Paulo Guedes fracassa na Câmara, Ibovespa desaba e dólar sobe
Pressionado por parlamentares na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), sem conseguir fazer sustentação para justificar a reforma da Previdência do governo Bolsonaro, almejada pelo mercado financeiro, o ministro Paulo Guedes fez a Ibovespa cair 2 mil pontos nesta quarta-feira 3; irritado com as intervenções, o ministro se exaltou e bateu boca com deputados; o dólar também subiu 0,44% a R$ 3,8727 na compra e a R$ 3,8737 na venda.
O nervosismo no mercado depois do bate-boca entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e deputados da oposição na CCJC (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania) fez com que o Ibovespa perdesse 2 mil pontos em duas horas. Com a baixa, o principal índice de ações da B3 se descola das bolsas mundiais, que sobem em meio a dados positivos da China e cenário mais favorável para um acordo entre os chineses e os Estados Unidos na guerra comercial.
Às 16h29, o Ibovespa caía 0,79% a 94.629 pontos. Já o dólar comercial sobe 0,44% a R$ 3,8727 na compra e a R$ 3,8737 na venda, enquanto o contrato futuro de dólar para maio tem valorização de 0,4% a R$ 3,876. No caso dos juros futuros, o DI para janeiro de 2021 avança quatro pontos-base, para 7,06%, ao passo que o DI para janeiro de 2023 avança nove pontos-base, para 8,21%.
Segundo o analista da Eleven Financial Research, Carlos Daltoso, o mercado tem seguido ruídos de Brasília de maneira exagerada e os traders não estão gostando das falas de Guedes ao debater a reforma da Previdência. “O cenário-base com o qual o mercado trabalha é o de aprovação da reforma, mas os investidores querem saber quanto do R$ 1 trilhão anunciado pelo ministro em economia será desidratado no Congresso”, afirma. “A volatilidade nesse momento será acentuada, mas é preciso saber distinguir a realidade dos ruídos”, acrescenta.
Na CCJ, Paulo Guedes elogiou o regime de capitalização e se exaltou quando deputados da oposição disseram que o Brasil ficaria igual ao Chile. Para Guedes, o sistema previdenciário atual é insustentável, com a proporção entre contribuintes e aposentados se reduzindo drasticamente por conta do envelhecimento da população.
Na semana passada, Guedes desmarcou sua participação em audiência pública na comissão. A decisão seguiu sugestão de aliados, que alertavam para os riscos de ataques de deputados até mesmo da base aliada. A alegação formal foi que o debate seria mais produtivo após a designação do relator da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da reforma previdenciária na comissão.
Mercado internacional
Os principais mercados sobem nesta quarta-feira, refletindo os avanços no acordo comercial entre EUA e China. Segundo o Financial Times, autoridades dos dois países já teriam resolvido a maior parte das questões pendentes, mas seguem negociando sobre como implementar e impor tal acordo. A publicação ressalta, porém, que os 10% de questões restantes para fechar o acordo é que são os mais complicados, pois exigiriam maiores compensações de ambos os lados.
Além disso, a China também puxou o otimismo dos investidores após o PMI (Índice Gerentes de Compras, na sigla em inglês) de serviços subir de 51,1 pontos em fevereiro para 54,4 pontos em março, reforçando a recuperação mostrada no PMI da indústria na segunda-feira.
Entre os indicadores, nos EUA, às 9h15 saiu o relatório de emprego ADP, registrando um aumento de 129 mil empregos no país em março, abaixo das expectativas dos economistas, que esperavam um incremento de 170 mil. Foi ainda o pior número de aberturas de vagas desde setembro de 2017. O dado funciona como uma espécie de prévia para o relatório de emprego dos EUA que sai na sexta-feira.
Já na Europa, foi registrada alta de 0,4% em fevereiro das vendas no varejo ante janeiro, enquanto o PMI composto da região recuou a 51,6 pontos em março ante 51,9 em fevereiro. Nas maiores economias do bloco, o PMI da Alemanha atingiu 51,4 pontos, o menor desde junho de 2013.
As preocupações no velho continente ainda recaem sobre um acordo para saída do Reino Unido da União Europeia, enquanto o Parlamento Britânico não chega a um acordo. Entre as maiores economias do bloco já há apreensão em relação aos impactos do Brexit, como na Alemanha, com especialistas já alertando sobre a possibilidade de que uma recessão acometa o País no quarto trimestre deste ano.
Por fim, entre as commodities, o preço futuro dos contratos de minério de ferro disparou 5,2% na bolsa de Dalian.
O petróleo tipo WTI tem queda de 0,38% a US$ 62,34 ao mesmo tempo em que o contrato do tipo Brent para junho cai 0,16% a US$ 69,26. A commodity tinha alta pela manhã, mas virou após a divulgação dos estoques de petróleo, que aumentaram em 7,2 milhões de barris na semana passada, de acordo com a EIA (Administração de Informação de Energia, na sigla em inglês). Analistas esperavam uma queda de 100 mil barris.
Altas e baixas da bolsa
Enquanto deve seguir se beneficiando com a valorização do preço do minério de ferro, a Vale enfrenta dificuldades para encaminhar a órgãos técnicos projetos de descaracterização de oito estruturas a montante, como a que se rompeu em Brumadinho no início do ano. Ao menos seis empresas recusaram o convite da empresa para auditar barragens, que precisa encaminhar os pareceres à Agência Nacional de Mineração (ANM) e à Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais.
A Petrobras já contaria com três grupos interessados na compra da Transportadora Associada de Gás (TAG), segundo o Estado de S. Paulo. Entre os competidores estaria a Engie, o fundo Mubadala e um consórcio capitaneado pela Itaúsa. A expectativa é de que o resultado possa sair até o final desta semana.
Uma ação do Ministério Público Estadual e da Defensoria Publica de Alagoas pede o bloqueio de R$ 6,7 bilhões da Braskem, por conta do afundamento do solo em bairros próximos à uma área de mineração de sal-gema em Maceió. Segundo o jornal Valor Econômico, o pedido do bloqueio foi antecipado pelas negociações em curso entre Odebrecht, controladora da petroquímica, e a holandesa LyondellBasell para a venda da Braskem.
A Rumo obteve vitória no Tribunal de Contas da União (TCU) em relação à análise técnica sobre a renovação antecipada de contrato da Malha Paulista e sem maiores obstáculos à assinatura de um termo aditivo, informou o Valor Econômico. A concessão cruza o interior de São Paulo e chega ao Porto de Santos. A expectativa é de que a renovação possa destravar mais de R$ 7 bilhões em investimentos em troca de mais 30 anos de concessão.
Por Brasil 247