Especialistas apontam renovação à direita no Senado
Dos 32 senadores que tentaram a reeleição, apenas oito conseguiram, ou seja, um a cada quatro. Das 54 vagas em disputa, 46 serão ocupadas por novos políticos, apontando a maior renovação no senado desde a redemocratização. No entanto, 22 dos novos senadores migraram da Câmara dos Deputados e outros quatro já foram senadores em períodos anteriores.
Os três partidos que elegeram mais senadores foram MDB, com sete eleitos, Rede e PP, com cinco senadores eleitos cada. O PSL, partido do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL), nunca tinha eleito um único senador e ontem elegeu quatro.
Para Neuri Berg Dias, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), houve uma guinada mais conservadora e à direita no Senado. Ele também pondera que houve uma renovação relativa. “Quem ocupou esses novos cargos são sujeitos que já tem uma vida pública com mandados, e muito voltados a segmentos específicos”, afirma, em referência aos setores religiosos, ruralistas e que defendem o armamento da população.
A cientista política e professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Rosemary Segurado concorda que o senado será ainda mais conservador e que a renovação dos candidatos não implica em grandes mudanças políticas. Para ela, o resultado nas urnas está relacionado a uma rejeição dos eleitores por políticos tradicionais.
“Há o sentimento de resistência contra a velha política. Não que alguns dos eleitos, embora falem no nome da nova política, sejam de fato. Aliás, boa parte deles tem valores bem retrógrados e identificados com a velha política”, ressalta.
Segurado avalia que o discurso de renovação política tem convencido os eleitores, mesmo que as práticas desses políticos não apontem para renovação. Ela cita o exemplo de Bolsonaro, que emplacou o discurso antipolítica, apesar de ser deputado desde 1991.
Perfil dos senadores
A partir do próximo ano, serão 21 partidos representados, seis partidos a mais do que atualmente. Das cinco maiores bancadas, três elegeram menos senadores em relação a 2010: PT teve uma queda de 11 para quatro, seguido pelo MDB que caiu de 14 para sete, e pelo PSDB que caiu de 6 para 4 senadores eleitos. PCdoB e o Psol, que conseguiram eleger um senador cada em 2010, não conseguiram representantes ao senado nas eleições de 2018.
A cientista política Rosemary Segurado afirma que o aumento de partidos no senado não reflete maior diversidade de ideias. “Não significa uma pluralidade de ideias, na verdade, ao contrário. Vemos que muitos partidos são fisiológicos e não tem uma proposta política, mas estão ali para ocupação de cargos”, afirma.
Pesquisador e um dos coordenadores do portal De Olho nos Ruralistas, Bruno Bassi diz que o número de senadores da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), um dos blocos de poder mais fortes do congresso, caiu de 27 para 16 representantes. No entanto, Bassi avalia que não haverá uma diminuição na força política dos ruralistas.
“Vamos encarar um Congresso mais conservador, com uma influência forte da bancada da bala, através desses eleitos pelo PSL e de outros partidos coligados com o Bolsonaro. Estimamos uma possibilidade de radicalização da bancada ruralista, com aliança mais forte com a bancada da bala”, diz.
Bassi destaca ainda que há uma tendência da FPA conseguir novos membros entre senadores e deputados eleitos. A avaliação é que a FPA, que já manifestou apoio ao candidato Jair Bolsonaro, se junte aos candidatos eleitos pelo PSL.
Extrema direita cresce e centro diminui
O analista político do Diap Neuri Berg Dias ressalta que uma das principais mudanças no senado acontece pela diminuição de políticos do centro e o aumento de políticos da extrema direita. Ele compara a nova composição do Senado à atual composição da Câmara, com disputas ideológicas mais acirradas.
“Acabou esse perfil conciliador e consensual para votar matérias. Tende a ter disputa muito grande na Casa para eleição de presidente das comissões e na disputa de conteúdo”, diz.
Ele também observa o aumento de representantes da igreja evangélica e da bancada da bala, como Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidenciável. “A bancada vai muito posicionada a temas radicais em relação a pauta de segurança, por exemplo, mas são insensíveis em relação a agenda de direitos aos mais pobres”, afirma.
Desafios
O novo presidente deve encontrar um cenário desafiador para lidar com o congresso. Essa avaliação de Bruno Bassi é explicada pela diminuição dos blocos de centro e o aumento de poder para as bancadas da bala e ruralista. “Será um cenário tão, ou mais, desafiador como foi em 2014 com a eleição do congresso que, até então, era considerado o mais conservador que foi eleito na redemocratização.”
A cientista política Rosemary Segurado também aponta que o presidente eleito precisará negociar com os diversos partidos em relação a suas propostas de governo. “Do ponto de vista da população, me preocupa que houve um aumento de partidos representando, mas talvez esse partidos não estejam em consonância com os anseios da população. Ou seja, não necessariamente vão lá para representar as necessidades reais que a população vem reivindicando”.
Brasil de Fato