As mulheres na eleição
Apesar de suas esquisitices, a eleição deste ano é particularmente importante para as mulheres brasileiras.
Por Tereza Cruvinel*
Começo pelas eleitoras. Nas pesquisas, as mulheres são maioria entre os eleitores indefinidos, desconfiados ou decepcionados que declaram não ter candidato ou admitem votar em branco ou nulo, o chamado não-voto. Isso significa que estão sendo mais exigentes e vão decidir racionalmente, quando conhecerem melhor os candidatos e suas possibilidades. No último Datafolha, na pesquisa espontânea, o não-voto alcançou 46%, índice composto por 54% de mulheres e 38% de homens.
A modalidade espontânea mostrou, ainda, que o candidato Jair Bolsonaro terá dificuldades para crescer entre as mulheres. Ele obteve 12% de preferência total, mas alcançou 18% entre os homens e apenas 6% entre as mulheres. Para cada três eleitores, conta com apenas uma eleitora. O voto em Lula é mais equilibrado: 9% entre elas e 10% entre eles. A barreira feminina contra Bolsonaro reaparece na pesquisa estimulada. Seu índice de 17% é composto por 23% de preferência entre homens contra apenas 11% entre mulheres. Lula, no mesmo cenário, obtém 30% de preferência total, sendo de 31% as mulheres e 29% entre os homens. Quando Lula não aparece na cartela, o não-voto sobe de 17% para 28%, com as mulheres respondendo por 33% e os homens por 23%.
Entre os outros candidatos, elas são maioria nítida apenas entre os eleitores de Marina Silva, que cresce, entre as mulheres, de 11% para 17% quando Lula é excluído da cartela. Em relação aos demais há empate ou prevalência do voto masculino, caso muito claro em relação a Ciro Gomes. Estes recortes sugerem que as mulheres preferem Lula e Marina, não gostam de Bolsonaro e quando as que integram o não-voto se definirem, poderão fazer diferença.
Agora vamos à busca do voto pelas mulheres que, embora sendo maioria na população e no eleitorado, ocupam apenas 11,3% das cadeiras no Congresso, o que coloca o Brasil num humilhante 152º lugar em representação política feminina no mundo. Nas assembleias legislativas não é muito diferente. Nas Câmaras de vereadores o quadro é um pouco melhor, com elas alcançando em média 13%. Embora a lei das cotas partidárias seja de 1997, os 30% tornaram-se obrigatórios só a partir de 2010. O número de candidatas aumentou, mas o de eleitas, não. Em 2014, quando a primeira mulher, Dilma Rousseff , foi eleita presidente, 6.470 mulheres disputaram o pleito mas apenas 177 foram eleitas, segundo o TSE.
Um dos motivos para o pífio resultado das cotas foi sempre a falta de acesso ao financiamento, que era bancado por empresas. Os homens que mandam nos partidos acertavam (hoje sabemos em que bases) as doações de empresários e distribuíam o dinheiro como queriam. Em 2014, as mulheres ficaram com apenas 11% dos recursos. Agora, com o financiamento público e a reserva de 30% dos recursos para mulheres, haverá mais equidade na disputa. A bancada do Bolinha revoltou-se, mas seria preciso aprovar uma lei para reverter a decisão do TSE, e é tarde para isso.
Os partidos sempre burlaram a cota lançando “candidatas laranja”. As mulheres foram 85% entre os 18,5 mil candidatos que receberam menos de dez votos em 2014. Se a burla se repetir, pode neutralizar a grande chance que teremos este ano de reduzir a gritante desigualdade de gênero na política. E combater a burla depende mais das próprias mulheres do que da lei.
*Tereza Cruvinel é jornalsta e colunista do Jornal do Brasil.
Fonte: Jornal do Brasil