López Obrador é o novo presidente do México; rivais já reconhecem a derrota
O candidato de centro-esquerda à Presidência do México, Andrés Manuel López Obrador, vence as eleições gerais disputadas neste domingo (1º). O resultado, apesar de não oficial, já foi reconhecido pelos principais adversários de Obrador. Em declaração obtida por um jornalista da TV Azteca, o novo presidente mexicano disse que a primeira medida que tomará quando empossado é combater a corrupção no Estado. Sobre o reconhecimento de sua vitória pelos seus rivais, ele declarou: “Eu os agradeço”.
Diversas pesquisas de boca de urna foram divulgadas ao longo do dia. Todas elas apontavam que López Obrador, do Movimento Regeneração Nacional (Morena), sairia vitorioso na eleição com uma ampla vantagem.
A vitória do candidato do Morena põe fim a 90 anos de alternância no poder entre políticos do Partido Revolucionário Institucional (PRI) e do Partido de Ação Nacional (PAN).
O principal adversário de Obrador, o direitista Ricardo Anaya, do PAN, reconheceu a derrota por volta das 21h (23h, no horário de Brasília), antes mesmo dos resultados oficiais. “As informação que tenho é que a tendência eleitoral favorece Andrés Manuel López Obrador. Falei com ele a alguns minutos e reconheço seu triunfo. Expresso-lhe minha felicitação e desejo de sucesso pelo bem do México”, disse Anaya.
O candidato do PRI, também de direita, José Antonio Meade, que estava em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de votos, foi o primeiro a reconhecer a derrota, por volta das 20h (22h, em Brasília), quando o Instituto Nacional Eleitoral (INE) iniciava a contagem oficial.
Os resultados oficiais do INE serão fornecidos aos poucos ao longo da noite e da madrugada de domingo para segunda-feira (2). Segundo o presidente do INE, Lázaro Córdova, às 23h (1h, de Brasília) será divulgado o primeiro boletim com os resultados oficiais. Por vota das 3h da madrugada a estimativa é ter 60% dos votos apurados, e às 6h da manhã, o INE terá já o resultado de 90% da urnas apuradas, o que representaria uma tendência irreversível.
No México o voto é emitido em cédulas de papel e o resultado preliminar é feito a partir de uma contagem realizada pelos mesários dos quase 157 mil centros de votação. Depois, as urnas são enviadas para a sede do INE, na Cidade do México, e é feita uma recontagem oficial.
Na noite deste domingo, uma multidão se concentra na Praça Zócalo, no centro histórico da Cidade do México, para comemorar a vitória de López Obrador. Por volta das 17h os primeiros grupos de simpatizantes já se chegavam para a frente a um hotel, também na região central da capital federal, onde o candidato espera os resultados oficiais.
Esta é considerada a maior eleição do México, com a escolha de mais de 18 mil cargos federais, estaduais e municipais. Cerca de 86 milhões de mexicanos estavam aptos a votar.
Saiba quem é o novo presidente do México
Apesar de Obrador não ser considerado um candidato da esquerda tradicional, Obrador é um político que surge das bases do chamado “nacionalismo revolucionário mexicano”, representado pelo ex-presidente Lázaro Cardenas, que governou o México entre 1934 e 1940, e promoveu reformas importantes no estado, a exemplo do que fez Getúlio Vargas no Brasil e o general Juan Domingos Perón na Argentina.
“Obrador não vem da esquerda tradicional, nunca militou em partido de esquerda como o Partido Comunista. No entanto, sua principal identidade política é o nacionalismo revolucionário. Ele critica o modelo neoliberal. O saldo de trinta anos de governos neoliberais no México é desastroso. López Obrador está consciente disso que está propondo uma saída alternativa, sem ir a fundo. Dentro de uma margem de possibilidade, ele propõe fazer ajustes, reformas econômicas e políticas que permitam redistribuir a riqueza”, afirma o secretário de relações exteriores do Sindicato dos Eletricistas do México, José Humberto Montes Oca Luna.
O discurso nacionalista de Obrador está relacionado sobretudo ao setor econômico. Ele afirma que as riquezas naturais do país, como o petróleo e a água, continuarão sob o controle do Estado mexicano. O presidente Peña Nieto propôs em 2014 uma reforma energética, que privatizou parte do setor elétrico. Também permitiu maior abertura no setor petroleiro para entrada de empresas estrangeira no setor de exploração e produção, que hoje é controlado pela empresa estatal Pemex. “Vou frear as privatizações e recuperar a PEMEX para os mexicanos”, disse Obrador.
Outro aspecto nacionalista de sua campanha é a proposta relacionada a produção de alimentos do país. No dia 10 de abril, o candidato se reuniu com 5 mil camponeses no estado de Zacatecas, na região central do país, onde assinou um documento onde reafirma seu compromisso de implementar o Plano de Ayala do Século 21, que propõe uma série de políticas de produção agrícola direcionada aos pequenos produtores rurais e comunidades indígenas.“Vamos devolver ao México a soberania alimentar que perdeu com os governos neoliberais”, garantiu Obrador.
Críticas à Obrador
Para tentar ganhar essas eleições, Andrés Manuel López Obrador chegou com um discurso mais moderado, fez acordos com o setor financeiro e empresarial mexicano e até uma aliança com o conservador Partido Encontro Social (PES), legenda evangélica de extrema-direita. De acordo com o Morena, alianças como essa com o PES foram necessárias para garantir a presença em certos setores que Obrador não tinha espaço. Além disso, por ser um partido pequeno e com apenas três anos de registro eleitoral, o Morena não possui atuação massiva em todo o país. A aliança com outros partidos também é vista como importante para garantir presença de testemunhas eleitorais em todas as mesas de votação e assim diminuir as possibilidades de fraude.
“A diferença entre essa eleição e as anteriores é que agora os acordos com setor do capitalismo mexicano, com os políticos ligados ao PRI e à igreja evangélica, podem resultar na vitória de Obrador. Ainda assim, isso não elimina por completo a forma suja de operar a ‘tradicional fraude’. Mas ganhando ou perdendo o cenário para o movimentos sociais é difícil, por estarem fragmentados e debilitados”, analisa o ativista político e filósofo, doutor da Universidade Autônoma do México, Rafael Magdiel Sanchez Quiroz.
Além disso, as organizações de esquerda e movimentos sociais criticam a composição de seu gabinete, caso seja eleito. Na página de campanha de Obrador foram publicados os principais nomes que devem assumir os ministérios em seu governo. O caso mais emblemático é o do futuro ministro de Agricultura, o engenheiro agrônomo Victor Vilalobos, defensor dos transgênicos e ex-diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para la Agricultura (IICA), que faz parte da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Apesar das críticas, o analista político Katu Arkonada afirma que Obrador é a única opção da esquerda nesse momento. “Entre os candidatos com reais chances de chegar ao poder, Andrés Manuel López Obrador é o único progressista e que pode oferecer uma alternativa aos setores sociais e de esquerda. López Obrador é a esquerda possível hoje no México.”
Nessa mesma linha, Oca Luna diz um possível governo Obrador poderia também ter como efeito positivo frear a perseguição à esquerda. “Só o fato de ter um governo que não nos mate ou nos persiga já será um grande avanço e permitirá à esquerda se reorganizar, preencher esse vazio político que deixou a falta de uma alternativa que realmente possa nos representar enquanto esquerda”.
Brasil de Fato