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Ex-preso político sobre intervenção militar no Rio: “É um remake de 64”

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Sede do DOI-CODI no Rio, instalada no quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, no bairro da Tijuca - Créditos: Fundo Última Hora/Apesp
Sede do DOI-CODI no Rio, instalada no quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, no bairro da Tijuca / Fundo Última Hora/Apesp

“A gente já assistiu a um filme parecido antes”. É assim que a intervenção militar decretada no Rio de Janeiro foi descrita por Paulo César Ribeiro, 69 anos, ex-militante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) e preso durante a ditadura militar de 1964. Em entrevista ao Brasil de Fato, o militante dos direitos humanos analisou a intervenção dentro da conjuntura de golpe, após o afastamento da presidenta eleita Dilma Rousseff.

“Parece um remake de 64, não é o mesmo filme, mas é um remake. E muita gente achava em 63 e 64 que não teria golpe e de repente o golpe veio. Eu também não quero dizer com isso que vai haver golpe, pois já teve, mas que as características dos golpes atuais na América Latina não precisam necessariamente de intervenção militar, mas o golpe midiático, o golpe com apoio de setores do judiciário”, explica.

Ribeiro foi preso duas vezes. A primeira em 1970 em Niterói e ficou mais de 1 ano em cárcere, primeiro no DOI-CODI e depois em diversos quartéis do exército, até ser julgado e absolvido. Neste período também contraiu uma infecção pulmonar grave e ficou internado 6 meses no Hospital Central do Exército. “Tinha 20 e fiz 21 anos na prisão”, conta.

“A segunda vez em 1973 por 15 dias. Porque durante a ditadura você era preso, mas na verdade você não era preso, você era sequestrado. Uma coisa parecida com o que eles chamam hoje de condução coercitiva.” E ele explica: “pegam em casa, às 6 horas da manhã. Inclusive, nessa ocasião, a minha casa foi invadida, revirada e roubaram meus pertences pessoais como geladeira e televisão.” Ele ainda descobriu mais tarde que o chefe da equipe de detenção da segunda vez em que foi preso era o Paulo César Amendola, fundado do BOPE e atual secretário de Ordem Pública de Marcelo Crivella.

Ele também comentou a frase do General Eduardo Villas Bôas, de que militares necessitariam de garantias para agir na intervenção “sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade”. “É um absurdo como já se prevê a violação grave de direitos humanos querendo previamente uma anistia e não querendo que não exista uma comissão da verdade.” Para ele um militar que cumpra suas funções deveria querer o contrário. “Qualquer militar que cumpra seus deveres e honre a farda, honre a constituição que jura defender devia ser o primeiro a dizer ‘nós cumprimos a constituição e queremos que tenha comissão da verdade até para esclarecer [o que acontecer]’. Mas eles não assumiram os crimes que cometeram, pelo contrário, e estão acobertando os próprios crimes e crimes de companheiros de farda, da corporação.”

O ex-preso político vê toda a situação da intervenção no Rio com preocupação. “A popularidade do governo está muito baixa e aí vem uma tentativa de intimidação das comunidades mais pobres do Rio de Janeiro”, analisa. Para ele essa é uma tentativa de barrar qualquer manifestação por se tratar do início de um estado de exceção. “Começar a suspender direitos, invadir comunidades. Está se desenrolando uma luta entre o pouquinho que resta de democracia, que não foi totalmente destruída, pelo menos de maneira formal, pelo golpe de 2016, e as demonstrações são cada vez mais volumosas de não respeitar os direitos humanos. Isso nos preocupa muito”, declara.

Ele também chama atenção para o foco da intervenção. “Certamente são também racistas e fazem discriminação social porque você não imagina que vá ter mandato de busca e apreensão coletiva na Avenida Vieira Souto, na Avenida Atlântica, em Ipanema, Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. Será nas comunidades”, conclui.

Brasil de Fato