Mais de 200 pessoas são evacuadas de maneira “caótica” pela Vale em Macacos (MG)
Cerca de 200 pessoas foram evacuadas na noite deste sábado (17), em São Sebastião das Águas Claras, distrito conhecido como Macacos, na cidade de Nova Lima (MG), pelo risco de rompimento da barragem B3/B4, da Mina Mar Azul, da mineradora Vale. Os moradores, que foram levados para o centro comunitário da cidade, denunciaram que a evacuação foi “caótica”.
“Estamos sem informação nenhuma, sem saber se podemos voltar, sem previsão; os próprios funcionários da Vale que estão aqui não têm informações”, disse ao Brasil de Fato, o moradorHélio Martins, que foi evacuado e está em um hotel. Hélio conta ainda que alguns moradores não chegaram a ser evacuados na noite de sábado: “Tem pessoas que ficaram em suas casas. Teve um morador que chegou hoje de manhã no hotel, ele foi para o centro ontem a noite, lá disseram pra ele voltar pra casa que uma van iria pegar ele, ficou esperando, e a van não apareceu”.
Segundo a Vale, a ação foi tomada após revisão de relatórios de análise da empresa que faz auditoria de segurança da barragem. O morador questiona a informação: “segundo eles estão evacuando porque o engenheiro não quis assinar laudo, mas que engenheiro faria um laudo sábado à noite?”.
Tatiana Silva Mota, moradora de Macacos e integrante do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), afirmou que após o anúncio feito pela Vale às 19h30 sobre a evacuação, os moradores não sabiam o que deveriam fazer: ” A Vale nunca apresentou um plano de emergência pra gente, foi solicitado diversas vezes, muito antes inclusive de Brumadinho; um dos lugares que um dos moradores informou pra gente ir é na associação de moradores, e aqui tem um plano de emergência impresso que nunca foi apresentado pra gente”.
A barragem possui cerca de 3 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, e foi construída pelo método de alteamento a montante, a forma mais barata de construção desse tipo de barragens e a menos segura. Trata-se do mesmo método utilizado na barragem de Brumadinho.
O porta-voz da Polícia Militar, Major Flávio Santiago, afirmou que não há risco da barragem romper, mas que mesmo assim todas as pessoas foram evacuadas: “as pessoas que deveriam sair da área de dam break, ou seja, da área de um possível atingimento já foram retiradas (…) A PM fechou os pontos de entrada e saída dos pontos considerados de risco”.
O integrante da Coordenação Nacional do MAB, Joceli Andrioli, está na cidade acompanhando os moradores evacuados. “Macacos tá um caos. Há um despreparo imenso. As pessoas estão sem nenhuma informação, tivemos a informação de que alguns moradores ficaram ontem à noite na área de risco porque não teve transporte. Os animais estão abandonados nas propriedades, com o risco de morrerem de fome”, conta o dirigente.
Assista a transmissão feita pelo MAB direto da sede da associação de moradores de Macacos (MG) neste domingo (17)
Andrioli, criticou a forma em que a mineradora está lidando com as barragens que estão sob risco de rompimento: “A Vale é incapaz de construir um plano sério de evacuação. Denunciamos o caos instalado em Minas Gerais com outras barragens com risco de rompimento nas cidades de Barão de Cocais, Itatiaiuçu, Congonhas e Paracatu”.
“Esses crimes não podem ficar impunes. E é preciso organizar, urgentemente, uma nova proposta de desativação dessas bombas que estão armadas sob a cabeça de milhões de seres humanos em nosso país, ameaçando os rios, ameaçando contaminar as nossas águas, e a morte da nossa natureza”, disse o coordenador do MAB.
A barragem de Macacos é uma das dez que seriam desativadas pela Vale. Após o crime em Brumadinho, Macacos é a terceira cidade evacuada por risco de rompimento de barragens. No dia 8 de fevereiro, mais de 500 pessoas foram evacuadas das cidades mineiras de Barão de Cocais e Itatiaiuçu por risco de rompimento de duas barragens da Vale e da ArcelorMittal. Os moradores evacuados continuam em hotéis ou casas de parentes, sem saber quando, ou se voltarão às suas casas.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Vale para tentar obter informações sobre a situação de evacuação e a barragem em Macacos. Em nota, a empresa afirmou que registrou 110 pessoas “como parte das ações preventivas estabelecidas pelo Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) da Barragem B3/B4, da Mina Mar Azul”.
A Vale afirmou ainda que “dará toda a assistência e apoio necessários até que a situação seja normalizada”, sem indicar o que está previsto como situação normalizada. A reportagem questionou a empresa sobre as chances de rompimento da barragem e os planos em relação aos moradores caso isso acontecesse, mas não obteve resposta.
Em relação à barragem, a nota da empresa afirma: “Em decorrência da elaboração do projeto de descaracterização da barragem, foi identificado pela empresa responsável que o modelo geológico-geotécnico poderia ser diferente do atualmente considerado. Até que as divergências entre os modelos sejam sanadas, a Vale optou por acionar o PAEBM [Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração] e manter preventivamente a evacuação da área”.
Brasil de Fato