APÓS SANÇÕES, PUTIN DEVE REFORÇAR ALIANÇA COM BRICS
As relações entre Brasil e Rússia, apesar de esquentarem de vez em quando, equivalem a uma tarde de inverno em Moscou: são geladas. O que mais acontece entre os dois países são problemas em torno de questões sanitárias à volta da carne brasileira – em primeiro lugar na pauta de exportações para o país – e ensaios nunca praticados inteiramente de cooperação militar e aeroespacial.
Uma nova chance para um relacionamento comercial e político mais amplo e estreito, respectivamente, está aberta com a crise entre a Rússia e os Estados Unidos e a União Europeia em torno da anexação da Crimeia.
O secretário de Imprensa do presidente Vladmir Putin respondeu nesta quarta-feira 19 em Moscou sobre como o país irá reagir a maiores sanções econômicas e políticas do bloco ocidental.
O mundo unipolar acabou, foi o recado principal.
“Se um parceiro econômico de um lado do globo impuser sanções, vamos prestar atenção aos novos parceiros do outro lado. O mundo não é unipolar, vamos nos concentrar em outros parceiros econômicos”, frisou Dimitry Peskov.
As sanções que começam a tomar corpo – no campo político, o primeiro-ministro Tony Blair anunciou que irá pedir a exclusão da Rússia do G-8 – serão respondidas em igual medida pelo governo de Putin, que vai galgando popularidade interna com a anexação da Crimeia.
“Nós queremos manter boas relações com a UE e com os EUA. Especialmente com a União Europeia, uma vez que é o principal parceiro comercial da Federação Russa. Mas nossa dependência econômica mútua pressupõe teremos boas relações”, completou Peskov, deixando implícita a lembrança do gás natural que a Rússia fornece para o aquecimento de milhões de lares europeus.
Em conversa telefônica terça-feira entre o ministro russo para Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, eles discutiram a situação na Ucrânia e Lavrov disse que as sanções impostas pelos os EUA são “absolutamente inaceitáveis”.
A presidente Dilma Rousseff comanda o silêncio do Itamaraty sobre a crise atenta aos benefícios que o país pode extrair. Como ficou claro no recado de Putin por meio de seu porta-voz, a Rússia pode empreender uma grande mudança de foco em seus negócios.
Um estreitamento de relações com os demais BRICs seria o primeiro grande passo. Em julho, dois dias após a Copa do Mundo, o presidente russo estará em Fortaleza para a reunião dos país que fazem parte da sigla. A falta de comentários do Brasil sobre a anexação da Crimeia são quase um elogio.
Brasil 247