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Atrás da prisão de Lula, a sombra das oligarquias econômicas

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Ricardo Stuckert

 

O ex-presidente do Brasil representa as classes menos privilegiadas do país e era o candidato favorito para as eleições de outubro. O bispo Bernardini disse: “a sua mente e o seu coração não podem ser presos”

Por Katia Fitermann

Luiz Inácio Lula da Silva decidiu se entregar para a polícia federal em São Paulo para cumprir a pena que lhe atribuem por corrupção. O sindicato dos metalurgicos, onde ele estava, permitiu; mas ele teve que atravessar uma multidão que se reuniu durante dias para impedir sua prisão, espalhada dentro e fora da igreja de São Bernardo do Campo. O bispo Angelico Sandalo Bernardini, da Diocese de Blumenau, no sul do Brasil, encorajou o ex-presidente do país e a multidão de fiéis: “aqui está um cidadão que já foi preso no passado”, disse Bernardini, que já foi presidente da Conferencia Nacional de Bispos do Brasil. “Ele foi preso sem que nenhuma prisão pudesse deter o seu coração, a sua mente e os seus ideais. Continua a dedicar a sua vida à causa da paz, que é fruto da solidariedade, do amor, da misericordia e da justiça. Que Jesus te proteja, irmão e companheiro!”, disse Angelico para Lula no fim de semana.

Os testemunhos daqueles que apoiam o “presidente guerreiro do povo”

Lula foi carregado quase como triunfo da multidão que se manifestava a seu favor e gritava: “Lula presidente guerreiro do povo!”. “Querido presidente Lula, que magia é esta sua que hoje garante a democracia brasileira e é simbolo da esperança de milhões de brasileiros que gritam o seu nome em todo o país e em terras estrangeiras? Que magia é essa que te dá coragem, apesar de todo o sofrimento pessoal, para oferecer a cada um de nós uma lição de dignidade e humanidade? A resposta é muito fácil: a sua simplicidade, senhor presidente, é assim desarmante que os seus torturadores subestimaram a grandeza que ela significa”. Essas são palavras dedicadas a Lula pelo economista da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos, quem escreveu uma carta endereçada ao ex-presidente brasileiro logo após a expedição do seu mandato de prisão por parte do juíz Sérgio Moro. Uma das várias mensagens internacionais enviadas ao ex-presidente. Outras manifestações de solidariedade chegaram por parte de intelectuais, jornalistas, sacerdotes, artistas, mas especialmente por parte da grande massa de pessoas marginalizadas, pertencentes às classes mais pobres do Brasil, que tinha se reunido há dias na frente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e em outros lugares do país.

O poder judiciário e a perda de independência 

“Lula foi preso não porque cometeu um crime, do qual até agora não existem provas concretas de sua culpabilidade, se fosse assim ele poderia ter recorrido a todos os meios previstos pela Constituição brasileira, o que lhe foi negado. O juíz Moro pediu a prisão de Lula apenas porque ele representa um perigo para as próximas eleições presidenciais que vão acontecer no Brasil em outubro desse ano. Isso justamente porque ele representa a população pobre que não deve ter nem voz, nem direitos, nem visibilidade. Na prisão, ele não poderá se candidatar para as eleições presidenciais. Para conseguir tirá-lo do jogo, o poder judiciário brasileiro, um dos poderes principais da Constituição Federal do Brasil e que deveria ser autonômo e independente na sua atividade, violou a Constituição. Esse mandato de prisão, na realidade, serve apenas para impedir a candidatura de Lula, e foi planejado por uma classe social e política que não quer a defesa dos direitos iguais para todos, mas a manutenção da casta social mais alta do país, com seus privilégios e garantias de direitos à revelia de todo o povo brasileiro”. Essa fala foi de Antonio Vermigli, diretor da revista “Em Diálogo” e membro da Rede Radie Resh, associação de solidariedade internacional fundada em 1964 pelo jornalista, escritor e ex-parlamentar italiano Ettore Masina, depois de uma viagem com o Papa Paulo sexto para Israel. Vermigli é também organizador da Marcha pela Justiça que acontece há 25 anos e todo ano em Quarrata, na província de Pistoia, e que já contou com a participação de muitas pessoas (entre elas o escritor Luis Sepulveda, o vencedor do premio Nobel pela paz Rigoberta Menchu, e o próprio ex-presidente Lula em 1999, quando ainda estava na corrida presidencial, por ele vencida em 2003).

A divisão entre as classes sociais

“A prisão do ex-presidente operário”, prossegiu Vermigli, amigo pessoal de Lula, “determinou um divórcio definitivo entre as classes sociais do país, que reagiram à notícia de maneira oposta. Para compreender com precisão a decisão do Supremo Tribunal Federal e a consequente reação de grande parte do país a essa decisão, é necessário fazer uma digressão na história do Brasil, país nascido e crescido sob a colonização portuguesa, sob um sistema escravista e com diversos conflitos internos pela defesa da liberdade e dos direitos civis que serão conquistados durante seus séculos de história. Lula foi um grande protagonista das batalhas pelos direitos dos trabalhadores duarante o período escuro da ditadura militar no país e muitas pessoas, nos dias atuais, parecem não ter esquecido a figura carismática do líder operário”, concluiu Vermigli.

O protesto dos católicos 

Entre os trabalhadores apoiadores de Lula, muitos são católicos que operam nas diversas pastorais no nordeste do país e que explicam o mandato de prisão contra o ex-presidente como não apenas uma violação dos direitos constitucionais, mas como um verdadeiro golpe de Estado com cunho político-econômico, como explica Antonio da Silva: “Querem prender Lula porque esse país continua vivendo na época da escravidão, da qual nunca se libertou. Por trás da política brasileira existe a economia mundial e a vontade de explorar e roubar a nossa nação. Depois da descoberta no Brasil das enormes jazidas de petróleo, do pré-sal e da grande quantidade de Niobio, metal mais nobre e caro do que o ouro e o titânio, além de todos os outros recursos naturais e economicos que possuimos, ter um governo corrupto e colaborativo com os Estados Unidos e outros países do mundo é comodo para muitas nações estrangeiras desenvolvidas, do primeiro mundo, o mundo do ocidente industrializado”.

A Rússia e a Turquia tinham avisado a ex-presidenta Dilma do perigo de um golpe midiático e judiciário

“Eu começaria com o que aconteceu no governo de Dilma Roussef”, continua Vermigli, “isto é, quando ela foi deposta das suas funções de presidenta da República, por meio de um golpe midiático e judiciário, um golpe de Estado promovido com muita organização por parte de um grupo de pessoas composto pelos ricos, pelas finanças, pelas multinacionais e pela maior rede de televisão da América Latina, junto da magistratura. Posso dizer com muita honestidade que desde o final da primeira campanha eleitoral Dilma foi avisada pelo presidente da Turquia, Erdogan, e pelo presidente da Rússia, Vladmir Putin, por meio de telefonemas diretos que estavam organizando um golpe jurídico contra seu mandato; ambos estavam surpresos com o fato do serviço secreto brasileiro ainda não ter chagdo no caso. Estamos diante de uma recolonização do Brasil efetuada pelos mais ricos (suspeita-se que morem no Brasil mais de 75mil ultamilhonários), que administram a maior parte da riqueza do país e que junto das multinacionais sempre procuraram se livrar da presença de Lula e depois de Dilma”.

Os direitos das pessoas pobres

“Durante o governo Lula”, conclui Vermigli, “pela primeira vez no Brasil os pobres pôde ter alguns direitos assegurados; foram efetuados muitos investimentos nas pequenas empresas, no trabalho dos pequenos agricultores, as pessoas experimentaram pela primeira vez um certo bem-estar e muitas pessoas puderam viajar, coisa que antes era impensável para essa classe. O páis crescia e havia uma distribuição de renda mais igualitária que com certeza incomodou muito a classe dominante, que sempre pôde usufruir de cada privilégio independente da situação da maioria dos brasileiros, que nada podiam. O crescimento da economia brasileira teve como base justamente a redução do abismo entre ricos e pobres. As pessoas podiam comprar bens de consumo, eletrodomésticos, e foi nessa situação de melhora das condições de vida que o país teve um enorme crescimento. O famoso BRICS, união no mercado dos países em ascensão, composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, ameaçava o mercado ocidental dos Estados Unidos e de seus interesses econômicos. O atual governo Temer cancelou 80% dos projetos sociais, privatizou tudo aquilo que podia até agora, começando pelo pré-sal, um dos maiores reservatórios de petróleo e gás natural do oceano Atlântico, localizado na costa brasileira (chega a extrair 25mil barris de petróleo por dia)”.

O fio condutor entre a morte de Marielle Franco e o pedido da detenção imediata de Lula

Talvez exista um fio vermelho que conecta a execução de Marielle Franco, ativista política e social do Brasil, além de vereadora do Rio de Janeiro e o pedido de detenção imediata do Lula, segundo conclui Vermigli: o racismo e o classicismo fortemente presentes na sociedade brasileira determinam uma forte discriminação social na tentativa de assegurar a manutenção dos privilégios da classe socioeconomica mais abastada e a casta das oligarquias político-financeiras. “Porque na realidade do Brasil, além de racista, é também muito classicista”.

Tradução por Alessandra Monterastelli

Fonte: Famiglia Cristiana

Portal Vermelho