História em Pedaços!
Gente boa do Blog,
A Academia Catalana de Letras recorda que,
Catalão teve uma professora muito severa, respeitada e corajosa, que aqui viveu na primeira metade do século passado. Grande parte de seus alunos (médicos, advogados, professores, poetas e escritores) deixou registrada, de alguma forma, a imensa gratidão que tiveram com Dona Iayá. Hoje, o colégio com seu nome, na avenida São João, tem mais de 60 anos de funcionamento e faz parte do patrimônio histórico municipal.
Rosentina de Sant’Anna e Silva, a Dona Iayá, nasceu na antiga capital do estado, em 1891, tendo sido contemporânea de Cora Coralina. Era dois anos mais nova que a poetisa, mas devem ter feito juntas os estudos primários, pois Cora registrou lembranças da família de Rosentina, à época de sua adolescência. A mãe de Rosentina (Bárbara Fleury) tinha o apelido de Dona Bita. Cora Coralina deixou uma crônica (“Casa de Dona Bita”) onde revelou em detalhes a cultura e o amor às artes praticadas por aquela família.
O pai de Rosentina (Joaquim Sant’Anna) encomendava livros, jornais, revistas e partituras musicais do Rio e São Paulo, deixando tudo à disposição dos interessados na residência em que viviam de portas abertas. De acordo com a poetisa, uma casa alegre que representava o ambiente cultural da Velha Goiás no início do século passado. Aos 14 anos, Cora Coralina já rascunhava algumas poesias, mas obteve reconhecimento tardio, apenas em 1965, quando publicou seu primeiro livro aos 76 anos de idade.
Na década de 1910, enquanto Cora Coralina se mudou para São Paulo, Rosentina se casou e veio para Catalão com o marido. Já com formação e experiência de professora, ajudou os padres no antigo colégio Sagrada Família (Praça da Velha Matriz) e as madres agostinianas na fundação do colégio Mãe de Deus. Em 1923 abriu sua própria escola, na residência em que morava. Enquanto o Colégio Mãe de Deus priorizava o internato de moças, Rosentina criou o Externato Sant’Anna voltado para o ensino primário de ambos os sexos. Logo adquiriu fama pela sua austeridade, disciplina e as rígidas exigências do educandário.
Foto: Dona Iayá/ Arquivo Luís Estevam
Os resultados eram positivos na formação dos alunos, conforme comprovou, na vida profissional, a maioria deles. Os ex-alunos afirmam que suas aulas eram inesquecíveis. Apreciava o teatro, o canto, a declamação, os hinos cívicos, as representações históricas, além do conteúdo curricular exigido. Com a escola, Rosentina Sant’Anna virou definitivamente a professora Dona Iayá.
Na vida cotidiana, Dona Iayá chamava a atenção pelo seu conhecimento e cultura. Tanto que, as autoridades de Catalão passaram a apresentar a professora, com orgulho, aos mais ilustres visitantes que cruzavam pela cidade. Passou a ser uma espécie de referência municipal da intelectualidade.
Dona Iayá virou sinônimo de respeito até para os coronéis. Várias foram as vezes em que desafiou corajosamente ordens dos chefes políticos, agindo em defesa dos mais fracos, mais pobres e principalmente das mulheres. Foi pioneira no modelo de corte, bem curto, para os cabelos femininos e levantou bandeira contra o machismo exagerado da época.
No final da década de 1940, Dona Iayá teve que fechar a sua escola, depois de 27 anos de funcionamento, quando se mudou para Belo Horizonte em razão de doença do seu marido.
Bem depois, veio o reconhecimento de seu trabalho em Catalão. Em 1959, no bojo da Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo, foi fundado, com apoio federal, o “Grupo Escolar Rosentina Sant’Anna e Silva”, em homenagem à educadora, por inspiração do prefeito da época, Antonio Chaud.
A partir de 1968, o estabelecimento passou oficialmente a ser “Escola Estadual Dona Iayá”, hoje uma das referências do ensino secundário em Catalão.
Por: Luís Estevam
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