PUTIN AMENIZA TENSÃO, MAS NÃO DESCARTA GUERRA
Presidente russo disse que a Rússia só usará a força militar na Ucrânia como último recurso, em aparente tentativa de acalmar relações com o Ocidente e com os mercados financeiros; no entanto, se reservou o direito de usar todas as opções para proteger seus compatriotas que estão vivendo em “terror”, após o que chama de “golpe anti-constitucional e tomada do poder pelas armas”; por trás de suas ações existe o interesse em preservar a base de sua frota do Mar Negro, em Sebastopol, na Crimeia; Europa julga crise como a maior já vivida no século XXI
O presidente Vladimir Putin disse nesta terça-feira que a Rússia só usará a força militar na Ucrânia como último recurso, em comentários cujo objetivo aparente é acalmar as tensões entre Ocidente e Oriente causadas pelo temor de uma guerra na ex-república soviética.
A Rússia, entretanto, se reservou o direito de usar todas as opções na Ucrânia para proteger seus compatriotas lá que estão vivendo em “terror”, disse Putin.
Putin declarou em uma coletiva de imprensa em sua residência oficial, nos arredores de Moscou, que houve um “golpe inconstitucional” na Ucrânia, e que o presidente deposto, Viktor Yanukovich, aliado da Rússia, ainda é o líder legítimo do país, apesar de ter entregado o poder.
“Só pode haver uma avaliação do que aconteceu em Kiev, na Ucrânia em geral. Esse foi um golpe anticonstitucional e a tomada armada do poder. Ninguém discute isso”, disse Putin, parecendo relaxado diante de um pequeno grupo de repórteres.
“Quanto a levar forças. Por enquanto não existe tal necessidade, mas essa possibilidade existe”, disse ele. “O que poderia servir como motivo para usar força militar? Ela seria naturalmente o último recurso, absolutamente o último.”
Mais cedo nesta terça-feira, Putin ordenou que as tropas envolvidas em um exercício militar no oeste russo, perto da fronteira com a Ucrânia, voltassem às suas bases. Ele disse que homens armados que haviam tomado prédios e outras instalações na Crimeia eram grupos locais.
PREÇOS DA GAZPROM
Aumentando a pressão sobre Kiev, a Gazprom, maior produtora russa de gás, disse que irá retirar um desconto nos preços do gás para a Ucrânia a partir de abril, segundo a agência de notícias Interfax citando o diretor da empresa.
No final de semana Putin disse ter o direito de invadir a Ucrânia para proteger cidadãos e interesses russos após a queda de Yanukovich, depois de meses de revolta popular. A Frota do Mar Negro da Rússia tem uma base na Crimeia.
Mas os exercícios militares no centro e no oeste russos, que começaram na semana passada e despertaram temores de que a Rússia poderia enviar forças para regiões de fala russa no leste da Ucrânia, foram concluídos no prazo.
“O comandante supremo das forças armadas da Federação Russa, Vladimir Putin, deu a ordem para que as tropas e as unidades, que participavam dos exercício militar, retornem a suas bases”, teria dito Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, de acordo com agências de notícias russas.
Embora o fim dos exercícios tenha sido planejado, o anúncio enviou uma mensagem mais conciliadora que a maior parte da retórica das autoridades russas, que dizem que Moscou deve defender os interesses nacionais e aqueles de seus compatriotas na Ucrânia.
Putin está desalentado que a nova liderança da Ucrânia, o berço da civilização russa, tenha planejado se aproximar da União Europeia, longe do que havia sido uma esfera de influência de Moscou durante gerações enquanto durou o comunismo soviético.
O enviado de Moscou na ONU disse, durante uma reunião tempestuosa do Conselho de Segurança, que Yanukovich enviou uma carta a Putin requisitando que ele usasse os militares russos para restabelecer a lei e a ordem na Ucrânia.
A Ucrânia disse que observadores da Organização para Segurança e Cooperação na Europa, um organismo de segurança pan-europeu, viajarão a seu convite para a Crimeia em uma tentativa de desarmar o impasse militar ali.
REAÇÃO OCIDENTAL
Os Estados Unidos começaram a esboçar sua reação à incursão russa, anunciando uma suspensão de todo envolvimento militar com a Rússia, incluindo exercícios militares e visitas a portos, e congelando conversas sobre comércio e investimentos com Moscou.
O presidente Barack Obama se reuniu com assessores de segurança para discutir como os EUA e seus aliados podem “isolar ainda mais” a Rússia, disse uma autoridade da Casa Branca.
“Ao longo do tempo, esta é uma proposta custosa à Rússia”, disse Obama aos repórteres.
O Departamento de Estado disse que os EUA estão se preparando para impor sanções à Rússia, embora nenhuma decisão tenha sido tomada ainda.
Membros do Congresso norte-americano estão estudando opções como sanções aos bancos russos e o congelamento de bens de instituições públicas russas e de investidores privados, mas dizem querer que Estados europeus se envolvam mais.
Um assessor do Kremlin disse que se o EUA de fato impuserem sanções, Moscou pode abandonar o dólar como reserva monetária e se recusar a pagar empréstimos para bancos norte-americanos.
Uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) está em Kiev para discutir uma assistência financeira à Ucrânia para ajudar a evitar a falência. Os novos líderes de Kiev querem um pacote financeiro de pelo menos 15 bilhões de dólares, com a liberação rápida de parte do dinheiro.
A União Europeia ameaçou com medidas que não especificou a menos que a Rússia ordene o retorno de suas tropas às bases e inicie conversas com o novo governo ucraniano.
Líderes ocidentais enviaram uma série de alertas a Putin contra a ação armada, ameaçando consequências econômicas e diplomáticas, mas não cogitam uma reação militar.
Não houve sinais imediatos de nenhum movimento novo das forças russas na Crimeia, embora o presidente interino da Ucrânia tenha dito na segunda que a presença militar russa na península do Mar Negro esteja aumentando.
Forças russas enviaram três caminhões repletos de tropas por balsa para a Crimeia depois de assumir o controle do posto de fronteira do lado ucraniano, disse o porta-voz dos guardas de fronteira da Ucrânia.
Leia a matéria anterior do 247 sobre o assunto:
247 – Após a queda de seu aliado Viktor Ianukovich, a Rússia, de Vladimir Putin, está determinada a defender os interesses russos na Ucrânia, nem que isso represente uma intervenção militar.
Apesar dos protestos das lideranças internacionais e das ameaças dos Estados Unidos, a Rússia fez manobras militares nesta segunda-feira como forma de intimidação. Barack Obama afirmou que a Rússia violou a legislação internacional após a intervenção militar na Ucrânia e disse que o governo dos EUA tem alertado que vai buscar uma série de sanções econômicas e diplomáticas que isolarão Moscou.
Segundo o embaixador da Ucrânia na ONU, Yuriy Sergeyev, os russos deslocaram cerca de 16.000 soldados para a região autônoma ucraniana da Crimeia desde a semana passada.
Putin afirmou que a Rússia se reserva o direito de recorrer a “todos os meios” para proteger os cidadãos na Ucrânia, após o “golpe anti-constitucional e tomada do poder pelas armas”. No entanto, por trás de suas ações existe o interesse de preservar o domínio sobre a região da Crimeia, que tem maioria de cidadãos russos e a base de sua frota do Mar Negro em Sebastopol.
A escalada da tensão na região derrubou os mercados financeiros. A bolsa de Moscou caiu 11,3 por cento, tirando quase 60 bilhões de dólares do valor de empresas russas em um dia, e o banco central do país gastou 10 bilhões de dólares de suas reservas para sustentar o rublo enquanto investidores se assustaram com as crescentes tensões com o Ocidente sobre a ex-república soviética.
Investidores europeus também se assustaram nesta segunda-feira com a intervenção militar, o que arrastou o índice da zona do euro Euro STOXX 50 para sua maior queda diária desde junho.
O índice FTSEurofirst 300, que reúne as principais ações do continente, terminou com queda de 2,2 por cento, a 1.318 pontos, recuo mais forte desde 24 de janeiro, quando preocupações econômicas e políticas provocaram ansiedade em relação a ativos de mercados emergentes.
Já o Euro STOXX 50 perdeu 3 por cento, para 3.053 pontos, maior queda desde 20 de junho de 2013.
Empresas expostas à região, como o austríaco Raiffeisen Bank International, foram as mais afetadas.
“Investidores haviam subestimado os riscos de uma escalada na Ucrânia, então os eventos no fim de semana são um chamado para o mercado”, disse David Thebault, chefe de vendas quantitativas do Global Equities.
As bolsas de valores dos Estados Unidos também recuaram.
Fonte: Brasil 247