Milhares de pessoas no Brasil e no mundo protestam por justiça no caso Marielle
Atos pelo Brasil e pelo mundo marcaram nesta quinta-feira (14) um ano da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes. Na noite de 14 de março de 2018, logo após a parlamentar sair de uma agenda de trabalho, no Rio de Janeiro (RJ), o carro em que ela estava foi alvejado com 13 tiros.
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Os manifestantes enalteceram o legado da vereadora e pediram esclarecimentos e justiça. Apesar da prisão de dois homens acusados pelos assassinatos na última terça-feira (12), a pergunta continua: quem mandou matar Marielle?
No Rio de Janeiro, as homenagens se concentraram na Cinelândia, onde foi organizado o “Festival Justiça por Marielle e Anderson”. Ao longo de todo o dia houve atividades culturais e políticas, além da celebração de um ato ecumênico. A irmã de Marielle, Anielle Franco, agradeceu o apoio de todos que ajudaram na organização do evento e pediu para que as pessoas emanem energia positiva.
“Espalhem amor, espalhem o legado da Marielle, espalhem a essência. O mundo já está cheio de muito problema e não é isso que a gente precisa. Então isso aqui hoje, esse resultado aqui, é pra dizer que a gente está vivo. E a gente estar aqui continua sendo uma luta pra ela, e por ela”.
Maria Santiago, historiadora e integrante do movimento Mulheres Unidas contra Bolsonaro, esteve presente na manifestação. Para ela, o principal legado de Marielle foi conseguir se eleger como vereadora, sendo mulher, negra e favelada. E acrescentou: “[foi] levar a voz para que nós mulheres continuemos na luta, não desistamos, sigamos nessa resistência. Graças a Marielle, muitas mulheres saíram das covas, se reergueram e hoje lutam com a gente”.
Já Andreia Fonseca, servidora pública, lembrou que a morte de Marielle foi “uma pancada para democracia” e que o crime não pode ficar sem resolução. Mas ela também reforçou a importância da vereadora principalmente para a luta das mulheres.
“Essas jovens que estou vendo hoje em dia, lutando, esse empoderamento feminino, esse empoderamento das jovens negras. Pra mim, eu vejo, desde então [da morte de Marielle], um renascimento da luta pela verdadeira democracia e pela organização da luta das mulheres”.
Em São Paulo (SP), a manifestação se concentrou na Avenida Paulista, região central da capital. O ato começou com uma aula pública sobre o legado de Marielle, ministrada por Jupiara Castro, do Núcleo Consciência Negra da USP, e pela Deputada Estadual Érica Malunguinho (PSOL). Em seguida, os manifestantes caminharam, de baixo de chuva, pela avenida, puxados pelo grupo de rua Ilu Obá de Min, que homenageia a cultura afro-brasileira e cuja bateria é formada apenas por mulheres.
Fernanda Curti, 24, diz que o ato também pede justiça pelas mortes da população negra no país (Foto: Pedro Aguiar)
Waldete Tristão, 55, doutora em educação, faz parte do grupo e destacou a importância de descobrir quem mandou matar Marielle. Ela considera que a vereadora se tornou um ícone de resistência. “A Marielle nos representa e deixa um legal de suma importância para o Brasil. Quem sabe não vai ser ela a responsável pra que a gente volte a ter justiça nesse país”.
A teleoperadora Layla Cristina, 28, também reforçou o legado de Marielle principalmente para as mulheres, e para as mulheres negras. “Eu sou mulher negra, favelada. Eu tenho uma filha, sou mãe solo. É muito importante estar aqui pra agregar o ato e mostrar que ela deixou sementes e que nós também vamos lutar”.
Já Fernanda Curti, 24, que é da direção do Partido dos Trabalhadores (PT), acrescentou que, para além de cobrar justiça no caso de Marielle, o ato pede “pelo fim da morte do povo preto no Brasil”. “Hoje também significa pra gente cobrar as mortes de todos os jovens e todas as mulheres negros e negras que são assassinados todos os dias nesse país e que o Estado brasileiro continua relativizando as nossas vidas, continua relativizando as vozes do nosso povo”, protestou.
Em Campinas (SP), cerca de 600 pessoas se reuniram no Largo do Rosário para homenagear a vereadora. Já em Belo Horizonte (MG) a manifestação foi marcada por um momento inter-religioso, conduzido por lideranças de diferentes religiões. Em Palmas (TO), a avenida em frente à Universidade Federal do estado foi batizada de Marielle Franco.
Camponeses do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de Curitiba (PR) e militantes do Congresso do Povo realizaram um mutirão de solidariedade em homenagem a Marielle. O grupo fez a revitalização da horta de uma creche no bairro Uberaba, região sul da capital paranaense. No final da atividade, houve uma formação junto com os alunos sobre agroecologia e a importância da alimentação saudável.
No município de Remígio, no Brejo Paraibano, a 150 quilômetros da capital João Pessoa (PB), cerca de seis mil mulheres foram às ruas. Elas pediram por justiça a Marielle durante a décima edição da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia.
Já em Itabuna (BA), 100 mulheres de diversos movimentos e organizações populares ocuparam as ruas da cidade em memória de Marielle e também para denunciar a violência contra a mulher. No último ano, a cidade foi considerada a segunda mais perigosa para as mulheres baianas.
Desde cedo
As manifestações com pedidos por justiça e homenagens a Marielle já estavam espalhadas em dezenas de cidades do Brasil no início da manhã. No Rio de Janeiro, calçadas e paredes amanheceram com imagens da vereadora. Em todos os cantos se viam flores e ecoavam palavras de ordem.
Em Presidente Prudente (SP) cerca de 150 mulheres relembraram a memória da vereadora a partir de intervenções artísticas. Durante caminhada pela cidade, contaram a história de luta de Marielle. Em Brasília parlamentares do PSOL fizeram um ato político na Câmara cobrando respostas do Estado sobre o crime. Em Valinhos, no interior de São Paulo, um acampamento ligado ao MST que leva o nome da vereadora também realizou homenagens.
Mundo afora
Em dezenas países, brasileiros residentes no exterior e estrangeiros também prestaram homenagens à vereadora e a seu motorista. Em Buenos Aires, na Argentina, foram realizadas diversas ações, como, por exemplo, colagem de adesivos com no nome de Marielle em placas de ruas. Em algumas cidades europeias, como Bruxelas e Milão, o crime foi lembrado por meio de pichações em muros e prédios.
Brasil de Fato