Médica critica alarmismo criado por novembro azul: “homem não é só a próstata dele”
“Quando a gente tem campanhas como o novembro azul a gente reduz, o homem só têm que procurar a unidade de saúde em novembro para fazer exame de próstata. Não se discute em relação a outras questões de saúde do homem, o homem não é só a próstata dele, ele é muito mais do que isso”. Essa é a opinião da médica da família Natália Madureira Ferreira, que é membro da Rede de Médicos e Médicas Populares.
A visão dela é corroborada pelo United States Preventive Services Task Force, que é uma entidade voltada para a formulação de políticas de saúde e medidas preventivas nos Estados Unidos. Desde 2012, a entidade contraindica práticas como a o rastreio de câncer de próstata e a realização do PSA, que é o exame de sangue para detectar câncer de próstata com prova de toque, como ressalta Madureira:
“E aí o que se percebeu nos estudos, principalmente os estudos liderados pela U.S. Preventive Service Task Force (USPSTF) e pelo Canadá é de que você causa mais malefício do que benefício fazendo o PSA com método de rastreio. Tanto o PSA, com exame de toque, como rastreio ele não é indicado. Inclusive não se indica fazer campanhas como o novembro azul”, comenta.
atália Madureira aponta que a hipertensão é uma doença muito mais frequente na maioria dos homens do que o câncer de próstata, mas não recebe a mesma atenção: “Acomete muito mais homens hipertensão do que câncer de próstata. Mas os homens não procuram o médico para resolver questões relacionadas à hipertensão”.
A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade está entre as entidades que já se posicionou contra o rastreio de câncer de próstata. Em um comunicado publicado em 2015, a organização alertou para os riscos de realização desnecessária de exames como o de biópsia de próstata. A entidade ressaltou que se trata de um procedimento que pode provocar sangramentos, febre, infecção prostática e retenção urinária.
Natália Madureira explica que o exame PSA também é bastante sensível e pouco específico, dando margem para o que é conhecido como “falso positivo”:
“Do mesmo jeito que tem o falso negativo, que é quando a pessoa tem a doença e o resultado do exame vem negativo, também tem o falso positivo. Geralmente acontece com exames que têm grande sensibilidade, mas pouca especificidade. Ele é um exame bastante sensível, mas pouco específico, então ele vem positivo para várias coisas”.
A médica aconselha que o exame seja realizado apenas em casos em que os pacientes apresentem sintomas de câncer de próstata. Ela também destaca o fato de que os homens devem fazer acompanhamento médico durante todo o ano e não apenas no mês de novembro.
“O sintoma mais comuns é o jato partido: quando ele vai tentar fazer xixi e é como se ele fosse fazendo de pouquinho em pouquinho, fica picado. Ele pode ter uma dificuldade para iniciar a micção, então ele vai ter que fazer muita força pra começar a fazer xixi. Uma outra coisa, ele pode ter alguma dificuldade durante a ejaculação e às vezes dói e às vezes dá aquela sensação de que a ejaculação tá difícil”, comenta a médica.
A campanha de incentivo à realização do exame de próstata teve início no Brasil em 2008 e, em 2012, recebeu o nome de novembro azul. Entre os apoiadores da ação estão diversas empresas e laboratórios farmacêuticos.
Confira os apoiadores:
Brasil de Fato