Sergio Moro ignora perguntas e sustenta tese de ataque hacker
Após ter fugido na última semana, o ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou nesta terça-feira (2), na Câmara dos Deputados, reiteradamente, que foi alvo de ataque hacker. Segundo ele, a suposta invasão de celulares de autoridades tinha o objetivo de tentar invalidar, criminosamente, as condenações da Operação Lava Jato.
Moro participou de audiência pública conjunta das comissões de Trabalho, Direitos Humanos e Minorias, e de Justiça e de Cidadania para esclarecer sua parcialidade enquanto era juiz da 1ª instância da Operação Lava Jato.
Nas últimas semanas, o The Intercept Brasil e outros veículos de imprensa publicaram uma série de reportagens que revela mensagens supostamente trocadas entre Moro e o coordenador da força-tarefa da Lava Jato. Segundo o site, o ministro orientou a atuação de procuradores da República na época em que era o responsável pelos processos da Lava Jato na Justiça Federal do Paraná.
Para Moro, “alguém com muitos recursos” está por trás dos ataques hackers aos celulares de procuradores que deram origem às mensagens reveladas pelo site The Intercept Brasil, e que acompanha as investigações da Polícia Federal como vítima.
“Alguém com recursos, porque não é a tentativa de ataque de um celular, mas a tentativa de ataque de vários, em alguns casos, talvez, com sucesso, o que não parece corresponder a atividade de um adolescente com espinha na frente de um computador”, afirmou Moro. Ele já havia usado esta metáfora no Senado.
Apesar das inúmeras perguntas sobre a parcialidade do ministro no andamento da Operação, Moro as ignorou tacitamente e manteve a ladainha do ataque e da tentativa de deslegitimar a atuação jornalística do site The Intercept Brasil.
Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), Moro “quer vencer o debate pela chatice”. “Fica nesse reme-reme de “supostas mensagens”. A veracidade dos diálogos foi assegurada por ao menos dois promotores e pelos jornalistas de quatro veículos. O fato é que a prática de Moro foi ilegal”, afirmou.
Já a líder da Minoria, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), afirmou que Moro se comportou como “sócio da acusação” e que é a questão democrática que está em jogo.
“A palavra que eu menos ouvi aqui foi democracia. O cidadão comum quer a garantia do seu direito de defesa, a garantia de um tribunal imparcial. Sinceramente, para mim, é a questão democrática que está em jogo. O senhor se comporta como sócio da acusação”, afirmou a parlamentar.
Não reconheço as mensagens
Durante a audiência, o ex-juiz voltou a dizer que não reconhece a autenticidade das mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil e que as conversas do aplicativo Telegram não estão mais arquivadas no celular dele. E dando continuidade à narrativa que adotou desde que vieram à tona as supostas conversas trocadas com integrantes do Ministério Público Federal (MPF), ele disse, mais uma vez, que “é comum” juízes falarem com procuradores e advogados sobre processos.
Para acabar com a narrativa de que não poderia reconhecer as mensagens, a deputada Jandira Feghali propôs que Moro assinasse uma minuta para que o aplicativo Telegram entregasse as mensagens, já que o ministro afirma não fazer mais parte dos grupos e ter saído do aplicativo de mensagens em 2017.
Em resposta, Moro afirmou que o pedido era “mero teatro”, uma vez que as mensagens já “não existem mais”.
Embates com a Oposição
Em um dos diversos embates de oposicionistas com o ministro da Justiça, a deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP), presidente da Comissão de Trabalho, disse ao ex-juiz que “não se pode combater corrupção cometendo novas irregularidades”.
Moro, em contrapartida, afirmou, mais de uma vez, que agiu “com correção e com base na lei” durante a condução dos processos da Lava Jato na primeira instância. O ex-juiz também disse que tomou as decisões como magistrado “sem qualquer espécie de desvio”.
Apesar da tentativa de se esquivar da parcialidade em sua atuação, o deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA), um dos autores do requerimento para ouvir Moro, disse ao ministro que sua atuação foi “parcial” e que “não se deve combater um crime cometendo outro”.
Por Portal Vermelho