Agroecologia envolve mais do que apenas produzir, defende agricultor
A 120 quilômetros da capital goiana, o município de Goiás, que tem o mesmo nome do estado do centro-oeste brasileiro, reúne no seu entorno 24 assentamentos de agricultores familiares.
Isso fez com que a cidade se tornasse uma referência nacional em reforma agrária. A conjuntura diferenciada da região motivou a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Goiás, a criar a Escola Diocesana de Agroecologia.
Aguinel Lourenço da Fonseca Filho, membro da Pastoral, explica quais são os objetivos da escola e como ela se relaciona com os assentados. “É um espaço de formação, de troca de experiência, onde os agricultores aprendem, ensinam, têm um trabalho teórico, de oficinas práticas, de implantação de experiências agroecológicas. Então, ao final de um processo de um ano, em cada parcela dos participantes, é criada uma inciativa à produção, ou uma estufa, ou um quintal, ou um pomar, uma recuperação de nascente, então, trabalhos práticos que vão ficar.”
Altamiro Lourenço e Cirlene Lourenço são casados e moram no assentamento Serra Dourada, que fica a apenas seis quilômetros do centro da Cidade de Goiás. Frequentador assíduo e parceiro da escola diocesana, Altamiro tem um conceito bastante abrangente do que é a agroecologia:
“Produção agroecológica não é só produzir. Produzir é um dos trabalhos. Mas, é todo um conceito: é a valorização da família, é a valorização de terceiros, a valorização do meio-ambiente, a valorização do solo; é reconhecer a importância dos insetos, do consumidor e entender que eu não vendo pra você algo que a minha filha não pode comer.”
Altamiro conta que sempre se preocupou com o meio ambiente e avisa: para quem deseja fazer a transição agroecológica, é importante buscar conhecimento. “Se você vai trabalhar mesmo, primeiro passo: faça visita, faça intercâmbio, não pra copiar, mas pra você ver a experiência, ver soluções e ver o quê que pode ser adaptado.”
O agricultor explica que a transição agroecológica deve começar pelo cuidado com o solo. Ele utiliza a roçadeira e a enxada em vez de utilizar venenos químicos, os chamados agrotóxicos, para limpar o terreno.
“Quando eu comecei com horta e antes disso, já tinha alguns elementos da agroecologia. Fazia adubação orgânica, já não usava capina química e a minha base de adubação de cobertura era urina de vaca. A fonte de partida é o solo. Você trabalha no solo, cuida do solo e aí a planta é uma consequência”, explica o agricultor.
Altamiro afirma que a rotatividade com as hortaliças é fundamental para se ter uma boa produção e destaca a dificuldade de conseguir sementes orgânicas. “A questão das sementes, mas aí não é um problema meu, é um problema de todo produtor orgânico que não tem sementes. Sementes orgânicas não têm no mercado pra vender e, quando tem, é muito pouca, inclusive, muito pouca variedade. Então, é até por isso que lei ainda não…a lei permite você usar sementes não-orgânicas para produção orgânica.”
As hortaliças do Altamiro são produzidas em uma área de 3 mil metros quadrados e toda a produção vai para a cidade de Goiás, onde é comercializada por ele, em feiras livres e em pequenos estabelecimentos comerciais, conhecidos como verdurões. Ele nos conta sobre a produtividade semanal no assentamento:
“Dentro da minha capacidade de produção normal, 150 palitos de alface, 100 pacotes de couve e uns 100 pacote de rúcula mais uns 200 de cheiro verde.”
O faturamento semanal do agricultor está em mil e duzentos reais e, segundo ele, é uma boa quantia para o sustento da família. “A minha propriedade gira em torno de mil a mil e duzentos reais, semanalmente. eu gasto, para o custo da produção, com mão de obra, a energia e o transporte, aproximadamente. E alguns outros custos, aproximadamente, 500 reais, então sobra, semanalmente, aproximadamente, 700 reais.”
Após 4 anos, a transição agroecológica é uma realidade para o Altamiro. “A partir de janeiro de 2017 que eu falei ‘eu sou um produtor agroecológico.’ Porque eu já tinha fechado meu ciclo. Não usava mais, não comprava nenhum tipo de trem pra fazer caldas e não comprava mais nenhuma coisa pra produzir adubos. Produzia meu adubo aqui, fazia minhas calda aqui e produzo minha muda. Então, meu ciclo tá fechado.”
A Escola Diocesana de Agroecologia – uma iniciativa da Comissão Pastoral da Terra – realiza um importante trabalho de formação técnica e articulação institucional na região do município de Goiás.
Por meio de parcerias institucionais a escola da CPT articulou e ofereceu cursos com a Universidade Estadual de Goiás (UEG), o Instituto Federal de Goiás (IFG) e com a Universidade Federal de Goiás (UFG).
O resultado destas parcerias são inúmeros cursos realizados, como: o primeiro curso de Licenciatura em Direito para Assentados da Reforma Agrária, oferecido pela a UFG.
Brasil de Fato