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O horror jornalístico da Globo

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Já que estamos em tempo de tribunais golpistas e fascistas, o Jornal Nacional seguiu a regra.

Por Maria Luiza Franco Busse*

Foto: Reprodução

 Os entrevistadores chegaram a conversar entre si e ignorar o entrevistado Os entrevistadores chegaram a conversar entre si e ignorar o entrevistado

Houve um tempo no Brasil em que o jornalismo foi percebido como trabalho intelectual condicionado a prazo. Intelectual porque dava escuta e voz aos porquês e às diversas considerações criticas dos mesmos. Uma arte que exigia profissionais com repertório consistente e rápidos na redação da notícia dado que premidos pelo tempo da produção industrial acossada pela lógica da concorrência.

A partir da ofensiva neoliberal dos anos 80 em que foi propagado o fim da História e, dando um breve salto, o acontecimento das novas tecnologias digitais, o jornalismo ficou capenga do intelectual e atlético na velocidade. Com o fortalecimento do carpo, metacarpo e falanges assim como o desenvolvimento da musculatura dos fascículos bucal as empresas comprometidas com a tal ideologia passaram a produzir uma espécie de profissional formado na convicção de que os jornalistas escrevem com as mãos e pensam com a boca.

A solidez intelectual se desmanchou nas frentes jornalísticas e sobraram alguns poucos, muito poucos, logo apelidados de dinossauros ou seja, destinados a desaparecer, que permitiam lembrar a origem do intelectual na sociedade moderna. Intelectual, designação pejorativa dada pelos reacionários a quem se metia onde supostamente não era chamado. A linhagem de intelectual como a ser acusado e perseguido pela elite reacionária foi inaugurada pelo romancista Emile Zola quando escreveu e publicou no jornal L’Aurore o manifesto ‘Eu Acuso’ em defesa do oficial judeu Alfred Dreyfus, condenado por um crime que não cometeu só pelo fato de ser judeu. Caso escandaloso de crime plantado e sem prova como estamos assistindo hoje em relação ao ex-presidente Lula pelo fato de ser contra o modelo ultraneoliberal que os reacionários do mundo querem implantar no Brasil.

Todo esse nariz de cera, ou seja, essa conversa comprida e dispensável que antecede o assunto principal é para dizer do horror que foi a primeira entrevista com os presidenciáveis promovida pelo Jornal Nacional da Rede Globo. Entrevista, modo de dizer. Pela boca e pelas mãos, foi uma incontinência inquisidora. O convidado era um condenado a priori. A peça acusatória construída era a traição ao princípio da coerência. O réu não era coerente e precisava provar o contrário ao eleitor. O candidato era um ser humano impuro, incoerente, que estava ali para enganar. Se não provasse a coerência, deveria ser exterminado do convívio dos homens corretos e probos, tal qual a sociedade limpinha, pura e grandiosa sonhada pelos nazistas e pelos fascistas.

Ciro Gomes foi o primeiro a sentar no banco dos réus que criminaliza a política. Foi bravo, forte, seguro, e relevou ter o estômago necessário para não vomitar na câmera.

E já que estamos em tempo de tribunais golpistas e fascistas, o Jornal Nacional seguiu a regra. Na emulação, conseguiu ser ainda mais medíocre, patético, irrisório e irresponsável. É o padrão Globo de qualidade jornalística que vai da mão à boca, longe, muito longe, do jornalismo intelectual condicionado a prazo.

 *Maria Luiza Franco Busse é jornalista, semióloga e pós-doutoranda em Comunicação e Cultura.

Portal Vermelho