PT, AOS 34, ENFRENTA SUA PRÓPRIA ENCRUZILHADA
Nesta segunda-feira 10, o Partido dos Trabalhadores comemora mais um aniversário. E prepara uma grande festa, em São Paulo, para comemorar os 34 anos de sua fundação. Lula, que viaja para os Estados Unidos para um encontro com o ex-presidente americano Bill Clinton, não estará presente. Todas as atenções estarão voltadas para a presidente Dilma Rousseff que, a oito meses das eleições presidenciais deste ano, ostenta boas condições de se sagrar vitoriosa – talvez em primeiro turno.
A despeito disso, o PT vive o momento mais difícil de sua trajetória. Ontem, em Ribeirão Preto, o ex-presidente Lula afirmou que os petistas estão “tristes pelos companheiros presos”. E não são quaisquer companheiros. Um deles, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que foi o parlamentar mais votado da legenda em 2010. Outro, José Dirceu, o principal líder da legenda desde a fundação, depois de Lula. Além deles, o ex-presidente José Genoino, em prisão domiciliar, e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, no semiaberto.
Mais do que festa, o momento exige uma reflexão profunda sobre o momento atual vivido pela legenda. Em pouco mais de dez anos, o partido elegeu dois presidentes – um deles reeleito – e provocou ao mesmo tempo uma profunda transformação no País, com políticas sociais e econômicas que retiraram milhões de brasileiros da miséria.
No entanto, o PT não encontrou um modelo de governabilidade satisfatório. Se, nos primeiros anos do governo Lula, as alianças com partidos pequenos redundaram no chamado escândalo do “mensalão”, hoje o partido vive às turras com seus principais aliados, especialmente o PMDB, sempre dispostos a cobrar um preço mais alto pelo apoio. Diante dos erros e acertos cometidos não é preciso que o PT se reinvente, mas é necessário que reflita e se reencontre, especialmente com aqueles que lhe outorgaram o direito de administrar o seu futuro: o povo.
Política de alianças
Embora a presidente Dilma Rousseff seja herdeira do capital político do presidente Lula e tenha intensificado as ações sociais – vide o programa Mais Médicos, por exemplo – é preciso que o PT reflita sobre a encruzilhada na qual se encontra. Tentando a reeleição, Dilma vem buscando acomodar a base aliada ofertando cargos e, ainda assim, enfrentando resistências do maior partido que gravita em torno de seu governo e que ameaça rebelar-se a qualquer momento: o PMDB. Mesmo tendo Michel Temer na vice-presidência e o controle de boa parte dos ministérios, a legenda pressiona o governo por mais e mais cargos. No caso de negativas, a ameaça é clara como o sol. Caso não consiga, o partido poderá não fornecer o apoio desejado pelo PT em torno da reeleição de Dilma Rousseff.
Ao mesmo tempo, a disposição do PT de se sacrificar pelos aliados será testada em 2014, nas eleições estaduais. Pela primeira vez em sua história, o partido sonha em conquistar o chamado “triângulo das Bermudas” da política nacional. Tem candidaturas fortes em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, com Alexandre Padilha, Fernando Pimentel e Lindergh Farias. E é no Rio, governado pelo PMDB, justamente o nó mais complicado a ser desatado – os peemedebistas garantem que, sem o apoio a Luiz Fernando Pezão, Dilma terá dificuldades para montar seu palanque no estado. Dos três candidatos, Lindbergh é o que hoje apresenta maiores dificuldades para deslanchar.
Em nome das alianças, o PT decidiu apoiar o PMDB em estados como o Pará, com Helder Barbalho, Alagoas, com Renan Filho, e Amazonas, com Eduardo Braga. Terá candidatos próprios nos estados que já governa, como o Distrito Federal, de Agnelo Queiroz, o Rio Grande do Sul, de Tarso Genro e a Bahia, onde Jaques Wagner apoiará o secretário Rui Costa. No Piauí, o senador Wellington Dias é favorito para voltar ao poder, enquanto, no Mato Grosso do Sul, o também senador Delcídio Amaral tem boas chances. Numa disputa mais dura, a ex-ministra Gleisi Hoffmann tentará conquistar o Palácio Iguaçu, no Paraná, hoje em poder do tucano Beto Richa.
Nesta festa dos 34 anos de criação do Partido dos Trabalhadores, o partido estará dividido entre os sonhos daqueles que pretendem se manter ou conquistar o poder e o drama dos que ficaram pelo caminho. Na sua história recente, o PT sempre demonstrou que o pragmatismo falou mais alto do que a solidariedade. Mas a efeméride deve também servir para que a legenda reflita sobre os acontecimentos, conquistas e derrotas que marcaram a sua história ao longo dos tempos. Somente assim, será possível que o partido responda a uma das perguntas fundamentais para definir o se futuro: Qual PT o PT quer ser?
Brasil 247