História em Pedaços!
Gente boa do Blog,
A Academia Catalana de Letras recorda que,
o governo militar brasileiro agiu com desmedida violência contra os não-simpatizantes do regime. Intelectuais e pessoas de pensamento divergente foram simplesmente taxados de “comunistas” e sujeitos a penas descabidas. Em Catalão, na segunda metade da década de 1960, um destacamento militar prendeu alguns cidadãos, entre eles, o professor João Margon Vaz, em plena sala de aula no Colégio Anchieta.
E, como não se conhecia qualquer atividade revolucionária por parte de João Margon, diretor e fundador daquele colégio, sua prisão foi considerada exagero, mesmo por parte de catalanos ligados ao governo federal. O prejuízo moral e pecuniário do professor foi grande.
Diretor do Colégio Anchieta e da Escola Técnica da Fundação Wagner Estelita Campos teve os seus direitos políticos cassados, foi exonerado de cargos públicos, proibido de exercer a advocacia e preso por mais de um mês na cadeia de Catalão. A reparação veio somente bem depois, com a anistia política.
João Margon Vaz, filho de Jerônimo Vaz e Matilde Margon Vaz, nasceu em abril de 1935 na fazenda Degredo, zona rural de Catalão. Estudou no seminário dos padres redentoristas, em Goiânia, e logo depois cursou Direito no Rio de Janeiro, na tradicional Universidade Nacional do Brasil. Retornando a Catalão abriu um escritório no Centro da cidade, bem próximo ao antigo fórum, tornando-se um advogado diferenciado dos demais.
Demonstrava forte idealismo na profissão, longe de interesses somente financeiros. Praticamente não cobrava quase nada além das custas processuais. Dos mais pobres, principalmente da zona rural, não cobrava absolutamente nada. Assim, apesar de excelente advogado, bastante respeitado, inclusive por juízes e promotores, não fez fortuna com a profissão, o que seria perfeitamente normal nas condições da época.
Foi convidado a dar aulas no Colégio Estadual João Netto de Campos, onde ficou vários anos, fundando posteriormente o Colégio Anchieta, de nível ginasial. Tinha ótima convivência com os estudantes e participava de palestras e reuniões tratando constantemente de temáticas como direito, sociologia, política e economia. Mas, não era somente um idealista. Acreditava tanto na necessidade de formação educacional para o cidadão que custeou, com recursos próprios, as despesas de formação superior de vários estudantes de Catalão. Era um professor tímido, retraído, mas de um dinamismo ímpar nas realizações práticas.
No fundo, João Margon Vaz foi um progressista que pregava, em suas aulas e palestras, a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Daí a convicção na importância do bem comum, no amparo aos mais pobres e na necessidade de políticas públicas para uma sociedade mais homogênea.
Daí, também, ter sido considerado “comunista” pelo regime militar, apesar de não ter nada de ideologia socialista em suas convicções. Pelo contrário, votou diversas vezes em políticos simpáticos ao regime ditatorial e sempre atuou, como advogado, em defesa da propriedade privada. Apenas acreditava no Estado como responsável pelo bem estar da população. Era, de fato, nacionalista, assim como grande parte dos militares.
Hoje, Catalão tem o orgulho de perpetuar o nome do professor João Margon Vaz em um instituto educacional, recém criado pelo seu irmão, Haley Margon Vaz, assunto para uma outra crônica bem especial.
Foto: João Margon/ acervo pessoal Luís Estevam
Por Luís Estevam