27,7 milhões precarizados: efeito Temer agrava drama do trabalhador
O IBGE divulgou nesta quinta-feira (17) que existem no Brasil 27,7 milhões de trabalhadores subutilizados. São desempregados, aqueles que a contragosto trabalham menos de 40 horas e os que desistiram de procurar emprego. Clemente Ganz, diretor do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese) afirma que o dado é alarmante porque mostra que a precarização do trabalho tende a avançar. Sindicalistas afirmam que a política de Temer agravou cenário.
Por Railídia Carvalho
É o caso dos 6,2 milhões de subocupados apontados pelo IBGE. Clemente lembrou que esses números apontam que modalidades de trabalho formalizadas pela lei trabalhista como o contrato em tempo parcial, trabalho intermitente e teletrabalho devem aumentar. “São todas formas de contratação precárias que levam à subutilização da força de trabalho gerando condições de trabalho precárias”, explicou Clemente.
Mercado de trabalho desprotegido
A estatística mostra que a taxa de subutilização vem crescendo desde o primeiro trimestre de 2016, que registrou 20,7 milhões, passou para 26,5 milhões no primeiro trimestre do ano passado, e neste mesmo período de 2018, atingiu 27,7 milhões. Este último número é a maior taxa de subutilização desde o início da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, iniciada em 2012.
“Do ponto de vista do desemprego essas pessoas que fazem bico, que agora é legal pela reforma, não estão mais desempregadas. Porém, o resultado desse trabalho de quem está subocupado está aquém da sua necessidade econômica. Se o cara trabalha quatro horas por dia e está tudo bem é uma situação. Mas trabalhar menos porque não tem emprego mesmo ele precisando é outra. Esse é o problema. Indica um mercado de trabalho inseguro e frágil que tende a crescer.”
Segundo ele, um cenário de desemprego baixo e subocupação às custas da precarização não vai gerar postos de trabalho em quantidade e na qualidade que o trabalhador precisa. “Isso passa a ser uma das grandes lutas que o movimento sindical vai precisar enfrentar”, ressaltou.
Golpe interrompeu avanço civilizatório
“O Brasil voltou para que lugar? Para o mapa da fome, do desalento, do desemprego. Ou seja, voltou para um tempo sombrio, obscuro onde o conservadorismo reinante vai colocando o povo à margem de toda e qualquer expectativa de melhoria de vida”, declarou Adilson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
De acordo com Adilson, o governo Temer não está preocupado em equacionar o problema do desemprego. “A agenda dele é comprometida com o rentismo, o capital estrangeiro e o capital privado. É uma agenda vocacionada para reduzir o custo do país, congelando os investimentos sociais e promovendo o desmonte do Estado nacional e desconstruir tudo o que melhorou a vida do povo. Os números do IBGE comprovam isso. O Brasil caminha para um colapso.”
O presidente da CTB criticou a reforma trabalhista: “A reforma é um fracasso porque se era para modernizar o que criou foi a precarização do trabalho, o que dificulta a produtividade. Por tabela dificulta a retomada do crescimento. A insegurança jurídica que motivou a reforma penalizou mais ainda o trabalhador que perdeu o direito de acessar a Justiça do Trabalho porque se perder a ação tem que pagar as custas. É uma catástrofe”.
Agravamento das desigualdades
O dirigente lembrou que os mais frágeis tem sido os mais penalizados pelo golpe de 2016. “Aumentam as desigualdades regionais porque o ônus dessa política afeta os trabalhadores dos estados que mais precisam como os da região norte e nordeste (a pesquisa mostra que a maioria que desistiu de procurar emprego é do nordeste). Penaliza a expectativa de um futuro melhor para o povo em geral e mais ainda para a população negra, a juventude e as mulheres. As estatísticas mostram que o golpe mudou a rota de ascensão social do trabalhador, do povo brasileiro que se iniciou no governo Lula e se viu por mais de uma década.”
De acordo com o IBGE, o desemprego entre a população que se declara branca ficou em 10,5% no 1º trimestre. Esse número é abaixo da média nacional (13,1%). Por outro lado, entre os negros a taxa é de 16,0% e a dos pardos 15,1%, ambas acima da média nacional. O desemprego também atinge mais as mulheres do que os homens. A taxa de desocupação no 1º trimestre foi de 11,6% para homens e de 15% para mulheres. Quando se fala em taxa de ocupação os números se invertem: o nível da ocupação dos homens no 1º trimestre foi de 63,6% e o das mulheres, em 44,5%.
Política de desenvolvimento
“É um absurdo prometeram um paraíso e a ponte para o futuro se tornou a ponte para o atraso. O Brasil está retrocedendo nos índices sociais e o emprego que é o principal motivo para ter esperança fica cada vez mais longe. Todas as políticas implementadas pelo atual governo vieram trazer desemprego, recessão e uma falsa propaganda que o Brasil iria melhorar mas o dia a dia está mostrando pra gente que não”, afirmou Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e vice-presidente da Força Sindical.
Na opinião dele o Brasil precisa de um plano que respeite as particularidades regionais e priorize o desenvolvimento, a qualificação e a busca de tecnologia. “Todo e qualquer país que é desenvolvido aplica isso na política. O que estamos fazendo é diminuindo o peso da indústria na economia e aumentando o desemprego e importando produtos que poderiam ser produzidos aqui”, criticou.
Segundo Miguel, o país precisa de uma política emergencial para fortalecer a indústria, que promova a qualificação do trabalhador e fortaleça o mercado interno. “E pensando de forma mais pragmática, a reforma trabalhista tem que ser revogada porque não fez nada do que prometeu. Ao contrário, gerou precarização, insegurança jurídica e promoveu desemprego”, finalizou.