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Participação da indústria no PIB é a menor desde os anos 1950

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Reportagem publicada por O Globo mostra que os economistas se dividem na hora de explicar a perda de espaço do setor. Enquanto alguns apontam o fenômeno como um processo natural de mudança do perfil, outros defendem que o Brasil passa por um processo de desindustrialização precoce, algo muito nocivo para a economia.

“Historicamente, os países que se desenvolvem passam por processos de industrialização, enriquecem e, aos poucos, reduzem a participação do setor na economia”, diz a matéria. Segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a queda estrutural da participação da indústria na economia ocorreu mais rapidamente no país do que no resto do mundo. Entre 1975 e 1992, o peso do setor no PIB mundial diminuiu 25%, enquanto, no Brasil, recuou 38%.

Analistas avaliam também que o Brasil ainda não teria atingido toda sua potencialidade produtiva manufatureira nem um um nível de desenvolvimento que justificasse essa transição. A própria Fiesp observa que o início desse processo ocorreu quando o país tinha PIB per capita de US$ 11 mil, menos que o patamar de US$ 20 mil observado em países desenvolvidos quando vivenciaram essa perda do peso da indústria na economia.

“Nossa renda per capita não é de país desenvolvido. O Brasil está para trás na robotização, não tem um grande fenômeno de outsourcing (terceirização de processos da indústria para o exterior). Foram as condições macroeconômicas e sistêmicas que fizeram com que a indústria perdesse espaço, como câmbio desfavorável e custo de capital elevado”, disse Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a O Globo.

Na sua opinião, uma recuperação da produção a níveis semelhantes aos observados no melhor momento do setor, em 2013, poderia vir apenas em 2024. Segundo Cagnin, enquanto a indústria brasileira definhava, os demais países ampliavam sua capacidade produtiva, com a intensificação do uso de tecnologia.

O professor do Departamento de Economia da UNB, José Luís Oreiro, afirma que a desindustrialização não só está ocorrendo, como reduz as perspectivas de crescimento da economia brasileira. “Fora a retomada cíclica do nível de atividade, que já está posta, é preciso enfrentar essa questão para que o Brasil possa crescer a uma taxa mais robusta e sustentada.

Na sua avaliação, as ações de incentivo ao setor não podem funcionar sem taxas de juros e câmbio competitivas. Segundo ele, as políticas industriais que sucessivos governos tentaram aplicar falharam ao não incluírem mecanismos de contrapartida.

Para o professor de economia da PUC-SP e sócio-diretor da consultoria AC Lacerda, Antonio Corrêa de Lacerda, é bem provável que a indústria continue perdendo representatividade no PIB, mesmo com a economia tendo parado de cair.

“Conjunturalmente estamos melhor, mas estruturalmente pioramos”, disse, ressaltando que o acesso a recursos de longo prazo, como os obtidos pelas empresas no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ficaram mais escassos. “Isso afeta muito o desempenho da indústria. As políticas industriais deveriam ser perenes, independentemente do governo. São poucos os países que se desenvolvem sem a indústria acompanhar”, completou.

Em entrevista concedida no início de 2017, o economista da Unicamp, Marcio Pochmann já previa que a indústria, que havia sido o vetor principal do comando da acumulação capitalista no Brasil, praticamente iria se desfazer com a recessão. Na ocasião, ele projetava que, com o governo Temer, o país não teria mais condições de ter industrialização.

“Não significa que não teremos indústria. Não teremos industrialização, que é uma coisa um pouco diferente”, disse, à ocasião. De acordo com ele, industrialização é a centralidade da indústria do ponto de vista da acumulação de capital. “

É ela que, ao expandir o seu próprio setor, contamina vários outros setores da atividade econômica. O que temos hoje basicamente é a força do setor de produção agromineral e o setor de serviços. São setores importantes, mas sem capacidade de permitir um ritmo de expansão sustentável para um país com mais de 200 milhões de habitantes”, avaliou.

Outro indicador, divulgado nesta segunda-feira (5), ajuda a traçar o retrato do setor na atualidade. A indústria, que encerrou 2017 estagnada depois de três anos de queda, iniciou 2018 com recuo na geração de emprego e na massa salarial. O emprego recuou 0,5% em relação a janeiro do ano passado, enquanto a massa salarial encolheu 0,3%.

Conforme dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), houve, contudo, um aumento no faturamento e nas horas trabalhadas e maior utilização da capacidade instalada no início do ano.

 Do Portal Vermelho