imenso desserviço à causa e desvirtuar o que ela fundamentalmente representa”.

A nota segue ainda destacando que “desde 2019, a Transparência Internacional vem documentando e denunciando inúmeros episódios de corrupção no governo Bolsonaro e as vastas evidências de crimes cometidos pelo próprio Presidente da República e seus familiares. Ainda mais grave, denunciamos ao mundo, em diversos relatórios, o desmanche, sem precedentes, dos arcabouços legais e institucionais anticorrupção que o país levou décadas para construir.”

Para o ex-juiz e ex-governador do Maranhão, Flávio Dino, Bolsonaro e Sérgio Moro juntos “mostra, mais um vez, que a ‘lava jato’ não tinha juiz. E sim um político de extrema-direita disfarçado com a toga. E que o ‘combate à corrupção’ foi apropriado para projetos eleitorais”.

Na avaliação da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), “o ex-juiz e ex-ministro está doidinho para ser ex-senador e futuro Ministro do STF. A que ponto as pessoas chegam…”. E o jornalista Fábio Pannunzio disparou: “O Sérgio Moro foi ao debate para fazer o que faz toda eleição: dar uma forcinha para o Bolsonaro. Da outra vez foi pior, pois ele prendeu o Lula para tirá-lo da eleição”.