A Vaza Jato já mostrou como os procuradores de Curitiba se achavam no direito de interferir na política interna de um país vizinho, de manipular a opinião pública para achacar o STF e de utilizar seus cargos a favor de interesses políticos. Agora, a nova reportagem da série revela como o site O Antagonista tornou-se um verdadeiro parceiro da força-tarefa comandada pelo procurador Deltan Dallagnol.
No caso mais escandaloso da relação promíscua entre o site e a Lava Jato, os procuradores agiram politicamente para interferir na escolha do presidente do Banco do Brasil no governo Bolsonaro. A força-tarefa usou o veículo comandado pelos jornalistas Diogo Mainardi e Mario Sabino como porta-voz com a intenção de alimentar notícias que evitassem que o ex-presidente da Petrobras Ivan Monteiro ocupasse a presidência do banco. Monteiro era o nome mais forte entre os cotados para assumir o BB, mas era rejeitado pelos procuradores e por Onyx Lorenzoni, como revelam os diálogos.
As conversas demonstram que a relação entre o site e a Lava Jato era uma via de mão dupla. Os procuradores municiavam os jornalistas com documentos e dados de investigações e em troca recebiam dicas para investigações do editor de O Antagonista, Diogo Mainardi, e do jornalista Cláudio Dantas, do mesmo veículo.
Numa dessas situações, a Lava Jato acreditou num boato repassado por Dantas e pediu a quebra do sigilo fiscal de uma nora do ex-presidente Lula em 2016. Para isso, os procuradores acionaram informalmente um contato na Receita Federal. Nada foi encontrado contra ela.
Nos chats do aplicativo Telegram, entregues ao Intercept por uma fonte anônima, são muitos os exemplos da relação nada republicana da Lava Jato com O Antagonista. Os procuradores nunca tiveram pudores para utilizar a imprensa em prol de seus interesses com vazamentos de investigações. Por outro lado, tiveram facilidade para encontrar e privilegiar jornalistas dóceis que em muitos momentos foram coniventes com seus abusos.
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